A eleição de um bispo

Como os diocesanos de Dourados sabem, em 12 de abril de 2014, nosso bispo, Dom Redovino Rizzardo, anunciou que no dia seguinte enviaria seu pedido de renúncia do governo da Diocese, esperando que o Papa nomeasse seu sucessor. Ao escrever sobre o assunto, desejo esclarecer dúvidas que os fiéis têm sobre a eleição de um bispo, pois muitas são as pessoas que diariamente perguntam sobre o novo bispo de Dourados. Quem será? Quando será nomeado...? As pessoas especulam sobre esse ou aquele padre. É necessário lembrar que a Igreja é bastante cuidadosa e tem uma história de séculos, por isso aprimorou seu modo de eleger seus pastores. Ao tratar deste tema não quero criar a impressão de que nós estamos buscando um novo bispo, isso não nos cabe, mas única e exclusivamente a Igreja hierárquica. Na narrativa do Evangelho, segundo Mateus, capítulo 22, o versículo 14 diz que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. Este texto, às vezes, é usado por teólogos para explicar a eleição de bispos na Igreja Católica. Faz muito sentido tal interpretação, pois os vocacionados podem desejar serem diáconos e padres, mas isso não vale para o episcopado. Diz a tradição que aqueles que buscam tal “honra” dificilmente a alcançarão. O bispo necessariamente precisa ser padre, e é dentro do clero que se encontram aqueles que serão nomeados para o serviço episcopal. É bom recordar: o episcopado não é poder, mas serviço, a Igreja é bastante atenta a este preceito, por isso mesmo, ao longo dos séculos introduziu a escolha por meio de consultas sigilosas. Embora não pareça à primeira vista, é um método muito democrático e seguro, o sacerdote é indicado por um bispo, pode ser da sua própria diocese ou de outras, esta indicação chega à Nunciatura Apostólica (embaixada do Vaticano) em cada país. Com a indicação muitas informações da vida pessoal: vida moral, capacidade de administrar, capacidade intelectual, capacidade pastoral, trato com o povo, especialmente com os mais pobres, nomes de pessoas que trabalharam com o referido padre, além de outros padres, religiosos (as) que o conhecem. A Nunciatura envia inúmeras cartas consultivas e sigilosas com perguntas para verificar os quesitos elencados. As pessoas podem falar o que quiserem, pois tudo ficará em segredo. O candidato não sabe do conteúdo informado, só depois que este processo de análise é feito no referido país, ele é enviado a Roma, para outra análise na Congregação para os bispos, depois o Papa deve ele mesmo escolher e nomear. Só assim, depois desse cuidadoso processo, o sacerdote será consultado se aceita ou não a sua nomeação, para a diocese que a Igreja designar, porque suas características podem responder muito mais a uma diocese bem distinta daquela em que ele viveu e trabalhou. Por isso, “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. Sua designação pode ocorrer para lugares difíceis, pobres e com conflitos, é preciso portanto, amar a causa e capacidade para servir. O Papa Francisco disse em 2013 sobre o ser bispo: “Seja santo para rezar, sábio para ensinar e prudente para governar, que seja manso, paciente e misericordioso, que não tenha a mentalidade de príncipe”. E a Igreja “não escolha pessoas ambiciosas, que anseiam pelo episcopado”. O Papa, hoje Santo, São João Paulo II disse, quando lhe foi perguntado sobre os critérios para a eleição de bispos: “O primeiro critério é este: os que querem, nós não os queremos!” Portanto, sobre o próximo bispo de Dourados, cabe-nos rezar e não especular, e não desejar nomear nós mesmos um candidato do nosso perfil, o perfil é da Igreja, é do Espírito Santo. Melhor mesmo é rezar pelo nosso bispo atual, Dom Redovino. O próximo já foi escolhido no coração de Deus, Ele sabe quem deve ser, quando chegar nós o acolheremos com alegria.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados


(1) Comentário

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Gostei muito da explicação e clareza sobre a escolha e ordenação de um bispo! Realmente quem escolhe é Deus e o escolhido aceita como serviço partilhado com os padres, religiosos/as e leigos numa diocese.

 
Ir.Nair F. de Brites em 14 de junho de 2015 às 18:01