O Brasil vai bem e o povo é feliz!


Da Diocese de Dourados

Em meados de julho, alguns órgãos de informação transmitiram uma notícia que deixou muita gente surpresa: entre 155 países pesquisados pelo Instituto Gallup, o Brasil ocupa o 12º lugar no ranking da felicidade. De acordo com o estudo, na Dinamarca reside o povo mais satisfeito do mundo e, em Togo, na África, o mais desesperado.

A pesquisa foi efetuada entre os anos de 2005 e 2009. Os entrevistados deviam dar a si mesmos uma nota – de 1 a 10 – sobre o grau de contentamento com a vida que levavam, sobretudo a partir das experiências vivenciadas ultimamente.

Segundo o levantamento, os cinco países onde o povo está mais contente se localizam na Europa, na seguinte ordem decrescente: Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia e Holanda.

O sexto lugar pertence à Nova Zelândia e a um país latino-americano: Costa Rica, a única nação da América que consegue viver em paz sem precisar de Forças Armadas. Seu grau de satisfação supera o dos Estados Unidos, que ocupam o 14º lugar, apesar de seu poderio econômico, social, cultural e militar. Infelizmente, o pior colocado da América continua sendo o Haiti.

É provável que não tenha causado nenhuma surpresa a revelação de que os últimos lugares do ranking da felicidade – mas que, a essa altura, já é da tristeza! – são ocupados por países africanos: Togo, Níger, Ruanda, Burkina Faso e Serra Leoa,

Quanto ao Brasil, nada menos de 58% da população se disse satisfeita e de bem com a vida; 40% afirmou que luta e trabalha com a esperança de alcançar a felicidade; e – pasmem os leitores! – somente 2% se declarou esmagada e vencida pelas nuvens tenebrosas de um dia sem horizonte...

Mas – já que perguntar não ofende – será verdade que 58% dos brasileiros é feliz? Julgando as coisas na superficialidade, a resposta mais imediata é afirmativa. Na opinião geral, inclusive dos estrangeiros que visitam o país, o brasileiro é simples e acolhedor, alegre e festeiro. Diante de problemas que parecem insolúveis, ele sempre descobre um “jeitinho” para não se deixar vencer – um “jeitinho” que, às vezes, se confunde com a trapaça e a corrupção. Sem dúvida, a “casa” que ele recebeu para viver é um verdadeiro presente do céu, uma “terra adorada, entre outras mil”, como repete o hino nacional.

Se a felicidade dependesse do dinheiro, nada haveria a temer: a “PricewaterhouseCoopers” garante que, dentro de 20 anos, o Brasil será a quinta maior economia do mundo – previsão que o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, antecipa para a próxima década.

Eu, porém, tenho dúvidas sobre a porcentagem de realização do povo brasileiro. Com efeito, as notícias que, todos os dias, os meios de comunicação social difundem aos quatro cantos do país nos falam de uma multidão de pessoas que sofrem na carne as conseqüências de uma sociedade que ainda não encontrou o caminho da justiça e da solidariedade. São as vítimas de uma violência que, em algumas cidades, já é uma guerra civil. São os doentes desamparados em hospitais que parecem ter como única finalidade prepará-los para a vida eterna. São os desempregados, os moradores de rua, os idosos e crianças abandonadas, a juventude desorientada e as famílias cada vez mais desestruturadas.

40% dos brasileiros afirma que luta para ser feliz. Se assim é, estão de parabéns, pois a felicidade se identifica com a liberdade, e a liberdade é fruto da vitória da virtude sobre o pecado, do amor sobre o egoísmo, do bem sobre o mal, da partilha sobre o acúmulo, dos sete dons do Espírito Santo sobre os sete vícios capitais.

Para a pesquisa, somente 2% do povo brasileiro se considera infeliz. Mas até que ponto a felicidade dos 58% é verdadeira se 2% não participa dela?

Em todo o caso, para alegria geral da nação, a felicidade existe. Você a encontrará se for capaz de fazer sua esta oração: «Senhor, afasta de mim a vaidade e a mentira. Não me dês nem riqueza nem pobreza. Concede-me apenas o que for necessário para o meu sustento, a fim de que, saciado, eu não te renegue, dizendo “quem é Deus?”. Ou, então, reduzido à miséria, eu comece a roubar e a profanar o teu nome» (Pr 30,8-9).

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados


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