'As culpas da Igreja!'

Fala-se que o time de futebol pelo qual torço nas horas vagas, é campeão de tudo! Para algumas pessoas, a mesma coisa vale para a Igreja: é culpada de tudo!

Dom Redovino Rizzardo

Nos primeiros dias de fevereiro de 2011, duas notícias muito semelhantes chocaram a população de dois Estados irmãos: o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. Em Cuiabá, um religioso foi preso ao sair de um motel com uma adolescente de 16 anos; e, em Campo Grande, um professor foi acusado de estuprar um aluno de 11 anos.

Muito semelhantes até na idade dos autores: ambos têm 45 anos. Contudo, muito diferentes quanto ao destaque dado pela imprensa.

Em Cuiabá, o padre teve divulgados não apenas o nome e o endereço residencial, mas todo o currículo de vida, desde a data da ordenação sacerdotal. E isso não obstante o fato da jovem estar na idade em que muitas colegas já casaram e afirmar que nunca se sentiu forçada a nada pelo sacerdote.

Pelo contrário, em Campo Grande, nada disso aconteceu, apesar do estupro estar acontecendo desde o mês de setembro de 2010, e o garoto relatar que era ameaçado pelo professor com revólver e faca. Somente em meados do fevereiro alguns meios de comunicação se atreveram a informar as iniciais do nome e sobrenome do professor...

No dia 14 de março, a Polícia Militar de Ponta Porã prendeu um homem de 37 anos levando para o motel duas adolescentes, uma de 16 anos e outra de 14. Foi preso, mas não teve o nome revelado.

Com a Igreja, porém, até mesmo por crimes que ocorrem por não ser escutada, ela é culpada. É o que atesta outro fato acontecido em Dourados. Na tarde do dia 11 de março, foi encontrado, à beira de uma rodovia, o corpo de uma menina de sete meses, em adiantado estado de decomposição, em meio a insetos e sujeira.

Um pai, que passava pelo local, assim descreveu a cena num site da cidade: «Ontem, quando voltava do trabalho, me deparei com a equipe da policia civil próximo à rotatória do Hospital Universitário. Curioso que sou, parei e vi uma criança jogada no mato, cheia de moscas. Era uma cena forte! Naquele momento, várias coisas me passaram pela cabeça: “Terá sido jogada ali ainda viva? Quem seria a mãe? E o pai? O que leva alguém a praticar tamanha aberração?”. Como não havia nada que eu pudesse fazer, segui para casa.

Ao chegar, como sempre, fui recepcionado pelo meu filho de sete anos com um imenso sorriso e me chamando para brincar. E, mais uma vez, tive a certeza de como é bom ser pai!». Contudo, o que mais me espantou – além do infanticídio – foi a explicação “descoberta” por uma douradense: «Enquanto isso, dentro de seus palácios (igrejas), continuam as pregações para que não usem camisinha, não usem preservativo, não usem métodos contraceptivos! Bando de egoístas, que não precisam trabalhar um dia na vida para se sustentar e não enxergam a verdadeira realidade da sociedade!».

Graças a Deus, há ainda pessoas que conseguem distinguir as coisas, como demonstrou uma senhora no mesmo site: «Então, a culpa é da Igreja? Pelo amor de Deus! Pelo jeito, quem não tem um mínimo de consciência não é só a mãe desse feto, mas também quem conseguiu dizer tamanha barbaridade em tão poucas palavras! Um fato desses revela a falta de Deus nessa mãe, porque, se ela seguisse a Igreja, com certeza acolheria a criança com muito amor».

Outro cristão também quis deixar o seu recado: «Interessante é constatar a revolta contra a Igreja, como se fatos como este fossem ligados à proibição do uso da camisinha. O que a Igreja prega é o sexo entre marido e mulher, como forma de celebração matrimonial, com finalidade reprodutiva e afetuosa entre os esposos. A culpa de fatos semelhantes não está no não-uso de camisinha, mas na prática indiscriminada do sexo, na "liberdade" de escolha, esquecendo que cada escolha tem conseqüências».

De minha parte, não me atrevo a condenar a douradense furiosa contra a Igreja. Talvez seja uma estudante de história, que aprendeu de Voltaire a olhar para ela como a grande “Infame” da humanidade. Ou, então, uma pessoa que ainda não se sentiu amada e acolhida por quem deveria fazê-lo. Ou, por fim, alguém que, por não ter amadurecido, prefere jogar pedras no telhado do vizinho, para que ninguém perceba que o de sua casa é de vidro... Fala-se que o time de futebol pelo qual torço nas horas vagas, é campeão de tudo! Para algumas pessoas, a mesma coisa vale para a Igreja: é culpada de tudo!

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados


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