A genealogia dos bispos: sucessores de quem?
Os leitores que ainda agradecem a Deus pela memória que os enriquecem, lembram que, em 2007, escrevi um artigo onde eu tentava responder à pergunta: “Se os bispos têm como antecessores os apóstolos, de qual deles sou sucessor?”.
Agora, depois de dez anos de episcopado, resolvi voltar ao assunto. Como se sabe, para a Igreja Católica, a genealogia dos bispos tem suas raízes nos doze apóstolos. Alguém só é bispo se foi ordenado por um sucessor deles. Aqui está a grande diferença da multidão de pessoas que, sobretudo ultimamente, se autodenominam bispos. Escolhidos por seus fiéis ou companheiros, pipocam em toda a parte, sem se importarem se têm respaldo na tradição apostólica.
No início de 2001, logo após se haver espalhado a notícia de minha nomeação episcopal feita pelo Papa João Paulo II, um estudioso de história, residente nos Estados Unidos, se deu ao luxo de pesquisar a minha genealogia eclesial. E conseguiu fazê-la até o ano de 1541. Foi assim que, entre os meus antepassados, descobri alguns que se destacaram um pouco mais...
O primeiro deles é o Papa Bento XIII. Seu nome de batismo é Pietro Francesco Orsini. Nasceu em Gravina, na Itália, no dia 2 de fevereiro de 1649. Governou a Igreja durante seis anos, de 29 de maio de 1724 a 21 de fevereiro de 1730, quando faleceu. Professor e orador famoso, tornou-se mais célebre ainda como arcebispo de Benevento, por seu heroísmo em socorrer os habitantes da cidade, sacudida por dois terremotos. Celebrou o Ano Santo de 1725. A quem lhe observava que os seus 80 anos não lhe permitiam a fadiga das prolongadas funções, respondia que um Papa deve morrer com os paramentos aos ombros...
O segundo é Bento XIV, considerado um dos papas mais eruditos que ocuparam o Trono de Pedro. Por alguns estudiosos, é visto até mesmo como um precursor da parapsicologia. Seu nome de batismo é Próspero Lourenço Lambertini. Nasceu em Bolonha, no dia 31 de março de 1675, e faleceu em Roma, a 3 de maio de 1758. Foi eleito papa no dia 17 de agosto de 1740, com todos os votos dos cardeais presentes (50 sobre 51). Em 1745, fundou, no Brasil, os bispados de São Paulo e Mariana, e proibiu, sob pena de excomunhão, a escravatura.
Seu sucessor foi o Papa Clemente XIII. Sob o nome de Carlos Rezzonico, nasceu em Veneza, a 7 de março de 1693, e faleceu em Roma, no dia 2 de fevereiro de 1769. Foi eleito papa no dia 6 de julho de 1758. Socorreu o povo na carestia de 1764, prestando ajuda a 14.000 pessoas. Obrigou os latifundiários dos Estados Pontifícios a cultivarem as próprias terras. Durante o seu pontificado, cresceu a perseguição contra a Igreja, desencadeada pelo Iluminismo e, principalmente, contra os Jesuítas, promovida por governos anticlericais.
Infelizmente, entre os meus predecessores, encontrei apenas um santo (pelo menos canonizado pela Igreja): Eugênio Mazenod, bispo de Marselha, na França. Nascido em Aix-en-Provance, no sul da França, no dia 1º de agosto de 1782, era de família nobre e rica. Sua infância foi tranqüila até o ano de 1790, quando a família, para fugir da Revolução Francesa, se refugiou na Itália, onde permaneceu por onze anos. Infelizmente, nesse período, seus pais acabaram se separando. A mãe deixou o menino aos cuidados do pai e voltou para a França.
Em 1802, aos 20 anos, ele também regressou à pátria, depois de passar por uma intensa experiência religiosa na cidade de Veneza. Sentindo-se chamado à vida eclesiástica, em 1808 entrou no Seminário de São Sulpício, em Paris. Três anos depois, era sacerdote. Dentre os principais destinatários de sua missão, estavam os agricultores, os presos e os doentes. Levados por seu ardor, outros padres se juntaram a ele, nascendo, assim, em 1816, a Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada.
No dia 14 de outubro de 1832, em Roma, o Pe. Eugênio foi sagrado bispo de Marselha, cargo que exerceu durante vinte e nove anos. Foram inúmeras as dificuldades que precisou enfrentar com as autoridades civis e até com alguns membros do clero, que se opunham às medidas tomadas por ele visando a renovação da Igreja. Faleceu no dia 21 de maio de 1861. Foram tantas e tão numerosas as graças atribuídas à sua intercessão, que o Papa João Paulo II o incluiu no álbum dos santos, em 1995.
Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo Diocesano
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