A Igreja que nascerá do Conclave
Há uma grande expectativa sobre o novo Papa. Será ele de direita? Esquerda? Centro? Liberará o casamento para padres e o sacerdócio de mulheres? Será favorável ao aborto e/ou o casamento de homossexuais? Estas especulações são ventiladas diariamente, não sei se por ignorância sobre o ser da Igreja ou por desejo de confundir os fiéis.
Ao recordar escândalos sexuais, problemas financeiros, abandono da fé por parte de católicos, tenta-se mostrar uma face desfigurada da Igreja, sem jamais apresentar os diversos serviços que ela prestou ao longo dos séculos à humanidade, e que abundantemente continua a fazê-lo.
A situação mais emblemática que constatei foi o caso das acusações contra o Cardeal africano, Turkson, arcebispo de Gana, taxado de homofóbico, nazista, para não citar outros defeitos.
Por obra de Deus descobri um vídeo na internet onde o mesmo é entrevistado da CNN, exatamente de onde tiraram as interpretações em que o referido Cardeal se adéqua como malfeitor, serenamente ele vai relatando as diferenças culturais que também reflete na percepção da sexualidade dos sacerdotes africanos.
As notícias que saíram a seu respeito são mentiras deslavadas, você pode conferir no blog de Reinaldo Azevedo.
(http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/).
O próximo Papa será um dos Cardeais com menos de 80 anos, certamente será escolhido alguém que seja capaz de perceber as mudanças culturais, religiosas e políticas do nosso tempo, mas não será descuidado para jogar fora dois mil anos de cristianismo, que a Igreja preservou nestes XXI séculos, sendo esta a única instituição que se manteve de pé.
Seus dois mil anos de existência não são fruto do modismo que atravessa os tempos, mas da fidelidade a Cristo, não obstante os muitos pecados de seus filhos, ninguém esqueça que no grupo de Jesus, isto é, na primeira comunidade cristã houve um traidor, Judas. Com o crescimento da Igreja muitos outros Judas apareceram, mas a Igreja não é fundada sobre uma pessoa humana, o é nEle, por isso, as “portas do inferno não prevalecerão sobre a mesma”.
E quanto ao afastamento dos fiéis, não está acontecendo porque a Igreja não é mais “progressista”.
Entre defender os valores do “mundo” e os valores de Cristo, a Igreja ficará sempre com Cristo, mesmo que isso signifique diminuir suas fileiras, ela não tem autoridade e direito de mudar a verdade revelada, mesmo que o próximo Papa seja um homem escolhido entre aqueles que a imprensa considera progressista, algo que é profundamente relativo, pois Bento XVI considerado conservador em questões morais, era extremamente progressista nas questões econômicas, quem desejar constatar, estude sua Encíclica Caritas in Veritate.
Não será a pressão popular manipulada por interesses escusos que fará a Igreja atraiçoar a tradição deixada por Jesus Cristo, já são suficientes as deslealdades de membros da hierarquia e milhões de fiéis leigos que se dizem católicos, que embora acusem a hierarquia, não assumem a falta de testemunho.
Numa determinada celebração anos atrás, a leitura do Evangelho falava de uma questão espinhosa, e como sacerdote, na hora da homilia, exigia uma explicação.
Quando comecei a discorrer sobre o assunto falado por Jesus, portanto, o tema estava na Bíblia, alguém, do meio da assembléia, pediu a palavra e disse que discordava, pois ele passou por uma situação semelhante e agora estava melhor, o que significava que o tema precisava ser atualizado, pois Jesus só tinha se pronunciado daquela forma porque foi a dois mil anos, hoje abordaria o assunto de outra maneira.
Bem, o tema era um daqueles em que a Igreja não pode mudar, mas somente anunciar, mesmo depois de XX séculos. Procurei compreender a sua angústia e para fazer entender melhor, sugeri rasgar aquela página do Evangelho, pedi que outros fiéis apontassem as passagens bíblicas que acreditavam ser ultrapassadas e que as rasgasse também, eu mesmo apontei algumas que tinha vontade de mudar, ou atualizar.
Meu raciocínio quis fazer entender que muitos cristãos, inclusive muitos que se dizem católicos, desejam viver uma fé sem forma, isto é, se cada um mudar a Bíblia, a Tradição e o Magistério Eclesial a seu bel prazer, de acordo com as suas necessidades, a Bíblia ficaria somente a capa, porque o conteúdo não será mais o testemunhado por Jesus, suas palavras não serão mais palavras de vida eterna, e sim, palavras passageiras.
Penso que não refletimos nisso quando cada um quer a Igreja, a partir das suas próprias necessidades. Não deveria ser o fiel a se adequar a Cristo e não Cristo ao fiel em particular? Afinal, é Cristo quem salva a pessoa humana, ou o contrário? Ao tentar delinear que o próximo Papa siga o modismo e não a Cristo, proclamamo-nos salvadores de nós mesmos e Jesus passa a ser visto (semelhante ao que aconteceu com a heresia ariana dos primeiros séculos, quando Ele era visto somente como homem), meramente como um grande líder, não como Deus.
O Papa, seja ele quem for, terá em mente a história da Igreja, suas alegrias e sofrimentos, terá igualmente os avanços da humanidade nos mais diferentes campos, no entanto, não esquecerá os retrocessos que ela própria teve e tem, mesmo quando nos dias atuais se autoproclama defensora da verdade. Assim, ninguém espere um Papa moldado pelo noticiário, ou favorito, italiano ou alemão, somente porque é da Europa, os critérios eclesiais são outros e a prova é: se a Igreja se baseasse nos palpites, seus ensinamentos há muito já teriam desfigurado sua doutrina.
Assim se expressou numa entrevista Clodovis Boff: “... a Igreja, não pode entrar em negociações quando se trata do núcleo da fé. A Igreja não é como a sociedade civil, onde as pessoas podem falar o que bem entendem.
Nós estamos vinculados a uma fé. Se alguém professa algo diferente dessa fé, está se autoexcluindo da Igreja”, até o Papa se autoexcluiria.
O Papa será aquele que o Espírito Santo já escolheu e a Igreja que nascerá do Conclave será a Igreja de Cristo!
Pe. Crispim Guimarães
Pároco da Catedral de Dourados, MS.
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