A juventude, caos ou esperança?
Mas não é de santos de altar que pretendo falar hoje. O que quero é apresentar a figura de um jovem normal
Da Diocese de Dourados
No dia 1º de janeiro deste ano, a polícia militar de uma cidade do Mato Grosso do Sul foi chamada para pôr ordem na bagunça fomentada por um grupo de jovens na praça central. Um deles passou a ofender os policiais com palavras de baixo calão: «Você sabe com quem está falando? Meu pai é autoridade, e eu o mando matar, seu policinha passa-fome! A comida que você come somos nós que pagamos, seu vagabundo!».
No final do mesmo mês, num “espaço de eventos” de outra cidade do mesmo Estado, locado para uma festa “open bar” (bebida gratuita), foi morto a tiros um jovem de 19 anos. O que mais me entristeceu ao me deparar com as fotos publicadas pela imprensa, foi constatar que uma multidão de jovens conversava e ria ao redor do cadáver, como se o assassinato nada tivesse a ver com a festa...
Evidentemente, nem todos os jovens agem assim. Há muitos que não se contentam com o que o mundo lhes oferece, e dão um exemplo de maturidade que muitos idosos não conseguem nem aos 80 anos! É o caso de Chiara Badano, morta de câncer aos 18 anos, e beatificada em Roma, no dia 25 de setembro de 2010.
Mas não é de santos de altar que pretendo falar hoje. O que quero é apresentar a figura de um jovem normal, que estuda, trabalha e se diverte como qualquer outro, mas que, em dado momento, fez um passo tão decisivo, que imprimiu uma guinada em sua vida. Refiro-me a Ryan Hreljac, nascido há 20 anos, em 1991, no Canadá.
Certo dia, quando completava oito anos, sua professora falou da desnutrição que atinge a maior parte das crianças africanas, levando milhares delas a morrer de fome e sede. Os alunos escutaram comovidos sobre a escassez de água que castigava a metade dos países da África, quando a eles bastava dar alguns passos para que o precioso líquido saísse abundante da torneira durante todo o tempo que quisessem. Ryan logo pensou em fazer algo pelas crianças africanas. Perguntou à professora em quanto ficariam os custos para levar água até elas. Soube, então, que a organização “WaterCan” se dedicava ao assunto e que, na opinião da professora, cada poço custaria em torno de 70 dólares...
Chegando em casa, Ryan correu ao encontro da mãe e lhe disse que precisava de 70 dólares para pagar as despesas de perfuração de um poço para as crianças africanas. A mãe, porém, respondeu que nada lhe daria de graça. Se ele quisesse ajudar essas crianças, deveria conseguir o dinheiro fazendo algumas tarefas a mais em casa – compromisso que Ryan prontamente aceitou.
Depois de um mês de trabalho, ele reuniu os 70 dólares e pediu que a mãe o acompanhasse à sede da “WaterCan” para pagar o “seu” poço. Qual não foi a sua tristeza, porém, ao saber que o custo real da perfuração era de 2000 dólares! A mãe lhe disse que jamais lhe poderia dar essa quantia, mesmo que limpasse cristais a vida inteira...
Ryan não se rendeu. Contagiados por seu entusiasmo, os familiares, vizinhos e amigos deram-se as mãos e, em poucos meses, conseguiram os 2000 dólares. O poço de Ryan foi perfurado em janeiro de 1999, numa localidade do norte de Uganda. A partir daí, apesar de ter apenas nove anos, o menino não parou mais e passou a viajar por dezenas de países em busca de auxílios.
Até agora, Ryan – que completa 20 anos em 2011 – conseguiu financiar em torno de 400 poços. Junto com a água, o jovem colabora também com a educação dos nativos, graças às doações que consegue em toda a parte. No momento, cursa uma faculdade que fará dele um engenheiro hidráulico, para melhor levar adiante a missão que abraçou.
O mundo, como lembra uma das “Canções da Mariápolis”, não é formado apenas por malandros e corruptos, mas «existe outra humanidade, que não grita, não explora sua gente para tirar proveito; não sabe roubar para ter, mas ganha o pão com o seu suor. Creio nesta humanidade, que vive no silêncio, que é humilde, se desculpa e se faz criança.
Esta é a humanidade que me dá esperança. Que vai contracorrente, que dá a vida e morre pela própria gente. Que não busca seu lugar ao sol, pois sabe que no mundo, por miséria e fome, muita gente morre. Creio nesta humanidade, que abate as fronteiras, que arrisca a própria vida e não usa armas, mas o seu coração. Esta é a humanidade que crê no amor»
Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados
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