Um exemplo a (não) ser seguido...

Sempre há uma esperança para quem conta com Deus e... com a própria boa vontade

Dinheiro que se ganha fácil, também se gasta fácil! Quem enriquece de uma hora para outra – pior ainda se for por meios ilícitos – cedo ou tarde compreenderá que o dinheiro, mais do que a felicidade, o que traz é o medo, a insegurança e a violência.

É o que acontece com dezenas de jogadores de futebol, alguns deles de renome internacional. Um exemplo concreto é Luís Antônio Corrêa da Costa, mais conhecido como Müller. Jogando no “São Paulo”, foi campeão brasileiro em 1986 e em 1991, bicampeão da “Libertadores” e do “Mundial Interclubes” em 1992 e 1993. Ainda pelo “São Paulo”, foi campeão paulista em 1985, 1987, 1991 e 1992. Pela seleção brasileira, disputou três “Copas do Mundo”: no México, em 1986, na Itália, em 1990 e nos Estados Unidos, em 1994.

Apesar da arte, da técnica e da inteligência que o tornaram um dos grandes ídolos do futebol brasileiro, em poucos anos Müller perdeu tudo o que acumulou e hoje vive um momento particularmente sofrido e dramático. Morando de favor em casa de um colega de seus tempos felizes, o ex-atacante admite que tudo o que ganhou, gastou com mulheres e em festas. Sua situação ficou tão ruim, que chegou a vender até mesmo a igreja da qual se tornara pastor, numa tentativa de conversão.

Em maio deste ano, em entrevista que concedeu a alguns órgãos da imprensa brasileira, Müller revelou seu drama e se apresentou como “um exemplo a não ser seguido”: «Errei muito na vida. Tive bons momentos financeiros, mas fiz muita bobagem. Gastei tudo com besteira: mulheres, carros, vaidades pessoais, amigos de ocasião. Por ser uma pessoa generosa, muita gente se aproveitou de mim».

Indagado se tinha algum bem material, respondeu: «Comprei vários imóveis ao longo da minha vida. Mas fui perdendo, perdendo, perdendo... Nem sei calcular quanto perdi. Joguei fora o que construí ao longo de 20 anos. Hoje não tenho nada: nem carro (tive mais de 20) nem plano de saúde».

Contudo, apesar de tantas perdas – ou, talvez, graças a elas, já que, em geral, se aprende mais dos erros do que dos acertos – sempre há uma esperança para quem conta com Deus e... com a própria boa vontade. É o que também Müller procura fazer: «Posso dizer que não sou exemplo para ninguém. Espero que os jovens que estão começando, não repitam os meus erros. O que agora eu quero é que Deus me dê força para recomeçar do zero. E ele está dando. Tenho caráter, e isso não tem preço. Deus me concede a alegria de possuir o básico de que preciso: casa, roupa e comida. Tenho o que se requer para viver. Não sinto saudade do futebol, nem da vida de rico que levei. Agora, tudo passou!».

Se a vida começa aos 40, então Müller tem razão: sempre é possível iniciar e aprender. Nascido em Campo Grande no dia 31 de janeiro de 1966, é ainda jovem e, querendo, pode mudar tanto a sua vida, que se tornará, diferentemente do que falou, um “exemplo a ser seguido”. Para quem é iluminado pelo Espírito Santo, porém, não é necessário esperar tanto tempo, nem dar muitas cabeçadas, para aprender. Os nossos “pais na fé” descobriram o caminho a seguir desde o Antigo Testamento. Folheando superficialmente o livro dos “Provérbios”, encontrei passagens altamente significativas. Eis algumas delas.

Primeiramente, jamais se deve esquecer que, «quem confia nas riquezas», cedo ou tarde «murchará» (11,28). Outra coisa: cuidado com a decepção em que caem os que acumulam bens: «A riqueza multiplica os amigos, mas quem empobrece é abandonado por todos» (19,4). Eis, então, o conselho que brota da sabedoria: «Não te afanes em adquirir riquezas, nem gastes a tua inteligência com isso, pois basta um olhar e ela desaparece; baterá asas como águia e voará pelo céu» (23,4-5. Por isso, a oração a ser feita só pode ser esta: «Duas coisas, eu te peço, ó meu Deus! Afasta de mim a falsidade e a mentira! Não me dês riqueza nem pobreza! Concede-me apenas o meu pedaço de pão, para que, saciado, eu não te renegue, dizendo: “Quem é Deus?”. Ou, então, reduzido à miséria, eu comece a roubar e a profanar o teu nome!» (30, 7-9).

Para Jesus, a única “lavagem de dinheiro” correta é empregá-lo no serviço aos necessitados: «Fazei-vos amigos com o dinheiro sujo, para que, quando acabar, eles vos recebam nas moradas eternas» (Lc 16,9).

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados



(1) Comentário

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Querido Dom Redovino, parabens, um dos melhores artigos que ja escreveu, todos são ótimos, mas este nos faz um grande alerta.Obrigada por nos ajudar tanto através de seus artigos, sem dúvida me ajuda na minha conversão.

 
ozair em 26 de agosto de 2011 às 12:40