O infantilismo


Almas

É uma acentuada desarmonia entre a idade e a posição que se toma diante a vida. Ou mais concretamente: é a desarmonia entre o amor ao “eu” e o amor ao tu, no sentido em que se super valoriza ou decide-se pelo amor a si mesmo. Infantilismo é a incapacidade de brindar-se ao tu, é querer receber quando deveria dar. É estar submerso em si mesmo, é girar em torno a si mesmo. Alguns tipos de infantilismo são:

O eu caprichoso. Coloca no centro de sua vida os desejos, as vontades. Sua grande frase é: “não tenho vontade”. Caracteriza-se por uma grande instabilidade de animo. Quando me sinto bem, sou um tipo formidável, converso com todo mundo, ajudo aos outros. Mas quando me sinto mal de animo, sou um desastre, ninguém me agüenta. Sou dominado por meus caprichos. Para muita gente, a vida espiritual depende da vontade: rezam à mesa ou vão à missa dominical só quando têm vontade, cumprem o propósito de grupo segundo suas vontades.

Temos que nos perguntar: dependemos em cada momento de nossos estados de animo: hoje alegres e contentes, amanhã de mau humor?

Ou na vida familiar. Quando volto para casa, não me pergunto: Qual é meu dever, minha tarefa como pai ou como mãe? O que é o que Deus me pede na minha casa? Ou penso no jornal que vou ler, na telenovela que vou assistir. Não penso no que posso oferecer, mas no que a casa pode oferecer a mim: descanso, paz, tranqüilidade. O eu caprichoso percebe o que ele necessita, mas não percebe o que necessitam a sua volta.

Tem também uma grande instabilidade de sentimentos que o torna subjetivo. P.ex. tenho um amigo a quem adoro, mas escutei algo negativo que disse de mim, e a partir daí já não o agüento mais. Não me pergunto se és certo o que me contaram. Não me pergunto se é grave l que disse este amigo. Falou mal de mim, me feriu, e isso é suficiente. Já não quero saber nada dele.

Então comenta o Padre Fundador: Toda pessoa que foi ferida tem que cuidar-se e averiguar se o que diz é verdadeiro; em tais casos, com freqüência 90% do juízo é subjetivo.

O eu auto compassivo. É o que se compadece a si mesmo, o que tem consciência de mártir. Sempre vê p.ex. uma crítica a ele como falta de amor. Não é capaz de receber uma só crítica, nem a melhor fundamentada. E por quê? Porque o “eu” está tão no centro que não admite estar errado em algo. Por outro lado, é uma pessoa que se queixa continuamente: todos estão contar mim, ninguém me compreende. E sempre encontra a culpa nos outros, nunca em si mesmo. É também uma pessoa que se defende muito. É um sinal de amadurecimento, defender-se pouco; confiar que a defesa virá por outros caminhos. O contrário defender-se permanentemente, é um sinal de imaturidade.

Poderíamos falar das injustiças, pode ser uma grande, séria, p.ex. calúnias graves, roubaram-me a fama, perdi o trabalho por isso. Ou podem ser injustiças pequenas, de cada dia, mais repetidas. P.ex. em nossa vida matrimonial: uma palavra fora de lugar; críticas exageradas; de que sou sempre eu que tenho que pedir desculpas e nunca o outro. São pequenas injustiças que vão criando em mim uma sensação de auto-compaixão muito grande, e que pode converter-se em amargura.

O eu agressivo. É um “eu” que sempre se considera atacado, agredido e por isso sempre está agredindo. É a pessoa que vê em perigo seu “eu”, seus direitos, sua liberdade e por isso sempre está atacando. Sente-se atacado, colocado para trás, sob valorizado, desvalorizado, vê confabulações em toda parte. Crê que todo mundo está contra ele. Estas pessoas sofrem muito; de fato todo infantilismo nos faz sofrer muito.


Pergunta para a reflexão
  1. Que formas de imaturidade afetiva posso encontrar em minha personalidade? (p.ex. reações primitivas ou negativas, pessimismo, momentos de impotência e desvalimento, resignações, frustrações, antipatias, covardias, etc.)

Tradução: Lena Barros de Ortiz. União de Familias no Paraguay.


Padre Nicolás Schwizer


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