O 'Não' do professor
Declarar alguém inimigo porque não nos deu o que queríamos é brincar de divindade; divindade pífia, diga-se de passagem...
Do padrezezinhoscj.com
Tornou-se arriscado dizer não a uma geração educada para vencer e conseguir tudo o que quer. É para lá que levam as propostas do mundo e das igrejas que superlativizam a vitória e a competitividade. Não se ensina a saber perder, coisa que só os verdadeiros vencedores conhecem. Bem todo o vencedor é vitorioso, mas todo o sujeito vitorioso também sabe perder. Não é preciso ser filósofo para entender esta verdade.
Mal educada e voluntariosa, também ela vitima do individualismo e de um conceito errado de vitória e derrota, está cada dia mais difícil mais difícil para os pais e para alguém de fora do lar domar essas novos potros selvagens que não aceitam comandos, nem regras nem proibição. Acham-se heróis porque quebram a perna do adversário que os driblou. Qualquer perda de bola lhes parece uma humilhação. Isto, porque se acham donos da bola e portadores da bola toda...
Já o era, mas tornou-se enfermidade. Releia o Livro dos Juízes e repasse as façanhas de Gedeão e de Sansão. Eles também conseguiram tudo o que queriam. Mas veja as mortes que aqueles vencedores a qualquer preço causaram e perceba no que deu aquela história de vencer a tudo e a todos! Não eram e não podem ser modelos de heróis. Pregador que os coloca como exemplo está propondo violência em nome da vitória da fé. Se eles merecem elogio, então elogiemos também os traficantes e os assassinos de aluguel porque eles limpam a área para que um ganancioso ocupe aquele espaço!
Declarar alguém inimigo porque não nos deu o que queríamos é brincar de divindade; divindade pífia, diga-se de passagem...
Por causa de um “não”, mais do que merecido pelo aluno, semana atrás, um professor perdeu a vida nas mãos do rapaz que não aprendeu e talvez não aprenda nunca, nem mesmo na cadeia, que a vida não é feita apenas de sim e de vitórias. Pode-se alegar que o moço era doente.
Dizem os noticiários que o professor era querido por todos os alunos, menos pelo rapaz que o matou. Mostrava-se inconformado com a nota baixa que recebera. Membro da geração que aposta na magia do clic, quis forçar o professor a lhe dar um mérito que não tinha. Não ganhou a nota que precisava e optou por ameaçá-lo. Incapaz de ouvir um não, deletou o professor que não lhe deu o exigido enter. Exceção ou sinal dos tempos?
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