O mal se encarnou, por Pe. Crispim Guimarães

Nada do que se diga sobre o fato poderá justificá-lo, nem mesmo a psiquiatria, a psicologia ou a religião

Por Pe. Crispim Guimarães

Todos vimos estarrecidos, dia sete de abril, a chacina do Rio de Janeiro cometida por um rapaz de 23 anos de idade, chamado Wellington Menezes de Oliveira, aparentemente normal. Inicialmente foram 12 vidas ceifadas e tantas outras feridas, porém centenas com lesões psicológicas provocadas pela barbárie.

Nada do que se diga sobre o fato poderá justificá-lo, nem mesmo a psiquiatria, a psicologia ou a religião. O fato é que estes casos estão ocorrendo mais frequentemente em muitos países, com destaque para os Estados Unidos. No Brasil, nesta proporção é a primeira vez, mas temo que não seja a última, pois muitos fatores estão contribuindo para a desestruturação mental de muitos jovens.

Na noite do ocorrido, assisti programas televisivos que procuraram através de especialistas, analisar as possíveis causas da desproporcional reação daquele jovem. Tudo suposição, claro, porque não se conhecia a vida do rapaz, embora algumas até com fundamento, pois diante da nefasta reação, se imagina alguém com um profundo distúrbio ou no mínimo com um surto psicótico.

Bem, esta avaliação, mais particular da vida pessoal de Wellington, a polícia e os especialistas vão procurar responder, como se pode perceber, mas diante da gravidade do caso e das perguntas que me fazem, tais como: estava possuído pelo demônio? Deus estava dormindo? Atrevo-me a dizer algo. As perguntas são de ordem religiosa, portanto começo falando de religião para depois tecer outros comentários.

Sobre o demônio, que é personalizado pelo mal objetivo, não é possível para alguém religioso dizer que tirar a vida seja fruto do acaso. Dizer que estava possuído como conhecemos nos filmes de exorcismo é outra questão, pois precisamos encontrar outras causas também cientificas, no entanto, certamente o bem passou longe deste rapaz na hora do acontecido. Deus, por sua vez, autor do bem nunca se conforma com o mal, ao contrário, o trabalho de Deus é fazer tudo que está ao seu alcance para a prevalência do bem, entretanto, existe uma questão preponderante neste litígio, a liberdade humana e o emaranhado social que incide coletivo e individualmente, onde Deus quer o bem, mas não “pode” agir contra a liberdade pessoal, pois assim se tornaria ditador.

Contudo, pensando no mal, ele nos ronda, basta ver quantas coisas ruins nos acontecem, em maior proporção age o bem, não obstante menos percebido, pois não se alardeia, ninguém pode negar que a maioria das vidas vive mais sob a graça do bem que sob os terrores do mal. O mal encontra força quando o menosprezamos e agimos como se Deus não existisse. Quando tudo vai bem Deus é esquecido, quando aparece algo como este fato, todos se lembram de Deus para cobrar a sua parcela de responsabilidade.

Mas o questionamento verdadeiro não foi feito. Não seria justo perguntar que sociedade doentia estamos produzindo? Um jovem que é criado numa sociedade extremamente competitiva, onde tem que ser o melhor, onde não encontra mais valores como solidariedade, fraternidade e Deus. Quando vejo os filmes de ação que valorizam o artista principal, mocinho, aquele que mata o bandido a tiros, sobretudo, que mais parece um vingador que um defensor da ordem social, quando vejo novelas em que as brigas são o motriz da família, logo imagino num fato como este, onde se encontra sua raiz; na ação do mal, que encontrou o terreno fértil para se instalar, este terreno é um coração amargurado e pressionado pela falta de Deus e da beleza de uma vida pautada na fraternidade, além é claro, de considerar possíveis transtornos psicológicos pelos quais este jovem foi acometido. Todavia, tais transtornos não surgem do nada, no mínimo a sua maior ocorrência se deve a uma sociedade sem rumo.

O mal está em não prevenirmos, mas remediarmos, por isso agora todos procuramos justificativas para apaziguar a dor de tantos pais e amigos, mas a meu ver, não tocamos na verdadeira ferida!

Pe. Crispim Guimarães
Pároco da Cristo Rei, de Laguna Carapã


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