As novas configurações de famílias


Pe. Crispim Guimarães dos Santos
Assessor de Comunicação e Coordenador de Pastoral da Diocese de Dourados

Amigos, não são poucas as vezes que sou convidado para conferências e debates sobre os mais variados temas, nos mais diferentes lugares geográficos e acadêmicos. De Dourados, apresento um programa na Rádio Coração 95,7, todos os sábados, das 7h30 às 9h00, onde trato dos mais alternados problemas da sociedade local, sul-mato-grossense e brasileira, assim como assuntos de cunho universal, pois vivemos num mundo globalizado.

Nestes ambientes, meus contatos, debates e conversas foram com políticos, advogados, juízes, promotores, policiais, psiquiatras (médicos das mais variadas especialidades), psicólogos, sociólogos, dependentes químicos, “vítimas das violências” e religiosos de diferentes confissões. Os temas tratados pelo elenco citado, imaginem vocês, são os mais inusitados e variados possíveis.

Quando tratamos de problemas, 99% falam do esfacelamento familiar como causador dos diversos males existentes na atual sociedade que vive, como nunca, uma época de mudança ou, como outros chamam, mudança de época. Enfim, faço uma tempestade de ideias para pensar a família enquanto lugar social formador, micro “organismo” da sociedade. Se todos identificam a família como a causa, é bom pensar com carinho nesta “sociedade doméstica”, não acham?

Para o judaísmo que, de certa forma, é o pai do conceito de família ocidental, família é Rab’at, que significa esposo, esposa, filhos, sogro, sogra, tios, irmãos, empregados, um clã. Os medievais conheciam a família (matrimônio) como “mater e múnus”, isto é, ofício ou tarefa da mãe e/ou “pater e múnus”: ofício do pai. A mãe tinha a tarefa de cuidar e o pai de prover. O direito da Igreja fala de pacto, a teologia católica o define como “participação especial na obra criadora de Deus”.

Obviamente, estes conceitos dentro de “uma mudança de época” não se sustentam mais por si só. No entanto, se o ser humano evolui, não o faz do nada, talvez daqui seja possível fazer uma reflexão. Se estas visões, num mundo pós-moderno, desprezam este passado, não estariam negando a própria evolução? Será necessário destruir tudo para encontrar um caminho novo? Não daria para aproveitar o que de bom estas visões deixaram ao longo dos séculos? Ética, moral, autoridade, respeito, religião, limites, amor, tempo para a família, foram valores que, mesmo não fazendo a sociedade mais perfeita como imaginamos, sustentaram-na ao longo de milênios. Não estaríamos precisando recobrá-los, de algum modo, adaptando-os aos novos tempos?

Ora, se drogas, álcool, violência, desonestidade assolam a sociedade global, nada mais representam do que um grande grito de socorro social e individual que clama aos nossos ouvidos e corações e, como disseram os profissionais com os quais tive contato, o problema está nas novas configurações de família. No entanto, não devemos apenas culpar a família, pois culparíamos a nós mesmos, mas devemos discutir e propor. Como viram, não tenho respostas, tenho constatações e perguntas. Ajudem-me a respondê-las.

Se aceitarem uma sugestão, posso oferecer: a religião ajuda, e muito, desde que bem vivida, sem fundamentalismo e sem hipocrisia.