Narcisos na mídia
Do www.padrezezinhoscj.com
Gostar de vinho e, ao invés de usar a taça, beber do gargalo com sofreguidão; gostar do bolo e, em plena festa, por entre elogios à doceira, servir-se de cinco pedaços é ridículo. Todo mundo percebe que a pessoa é descontrolada. Quem não percebe que extrapolou perdeu a noção de si e da festa.
Acontece o mesmo no palco e no púlpito. Na festa da comunicação há pregadores das mais diversas igrejas que fazem uso da mídia com classe, leveza e moderação. Fazem como o conviva ou o anfitrião que sabe o limite: segura a taça e os talheres com elegância e não passa dos limites. Alimenta-se sem espalhafato. Depois, há os outros... Mas estes jamais admitem que passam dos limites. São narcisos de mídia e não percebem.
A tentação de Narciso, Apolo e Adonis e a de Vênus e Eco costumam mexer com algumas pessoas que não são do ramo. Supervalorizam a estética. Artistas e locutores serenos aprendem rapidamente a portar-se no palco ou diante do microfone. Sabem o que dizer e o que não dizer, como e onde se colocar. As câmeras funcionam como espelhos e os microfones como revérberos. Eles percebem imediatamente se há excessos.
Os menos preparados correm o risco de gostar demais de própria imagem e do som de sua própria voz. Não ouvem os amigos. Chegam a romper a amizade se alguém lhe diz que projetam errado sua imagem e sua mensagem. É próprio do Narciso não ter o que aprender. Aulas e curso de comunicação, para quê? Se eles têm o dom, o que mais alguém lhes poderia ensinar? Lembram o enfatuado Alberto Roberto do Chico Anísio.
A vaidade é esta irmã gêmea do orgulho que às vezes se disfarça de maneira sutil. Os outros percebem, mas o vaidoso não percebe o quanto extrapola. Lembra a moça do baile que não percebe que apareceu demais! Lembra a senhora que exagerou na dose de perfume francês. Perfume certo, dose cavalar!
O vaidoso cai no ridículo, ao não perceber o que todos percebem: ânsia de agradar e de repercutir. Na mídia é facilmente detectável o comportamento de Narciso, de e Adonis ou de Ninfa. Quando o objetivo a ser alcançado, passa a valer mais o objetivo já alcançado lá se vai a parcimônia. Peão que é peão domina a rédea. O outro corcoveia mais do que o cavalo.
Trai seu despreparo todo aquele que extrapola no uso da mídia, nas palavras, na postura, no jeito de usar os instrumentos. Três taças de vinho traem o conviva. Em pouco tempo estará sem assunto. Excesso de mídia acaba com o comunicador. Mas sei de poucos que aceitaram expor-se menos! Beberrões raramente acham que beberam muito!
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