Cristãos de segunda classe?
Pe. Crispim Guimarães - Pároco da Cristo Rei de Laguna Carapã
Meus amigos, hoje, quero abordar um tema doloroso para algumas pessoas e para a Igreja, a tal ponto do Papa Bento XVI, certa vez, chamá-lo de chaga. Falo dos casais de segundas núpcias e o faço porque percebo que há uma confusão muito grande sobre esta “problemática”.
Nos últimos quatro anos, fruto de uma especialização que estou concluindo, venho estudando, através de acompanhamento de noivos, casais de primeira e outras uniões, e vejo como o assunto é sério e exigirá da Igreja, cada vez mais, uma reflexão muito profunda. Espero, no final do ano, oferecer num livro algumas ponderações sobre o assunto.
Que considerações são necessárias fazer? Primeiro, uma consideração antropológica, pois os tempos mudam e nesta questão especificamente, o perene virou transitório, o eterno transformou-se finito, o valor moral, antes duradouro, tornou-se fruto da emoção, etc., o ser humano tornou-se passageiro, não só no corpo perecível, mas também na alma. A vida, antes intocável, agora é definida pelas convenções.
Uma segunda observação é eclesial, onde a Palavra de Deus se “choca” com opiniões consensuais de pessoas, grupos e instituições. Na doutrina católica, vigente a mais de dois milênios, o matrimônio é sagrado, portanto, não é fruto de consensos e convenções, ela É aquilo que é (Mt 19, 3-9). Aquilo que foi revelado por Cristo não pode ser mudado, o que é mutável é o que conhecemos como disciplinar, o que não é o caso.
Terceira dimensão a ser pensada com carinho é o caso dos casais de outras uniões, que na realidade perpassa a antropologia filosófica, a teologia e a psicologia. Serão eles condenados a serem cristãos de segunda classe? Amigos, eis a grande confusão, pois há uma má interpretação da doutrina e uma banalização do matrimônio, além das necessidades psicossocial de aceitação de grupo e como cristãos, sobretudo no que se refere a participação nos Sacramentos da Eucaristia, Batismo e no próprio Matrimônio. Na Igreja, hoje, se vê muita confusão, pois todos querem ter direitos: ser padrinho de batismo, casamento e outros..., mas é bom recordar que todo direito traz consigo um dever.
Para esclarecer, é importante recordar que a Igreja Católica professa sete Sacramentos, todos têm valor divino, o que significa que um não está contra o outro, isto é, não é possível desejar receber um Sacramento e repudiar outro, seria viver na mesma Igreja como se fossem duas. A Igreja jamais deseja o sofrimento de seus membros, quando apresenta a doutrina imutável, ao contrário, quer prevenir que aquilo que parece ser um bem, transforme-se em uma armadilha. Um exemplo clássico, é o caso de casais católicos em outras uniões matrimoniais, ou que são simplesmente “ajuntados” e que não tendo impedimento, insistem em comungar à revelia da doutrina.
Então, não podendo participar da comunhão, a não ser espiritual, não ser padrinho, confirma-se que são cristãos de segunda classe? Não! Em hipótese alguma, são membros da Igreja da mesma forma, devem ser acolhidos carinhosamente por todos, mas não enganados, pois não devemos oferecer falsas esperanças, coisa que Jesus não fez, amá-los sim, falsear o Evangelho nunca. Na Igreja, há lugar para todos, quem não comungar fisicamente o faz espiritualmente, pode trabalhar em tantas funções..., é o caso de inúmeros casais de segunda união com os quais já trabalhei e trabalho, pessoas serenas, que sabem que são amadas e que, devido as circunstâncias, não lhes é permitido fazer tudo.
Qual a solução? Deve-se recordar que segundo dados da própria Igreja, grande número dos matrimônios não têm os requisitos para serem considerados válidos, pois não aconteceram de fato. Portanto, se é católico convicto, logo deve procurar o sacerdote, depois o tribunal eclesial e a pastoral dos casais de segunda união.
Outra constatação: a desculpa de mudar de Igreja só porque não comunga não é convincente, mesmo porque se não comunga na Igreja Católica porque está em outras núpcias, as demais igrejas não consideram a Eucaristia como nos a consideramos. Então se a Eucaristia não é o centro nas outras igrejas, porque sair da Igreja Católica? É questão eclesial ou sociológica?
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