Quaresma?
Para que celebrar Quaresma? As pessoas ainda levam a sério este tempo? Seja qual for a resposta, entramos no período de 40 dias, que começou quarta-feira de Cinzas e terminará na Missa na Ceia do Senhor, Quinta-feira santa. A quaresma é o tempo litúrgico de mudança e reflexão, que a Igreja Católica celebra como preparação para a grande festa da Páscoa. Deveria ser um tempo de exercício da caridade e da renúncia, para que a Páscoa seja a oportunidade de ressuscitarmos no Cristo, e com isso, que tais práticas pudesse se estender para além Páscoa.
A Igreja proclama que devemos aproveitar os 40 dias para o arrependimento e para a mudança; recuperando o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que buscam a Deus, devemos viver como filhos de Deus. É um convite para caminhar com Jesus, através da escuta da Palavra e da prática das boas obras, numa série de atitudes cristãs que nos assemelham a Jesus Cristo, é também um tempo de perdão e da reconciliação fraterna. Num mundo marcado pelo ódio, rancor e inveja, cada pessoa é chamada a pensar nas mazelas que tanto criticamos nos outros. Elas não são frutos das nossas escolhas?
A Quaresma nos recorda a Cruz, expressão do ódio humano e do amor de Deus, nela aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus, aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.
Quarenta é um número muito significativo na Bíblia: quarenta dias do dilúvio, quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, quarenta dias de Moisés e Elias na montanha, quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública. O número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades, seja a pessoa cristã ou não, estamos imersos nesta realidade.
Nestes 40 dias muitos deixam de comer algo que gostam, de tomar refrigerante, etc., porém, como diz o Papa Francisco, “o cristão é chamado a levar a todo ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna.” Isto pode ser significativo, claro, com estes gestos de renúncias, seriam, no entanto, mais proveitoso se fossem assumidas tarefas cotidianas de amor ao próximo, porque é na carne humana que Cristo continua a sofrer, e é através do nosso amor ao próximo que Ele continua ressuscitando.
Ainda citando o Papa, “à imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para aliviá-las. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína econômica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos autossuficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus”.
Eis o sentido da Quaresma!
Pe. Crispim Guimarães
Pároco da Catedral de Dourados
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