É proibido ser cristão
Da Diocese de Dourados
Dentre as profecias de Jesus que se mantêm atuais, uma delas continua criando mártires em inúmeros países: «Todos vos odiarão por causa do meu nome» (Lc 21,17). Na verdade, por sua própria natureza, a exemplo de Jesus, o cristão será sempre “sinal de contradição” (Lc 2,34) para quantos se sentem inseguros ou condenados por seu testemunho de vida.
A perseguição aos cristãos não é coisa de um passado distante, próprio de pessoas e povos que fazem da guerra o seu passatempo preferido. Ela acontece em pleno século XXI e em vários países, dominados pelo fundamentalismo religioso e cultural, incapaz de conviver com o diferente. Tudo indica que a Inquisição e as Cruzadas – tão difamadas por alguns historiadores – estão mais vivas e atuantes do que nunca. Com uma diferença: elas passaram das mãos dos cristãos para outros segmentos da sociedade, que recorrem a métodos e técnicas oferecidos pela modernidade para apagar o nome cristão da face da terra.
A perseguição não se refere apenas aos frequentes assassinatos de cristãos em países dominados por radicais hinduístas e islâmicos, mas até mesmo – pelo menos em relação a padres e religiosos – em alguns que antigamente passavam por católicos, como o Brasil e a Colômbia.
O “Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo”, apresentado no final de novembro de 2010, assevera que o número de cristãos discriminados ou perseguidos por causa de sua crença, ultrapassa os 300 milhões. Os países onde se registram as maiores violações à liberdade religiosa são a Arábia Saudita, o Bangladesh, o Egito, a Índia, a China, o Uzbequistão, a Eritreia, a Nigéria, o Vietnã, o Iêmen e a Coreia do Norte.
Contudo, de uns anos para cá, a oposição ao cristianismo cresceu em toda a parte. Entre as pessoas que se pronunciaram a respeito ultimamente, está Dom Velásio De Paolis – elevado ao cardinalato pelo Papa Bento XVI no mês de novembro de 2010 –, em palestra proferida no dia 30 de julho de 2010, sob o título “A Igreja em posições de fronteira: Islã, Oriente e Ocidente secularizado”.
Formado num Instituto religioso fundado por João Batista Scalabrini, para quem «a época dos mártires foi a época de ouro da Igreja», ele começou a sua palestra lembrando um dos paradoxos do cristianismo: ele se purifica e cresce em maturidade na medida em que não recusa passar pela cruz: «Em sua longa história, a Igreja alcançou mais vitórias ao gerir suas dificuldades do que ao administrar seus triunfos».
Em seguida, referindo-se ao ambiente cada vez mais pagão que se alastra em quase todos os países, prosseguiu: «O que hoje se vê é a tendência da sociedade a relegar a voz dos católicos à esfera privada, incutindo neles o medo de participar da vida pública. Para o mundo secularizado, o homem não é imagem de Deus, mas um animal como qualquer outro».
Essa é também a opinião de Bento XVI expressa em inúmeras ocasiões. Em setembro de 2010, por ocasião da beatificação de John Newman, referindo-se aos países do Ocidente, ele declarou: «Na atualidade, o preço a pagar pela fidelidade ao Evangelho não é o enforcamento ou o esquartejamento, mas, mais frequentemente, a zombaria e a marginalização».
No dia 25 de dezembro de 2010, na mensagem de Natal ao mundo, o Papa pediu que «o amor do “Deus-conosco” dê perseverança a todas as comunidades cristãs que sofrem discriminação e perseguição, e inspire os líderes políticos e religiosos a se empenharem pelo respeito pleno da liberdade religiosa de todos». No dia seguinte – domingo da Sagrada Família – lamentou: «Com grande tristeza, soube do atentado contra uma igreja católica nas Filipinas, enquanto se celebrava a missa do Natal, bem como do ataque contra igrejas cristãs na Nigéria. Mais uma vez, a terra se manchou de sangue».
Uma semana depois, no dia 1º de janeiro, após o atentado contra uma igreja no Egito, que vitimou 21 cristãos, declarou: «Ante a força negativa do egoísmo e da violência e, em particular, ante os abusos e a intolerância religiosa que golpeiam os cristãos, a humanidade não pode se resignar ou se habituar a conflitos que põem em risco o futuro dos povos».
Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados
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