Pe. Édson, os desafios de uma utopia


Édson Nogueira Lima, uma das figuras mais representativas dentre os primeiros padres que se formaram na Diocese de Dourados e no Estado do Mato Grosso do Sul.
Da Diocese de Dourados
Dom Redovino Rizzardo, bispo da Diocese de Dourados Dom Redovino Rizzardo, bispo da Diocese de Dourados

Há um ano, na madrugada do dia 19 de dezembro de 2009, em Dourados, falecia o Pe. Édson Nogueira Lima, uma das figuras mais representativas dentre os primeiros padres que se formaram na Diocese de Dourados e no Estado do Mato Grosso do Sul. Apesar de aparentar uma idade mais avançada devido às doenças que o molestavam há vários anos, a morte o alcançou muito cedo, quando completava 45 anos, seis meses e 18 dias.

Nasceu no dia 1º de junho de 1964. Aos 27 anos, no dia 26 de dezembro de 1991, tornou-se o primeiro seminarista diocesano a receber a ordenação sacerdotal de Dom Alberto Först, com quem se sentiu sempre muito próximo. Por coincidência, foi também o primeiro sacerdote do clero de Dourados a falecer. Atuou em várias paróquias, mas onde seu trabalho pastoral mais se destacou foi na coordenação diocesana de pastoral. Nos dez anos em que levou adiante esse serviço, conseguiu imprimir na Igreja de Dourados e do Mato Grosso do Sul a dimensão social que sempre o caracterizou.

Esse foi o aspecto que mais impressionou seus amigos e admiradores, como demonstra o convite preparado pelo Comitê de Defesa Popular de Dourados para a missa de 7º dia: «Mais que um benemérito sacerdote, ele foi um grande companheiro e líder dos movimentos populares organizados em Dourados. Nessa cidade, Édson, como era conhecido por todos, ajudou a articular vários “Gritos dos Excluídos”. Era um incansável defensor dos pobres e dos direitos humanos».

De minha parte, eu não separaria dimensões que se complementam mutuamente. Se o Édson conseguiu influenciar segmentos consideráveis da sociedade douradense, era porque se serviu de sua condição de sacerdote para congregar ao seu redor homens de boa vontade que acreditavam que “um outro mundo era possível”. Mas, em parte, o Comitê tinha razão: diante da corrupção generalizada que dominava a sociedade brasileira, o Pe. Édson pensou que o caminho mais curto seria optar por uma agremiação partidária, tornando-se o conselheiro de todas as horas, a quem recorriam, nos momentos de aperto, inúmeras autoridades da cidade e do Estado. Talvez tenha sido por isso que alguém, no dia de seu funeral, se sentiu no dever de colocar sobre o seu peito, no ataúde em que jazia, o distintivo desse partido.

Evidentemente, essa sua definição sociopolítica – que, para ele, significava uma opção pelos excluídos e marginalizados – lhe trouxe inúmeras incompreensões e amarguras, tanto dentro da Igreja como na sociedade. Custava-se aceitar o que considerava um retrocesso na caminhada eclesial, depois dos avanços fomentados pela teologia da libertação. Parecia-lhe que, ultimamente, a Igreja corria o risco de se voltar mais para si mesma do que para o mundo, mais para a fidelidade às normas litúrgicas do que para os graves problemas da humanidade.

Contudo, a sua maior decepção aconteceu precisamente no campo de ação que mais valorizava: a política. Seu ideal de vida foi sempre unir fé e política. Se verdadeira, a fé deve renovar a política. Em sua ingenuidade – que seus formadores lhe apontavam desde os anos de seminário –, ele acreditava que o Brasil seria diferente se o seu partido tomasse o poder. Mas, ante a corrupção generalizada que percebia nas instituições públicas, não conseguia esconder a frustração que o abatia, apesar de manter sempre aceso um paviozinho de esperança.

Por natureza, o Pe. Édson era aberto e paciente, ecumênico e tolerante, um jeito de ser que o levava a uma grande facilidade de relacionamento com todo tipo de pessoas, inclusive com empresários e fazendeiros. Ao mesmo tempo, porém, carregava em sua carne as tensões e divisões que detectava nas pessoas que o cercavam. Nesse sentido, não se pode afirmar que o seu fim prematuro tenha acontecido por vontade explícita de Deus. O que aconteceu foi uma “morte anunciada”, provocada pela fraqueza que atinge a todos os seres humanos. Contudo, os conflitos e as peripécias da utopia que sustentou o Pe. Édson – bem como as várias doenças que o acometeram nos últimos anos –, o ajudaram a entender que a sociedade justa e solidária que buscava, começa pela conversão individual, já que a história da humanidade não é senão o reflexo do que acontece no interior de cada pessoa.

Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados


Clique aqui e Siga a Rádio Coração no Twitter

Seja o primeiro a comentar!

Restam caracteres. * Obrigatório
Digite as 2 palavras abaixo separadas por um espaço.