10 anos de graças


Dom Redovino Rizzardo
Para Deus e para a Igreja, os eventos e as obras só produzem frutos se é o amor que os motiva e sustenta. Para Deus e para a Igreja, os eventos e as obras só produzem frutos se é o amor que os motiva e sustenta.

Quando comecei a pensar no significado dos meus dez anos de serviço à Igreja como bispo de Dourados (2001/2011), a palavra de Deus que brotou espontânea do meu coração foi a mesma que inflamava o profeta Isaías: «O ouvido jamais ouviu e o olho jamais viu que um Deus, além de ti, tenha feito tanto por aqueles que nele confiam!» (Is 64,3).

Mas, o que me leva a agradecer não são somente os eventos e as obras com que Deus enriqueceu a Igreja diocesana nesse período: a criação de onze paróquias; a chegada de 15 congregações religiosas e comunidades de vida; a implantação das Rádios “Coração”, “Imaculada Conceição” e “Boa Nova” (em Itaporã, Dourados e Iguatemi); as Santas Missões Populares; o Jubileu de Ouro da Diocese; a ordenação de sete padres religiosos, 16 padres diocesanos e 13 diáconos permanentes; a Expo-Católica; o jornal diocesano “Elo”; as pequenas comunidades; e, por fim, os 230.000 quilômetros percorridos para celebrar 35.000 crismas e visitar as 49 paróquias da Diocese.

Para Deus e para a Igreja, os eventos e as obras só produzem frutos se é o amor que os motiva e sustenta. Caso contrário, vale inclusive para os bispos, a advertência de São Paulo: «Se não tenho amor, sou como um bronze que soa ou como um sino que bate» (1Cor 13,1). Foi o que me ensinaram inúmeras pessoas, que descobriram na caridade a alavanca capaz de erguer o mundo. Uma delas, doente de câncer, unia sua dor à de Jesus na cruz, e exclamava: «É o Reino de Deus que avança!»

No dia 25 de março de 2001, no final da ordenação episcopal, eu me dirigi ao público presente com estas palavras: «Sinto-me na obrigação de agradecer. Em primeiro lugar, a Deus, que vocês me ajudaram a perceber presente nesta belíssima celebração; a Deus, que sempre me demonstrou um amor todo particular, tanto que, muitas vezes, me senti – como diz o Evangelho falando de João – o “discípulo que Jesus amava”; a Deus, que me escolheu e continua me envolvendo com um amor preferencial e gratuito, atraído pelo que é fraco e pequeno, para preenchê-lo com seu poder e sua riqueza.

Como diz o salmo: “Um abismo atrai outro abismo”: o abismo do amor infinito de Deus é atraído pelo abismo de nossa fraqueza e de nossa pequenez. Vejo-me retratado nos dois filhos de que fala o Evangelho de hoje: quando me sinto esmagado por minhas infidelidades, Deus me acolhe, me abraça e me perdoa; e quando me encontro chateado, distante de Deus e dos irmãos, percebo que Deus me dirige as mesmas palavras que o Pai misericordioso dirigiu ao filho mais velho: “Tu estás sempre comigo. Tudo o que é meu, é teu”».

Não posso negar: no momento, eu não passava de um neófito ingênuo, que teimava em não acreditar nas palavras do Núncio Apostólico de então, Dom Alfio Rapisarda. Dois meses e meio antes, no dia 16 de dezembro de 2000, ele me chamara ao telefone para me dizer que o Papa João Paulo II me escolhera para bispo de Dourados. Ante a minha resposta positiva, ele não cansava de me agradecer. Eu não compreendia o porquê...

“Quando a promessa é muita, o santo desconfia!” Comecei a entender os agradecimentos do Núncio alguns anos mais tarde, quando passei por tais dificuldades que, por duas ou três vezes, fui tentado a renunciar ao cargo... Apesar de tudo, as graças de Deus e a amizade de uma multidão de irmãos e irmãs foram infinitamente superiores às dificuldades.

É por isso que considero o serviço episcopal na Diocese de Dourados como a maior realização de minha vida. Já que o artigo é uma “memória” dos dez anos de ordenação episcopal, finalizo com mais uma citação da homilia que proferi naquela ocasião: «A última palavra quero reservá-la ao lema que via nortear o meu novo serviço pastoral. As palavras que inseri em meu brasão episcopal se referem a Nossa Senhora: “Unânimes com Maria”. O meu mais ardente desejo é reviver a comunhão que se respirava na Igreja primitiva, quando, atraído pela oração e pela concórdia dos fieis reunidos em torno de Maria, o fogo do Espírito desceu e começou a ser alastrar pelo mundo inteiro, graças a pessoas dispostas a “morrer para congregar na unidade os filhos de Deus dispersos”».

Dom Redovino Rizzardo, cs


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