O Silêncio das instituições

Sabe-se que muitos órgãos de imprensa vivem dos noticiários calamitosos, dentre eles desastres naturais e denuncismos de outras desgraças, como a corrupção e assassinatos em série. Apesar dessa tendência é impossível dizer que a imprensa está tentando desestabilizar as instituições ao noticiar os casos de corrupção no metrô de São Paulo, um ano antes da eleição, amplamente divulgado, e hoje com o absurdo da corrupção na Petrobrás, por exemplo. Em países onde a lei funciona verdadeiramente, a cadeia estaria cheia com estes envolvidos, e muitos políticos já teriam perdido seus cargos há muito tempo, mas aqui, quem vai para a cadeia é “ladrão de galinha”, os políticos, quando são presos, permanecem pouco na prisão. Quando a campanha das diretas já fez o Brasil sair às ruas, duas instituições foram essenciais no processo de redemocratização, a CNBB e a OAB. Este ano ainda, estas mesmas instituições e outras, encabeçaram o movimento da Coalizão pela Reforma Política e Eleições Limpas, do qual muitos de nós participamos por meio da coleta de assinaturas recolhidas pela Igreja Católica. O processo para redemocratizar o país não acabou e a corrupção é uma ameaça às instituições. Confesso que estou esperando pronunciamentos mais consistentes destas instituições, que se cobre a lisura no exercício da coisa pública e também das eleições, que sofreram inúmeras acusações de fraudes. A impressão que se tem é que certos organismos estão anestesiados, indiferentes e até insensíveis frente à situação vivida pelo país, que - segundo respeitadas publicações internacionais - vive o maior escândalo de corrupção da nossa história e dos países ditos democrático. Estamos falando de um rio de dinheiro público desviado. Sabemos que o projeto da Coalizão tentará melhorar este aspecto também, mas na urgência dos casos de corrupção nosso povo precisaria de vozes a orientá-lo, porque a anestesia de instituições tão credíveis já faz surgir uma amnésia coletiva, onde a corrupção parece ser prevista na lei (um a lei do inconsciente), através da expressão “porque todo mundo rouba”. Os sindicatos no passado nos orgulhavam, quando cobravam apuração dos desvios na administração pública. Hoje, quais são seus pronunciamentos? Ou eu não os conheço, ou a grande mídia os esconde.
A Constituição de 1988, declarada “Constituição Cidadã”, proporcionou melhor reivindicação dos direitos, relações de trabalho, liberdades individuais e até mesmo na regulação da ordem econômica. Porém, “tratando-se da coisa pública, o que se vê é uma verdadeira abdicação desses direitos, como se esta não fosse um bem de todos, construída com o sacrifício comum”. No Grito dos Excluídos de 2005, ocorreu a passeata do silêncio da Praça da Sé ao Teatro Municipal, contra a corrupção, tendo como organizadores a OAB, CNBB, Associação Comercial de São Paulo, Ciesp, Associações dos Magistrados e do Ministério Público e centrais sindicais, pedindo para colocar “TUDO EM PRATOS LIMPOS”. Assim como em São Paulo, em mais de 1.400 cidades do Brasil este ato se repetiu no mesmo ano, agora que a situação é mais gritante estamos todos calados, salvo certos exemplos, como o Juiz Sérgio Mouro e um passivo do Ministério Público e Polícia Federal. Qual o motivo do silêncio das instituições? Reconhecemos que perdemos a guerra contra a corrupção? Declaramos que ela faz parte do “patrimônio” da administração pública brasileira, e por isso deveria ser prevista em lei? Já ouvi muitas vezes que “no passado os outros roubaram...”, como que dizendo: se os outros roubaram por que nos escandalizamos com o roubo dos atuais? Todos as vezes que votei, não o fiz para que os meus representantes repetisse as mazelas dos anteriores, se assim fosse votaria nos mesmos, quando voto desejo que se combata exatamente aquilo que deu errado no passado, dizer que os outros roubaram e por isso não posso me escandalizar com o roubo dos agentes públicos nas esferas federal, estadual e municipal, é atestar que a corrupção já se tornou “lei”. Que as instituições voltem às ruas e estabeleçam discussões para conscientizar que corrupção também é uma face da ditadura, já que coloca a riqueza de todos nas mãos poucos.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados


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