Igreja Católica, pedra de tropeço ou tábua de salvação?


Da Diocese de Dourados

Quem acompanha de perto a caminhada da Igreja certamente não terá ficado indiferente ante a notícia publicada no dia 8 de novembro: cinco bispos da Igreja Anglicana da Inglaterra tomaram a decisão de viver a fé cristã dentro da Igreja Católica.

Num comunicado à imprensa, Andrew Burnham, Keith Newton, John Broadhurst, Edwin Barnes e David Silk explicaram as razões que os levaram a esse passo: «Para nós, foi motivo de preocupação verificar, nos últimos trinta anos, que anglicanos e católicos se distanciavam cada vez mais em questões de fé e disciplina. Foram assumidas posições que, segundo o que acreditamos, são incompatíveis com a vocação histórica do anglicanismo e a tradição de dois mil anos da Igreja».

O que facilitou a "conversão" foi a publicação, no dia 4 de novembro de 2009, da Constituição Apostólica "Anglicanorum Coetibus", permitindo aos anglicanos que buscam a unidade com Roma, a manutenção de sua tradição litúrgica e espiritual: «Com as novas estruturas canônicas, poderemos levar adiante nossa experiência de discipulado cristão em plena comunhão com a Igreja Católica. Trata-se de um novo e valioso instrumento ecumênico na busca da unidade dos cristãos, unidade pela qual Cristo orou antes de sua paixão e morte - e que acreditamos só ser possível na comunhão eucarística com o sucessor de Pedro». Os bispos agradecem à Igreja Anglicana pelo que «significou para nós e por tudo o que nos ofereceu ao longo desses anos. Desejamos manter com ela uma relação de amizade, orando e trabalhando juntos pela vinda do Reino de Deus». Como resposta, Dom Rowan Williams, arcebispo de Cantuária e primaz da Comunhão Anglicana, disse que via «com pesar as renúncias de irmãos que decidiram que seu futuro no ministério cristão passe pelas novas estruturas propostas pelo Vaticano. Contudo, desejo-lhes o que há de melhor no novo serviço eclesial, e lhes agradeço pelo fiel trabalho pastoral à Igreja da Inglaterra durante muitos anos».

Por sua vez, Dom Alan Hopes, bispo auxiliar de Westminster, em pronunciamento emitido em nome da Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales, deu-lhes «as boas-vindas, que estendemos a todos os que querem fazer parte do Ordinariado pessoal» que será criado em breve, de acordo com uma informação do Pe. Frederico Lombardi, SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé. O Ordinariado é uma estrutura eclesiástica formada por fiéis que, embora pertencendo à mesma e única Igreja Católica, mantêm ritos e tradições próprias, assim como acontece nas Igrejas Orientais, onde até mesmo o casamento do clero é permitido.

Para tomar a decisão de se unir à Igreja Católica, Dom John Broadhurst assevera que pensou durante 45 anos. Ao ser perguntado se vai exercer seu ministério na Igreja Católica, respondeu: «Farei o que o Papa quiser. Como sacerdote, tenho uma responsabilidade e, se me for permitido, continuarei a desempenhá-la».

Por coincidência, pouco depois, no dia 18 de novembro, a Fundação Getúlio Vargas divulgou uma pesquisa demonstrando que o índice de credibilidade da Igreja Católica começou a crescer novamente ante a opinião pública brasileira. De acordo com os dados coletados, ela subiu para o 2º lugar no ranking da confiança popular entre as diversas instituições existentes na sociedade. Com 54% de apoio, ela ficou atrás apenas das Forças Armadas, que gozam de 66% das preferências.

No início do ano, ela ocupava a 7ª posição, com 34% de aprovação. A título de curiosidade, eis como se situam outras instituições: Canais de TV: 44%; Governo Federal: 41%; Imprensa: 41%; Judiciário: 33%; Polícia: 33%; Congresso Nacional: 20%. O último lugar é ocupado pelos Partidos Políticos: 8%. O título do artigo pergunta: "Igreja Católica: pedra de tropeço ou tábua de salvação?" Por ser composta de pessoas falíveis e limitadas, a Igreja está sujeita a todas as vicissitudes que fazem parte da história da humanidade. Nessa perspectiva, ela contém em seu seio filhos que erram e tropeçam, e outros que a dignificam por sua sabedoria e santidade. Mas, apesar de seus pecados, ela conta sempre com a presença e o amor de Cristo, a única e verdadeira tábua de salvação: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra construirei a minha Igreja, e as forças do mal jamais a vencerão» (Mt 6,18).

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados


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