Afinal, quem é esse Jesus de Nazaré?
O “verdadeiro Jesus” não é aquele que cada um se constrói, conforme suas conveniências, sentimentos ou preconceitos,
Da CNBB
Com o Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Santa, o momento mais denso da Liturgia da Igreja, que culmina com o sagrado Tríduo Pascal de paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. São dias de intensa oração, de práticas de religiosidade e de participação nas celebrações da Igreja.
Acompanhamos a última semana da vida terrena de Jesus: sua entrada triunfal em Jerusalém, a última ceia com os amigos apóstolos, a trama da traição de Judas e da prisão no Horto das Oliveiras; a farsa do julgamento perante as autoridades religiosas e civis; a condenação injusta, a crucificação, morte na cruz e sepultura; o túmulo vazio e os encontros do Ressuscitado com os discípulos.
Todos esses “passos da paixão” têm grande densidade de significados e convém lermos em nossas casas, com toda a calma, os trechos dos Evangelhos referentes à paixão de Cristo. A própria Liturgia da Igreja o faz no Domingo de Ramos e na Sexta-Feira Santa. Mas também seria bom ler algum livro de explicação da Escritura, ou de teologia, sobre a paixão de Cristo. Talvez gostamos de ver algum filme ou peça teatral, ou lemos algum livro sobre Jesus; isso não é mal, mas é preciso distinguir, pois aí as interpretações geralmente são livres e mesmo fantasiosas, não sendo fiéis aos relatos da Escritura. Nada substitui a leitura dos textos do Novo Testamento, que trazem as primeiras interpretações e testemunhos, que dão a base para a fé da Igreja.
Não nos contentemos com qualquer imagem de Jesus Cristo, nem com aquelas que só prometem milagres e não pedem a conversão do coração, ou escondem o caminho da cruz; e são tantas as imagens distorcidas e fantasiadas sobre Jesus, ao longo da História e também hoje. A Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus Cristo, sofreu muito no seu início para afirmar e preservar a imagem fidedigna de Jesus Cristo e para transmiti-la, de modo fiel, através dos séculos; nunca assumiu interpretações discordantes com o testemunho dos apóstolos, aqueles que “viram” Jesus, estiveram com ele e o encontraram depois de sua morte e ressurreição - “não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (At 4,20).
As celebrações da Semana Santa e da Páscoa suscitam algumas perguntas, para as quais devemos buscar respostas sinceras: afinal, quem é Jesus Cristo? Quais foram seus ensinamentos? Por quê foi condenado à morte de cruz? O que dizem os testemunhos do Novo Testamento sobre os fatos recordados na celebração da Páscoa? Que significado têm sua vida, paixão e morte para a humanidade e para cada um de nós? Qual é minha relação pessoal com Jesus Cristo?
Recentemente, foi publicada a tradução portuguesa da 2ª. parte do livro do papa Bento XVI – Jesus de Nazaré – que se ocupa, justamente, da entrada de Jesus em Jerusalém até à ressurreição. Seria ótimo ler esse livro no tempo pascal. Uma das preocupações do Papa é a de proporcionar aos leitores o acesso ao “verdadeiro Jesus” e o encontro com ele, como nos é dado a conhecer pela Escritura e pela fé da Igreja.
É isso mesmo: o “verdadeiro Jesus” não é aquele que cada um se constrói, conforme suas conveniências, sentimentos ou preconceitos, mas aquele que nos é dado a conhecer por aqueles que estiveram com ele e deixaram isso relatado no Novo Testamento; e também pela fé da comunidade dos fiéis, na Igreja, que persevera “no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (cf At 2,42); ali, o próprio Ressuscitado continua presente e se manifesta aos seus, como fez após a ressurreição.
Card. Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo - SP
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