Apenas católico
Certos setores, inclusive algumas pessoas dentro da Igreja, querem “forçar a barra” e definir o Papa Francisco como “modernaço”, revolucionário, de esquerda. Mas, na exortação apostólica Evangelii Gaudium e nos seus pronunciamentos, Bergoglio não deixa dúvidas de onde procede a suas ideias, do genuíno cristianismo.
Quando batizou o filho de uma mãe solteira, na imprensa e nas redes sociais parecia que descobrira a pólvora, ora, filhos de mães solteiras são batizados na Igreja há décadas, já perdi a conta de quantos batizei, é um gesto católico, não papal.
Muitos querem fazer de Francisco um Che Guevara, o que significaria tal sinônimo na Igreja? Odiar aqueles que são considerados inimigos. Não me parece que o Bispo de Roma deseje isso. Vestir camisetas com frases do pontífice ou colar fotografias suas nas paredes e carros, não parece à maneira mais acertada de quem quer uma Igreja segundo ele mesmo.
Muitos jornalistas e comentadores defendendo suas próprias causas querem ver apenas o que lhes interessa. Não há dúvida de que o Papa Francisco é uma figura extraordinária e não se pode deixar de notar o imenso significado do nome que escolheu, fazendo recordar uma Igreja pobre para todos. Essa ideia de proximidade com os mais fracos está no coração do cristianismo, sobretudo quando as instituições da Igreja, em relação aos mais fracos resistem quando todo o resto desmorona.
Francisco aborda os dilemas da Igreja abertamente, por isso, é visto como um reformador radical. Eugenio Scalfari, fundador do La Repubblica, chegou a dizer que o Papa “tinha abolido o pecado”, obrigando a Santa Sé a algo sem precedentes, mas necessário, desmentir formalmente o jornalista. O certo é que os esquerdistas o aclamam como tal, e os direitistas o acusam de marxista, de adepto da teologia da libertação, etc. Chegaram a anunciar que ele era a favor da ideologia de gênero, homossexualismo, mas quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo ele já declarou ser “um retrocesso antropológico”. Em relação à família, homossexualidade, o aborto, e a anticoncepção, acredito que Papa está convidando a falar de forma positiva e a “não insistir no negativo”, mas não aprova e nem está dizendo que o que antes não estava certo, agora está correto, ele simplesmente está dizendo que a Igreja é mãe e, como tal, ama seus filhos, mesmo os que erram.
Ao autorizar a abertura do processo de canonização do bispo Oscar Romero, parece que o Papa fez uma opção ideológica. Mero engano, Romero, ele cristão como Francisco e em questões teológicas era até considero conservador, sua opção era o evangelho e por isso se posicionava contra o governo corrupto de El Salvador. O Papa também autorizou a beatificação um bispo da Opus Dei, isto ninguém fala. Francisco não desejo ideólogos, mas pastores que amem a Deus e o povo.
A respeito da presença da mulher nos postos de autoridade da Igreja, Francisco segue em sintonia com Bento XVI e com João Paulo II, que escreveram sobre o papel da mulher. Francisco repete o que disseram seus antecessores: “que a pessoa mais importante na Igreja depois de Jesus Cristo, não é o Papa nem os bispos nem os sacerdotes, mas sim uma mulher: Maria”. É obvio que sua linguagem direta vai provocar mudanças neste aspecto também.
O Pontífice propõe uma nova visão sobre a mulher, que se afasta do feminismo tradicional, que entende os sexos na leitura da luta de classes.
Pessoalmente considero que os conceitos de esquerda e direita pouco ajudam a situar o pensamento de Francisco.
Agrada-me, pelo o realismo, a fala de um articulista: “sobre o governo da Igreja, aponta que se pode esperar colegialidade, consulta e reflexão, antes de tomar decisões; sinceridade e abertura na hora de dar explicações; assim como uma luta aberta contra a hipocrisia e a mentira. O que não se pode esperar, conforme precisou, é que o Papa mude os Dez Mandamentos nem que venda o Vaticano para combater a pobreza”.
Pe. Crispim Guimarães
Pároco da Catedral de Dourados
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