João Paulo II, o santo dos nossos tempos


Dia primeiro de maio, dia da misericórdia para os católicos, a Igreja reconheceu as virtudes de Karol Wojtyla, nome de batismo do conhecido e amado João Paulo II. Mais de um milhão de pessoas estiveram presentes na cerimônia de beatificação, na cidade de Roma, e outros bilhões acompanharam pelos meios de comunicação.

Por que um homem religioso foi capaz de marcar tantas pessoas mundo afora, cristãs e não cristãs, numa época em que ser religioso está se tornando sinônimo de atraso? Porque o amor marca a todos e suas marcas não se apagam ao sabor do vento, ao contrário, ficam gravadas no coração das pessoas. Assim, no início de seu pontificado em 1979, João Paulo II dizia: “abri, aliás, escancarai seus corações a Cristo”, exatamente a sua convicção de que Cristo era a pessoa mais importante em sua vida, o fez amar a todos com tamanho convencimento.

Este homem profundamente marcado pelo sofrimento, que poderia tê-lo feito uma pessoa dura de coração, mas a vida difícil o preparou para desempenhar como ninguém o papel de maior líder, promotor da paz nos últimos séculos, sendo aquele que sem armas derrubou o comunismo no leste europeu, comunismo que assassinou mais de cem milhões de pessoas.

Sua convicção não era pautada em ideologias de direita ou esquerda, mas na teologia da dor de Jesus, e que teve como mestre espiritual desde a juventude São João da Cruz (através de seus escritos), profundo conhecedor do coração humano, grande teólogo da idade medieval.

Pessoalmente, encantei-me com o a antropologia filosófica do então padre e filósofo Wojtyla, especialmente através da sua Obra Pessoa e Ação, escrita bem antes da eleição ao papado. Sendo um homem que perdeu os pais muito cedo, assim como os irmãos, ficando sozinho, sem parentes, poderia ter escolhido o caminho da marginalidade, ao invés escolheu, o caminho do genuíno cristianismo, abandonando-se nas mãos de Deus, desde a mais tenra idade até o seu gemido final, quando o vimos na janela do Vaticano, sem poder falar ao público.

Não foi à toa que a multidão o aclamou, logo depois da sua morte, “Santo Subito”, isto é, Santo já, foi o reconhecimento de um homem que viveu sua escolha, que fez da vida um serviço desinteressado, para pregar o Evangelho aos quatro cantos do mundo, abrindo todos os meios para fazer a Igreja de Cristo conhecida, respeitada e amada.

Nunca teve medo de falar a verdade aos mais variados chefes de estado, cristãos ou não. Seu velório teve a presença de mais de três milhões de pessoas, dentre os quais inúmeros representantes de governos dos mais diferentes países, numa demonstração de respeito jamais vista na história da humanidade. O mais impressionante é que este homem nunca se relacionou com tais governantes fazendo o jogo muitas vezes interesseiro, outrossim, falava de Jesus Cristo e de seu Reino, às vezes, contrariando com a justiça que pregava, as atitudes e ações inconvenientes de tais governantes que pregavam a paz pelas armas, enquanto ele o fazia pelo amor.

Alguns disseram que a Igreja reconheceu suas virtudes heróicas para se aproveitar e arrebanhar seus fiéis de volta, percebe-se que estas falas são de pessoas que pouco conhecem a Igreja e seus processos, em que se reconhecem a santidade de um dos seus filhos. O que apressou sua beatificação foram os milagres de Deus atribuídos à sua intercessão (especialmente um deles) e à vida que levou sem nunca renunciar um milímetro na busca da verdade do homem e de Deus.

Quem acompanhou os seus últimos dias de vida, viu o calvário de um homem que amava a Deus e por isso levou sua cruz até as últimas consequências, carregando com responsabilidade a sua missão de anunciar com palavras e, sobretudo, testemunho, de que Deus é AMOR, é paz, não fruto das armas ou das ideologias, mas da doação incondicional aos seres humanos.

Pe. Crispim Guimarães
Pároco Cristo Rei - Laguna Carapã


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