O sexo que desafia as Igrejas

Não há porque uma igreja ter medo de discordar dos que defendem idéias outras em nome da modernidade.

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Para entender a carta de Paulo aos Romanos convém lembrar a formação helenística de Paulo. Ele conhecia, e muito bem, a cultura grega. Muito provavelmente conhecia o famoso discurso do confesso homossexual Ésquines contra Timarco e as poesias de pedófilos famosos como Teógnis e Meleagro.

O texto de Romanos 1,18-32 severamente criticado por gays e homossexuais deve ser lido no contexto da comunidade cristã que rompia com aquelas práticas. Era um libelo contra a sexualidade até então vivida por gregos e romanos. Paulo delimitava o sexo à dimensão homem-mulher e este, à dimensão familiar.

18 Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.
19 Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
20 Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poderem, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
21 Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
22 Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos
23 E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
24 Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;
25 Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
26 Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
27 E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
28 E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; 29 Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; 30 Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães;
31 Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
32 Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.

A luta dos homossexuais de agora e os debates e combates que eles sustentam contra católicos e evangélicos atinge contornos filosóficos, políticos e religiosos. As religiões pagãs daqueles povos aceitavam troca de afeto e relações sexuais entre homens, e não viam como deletérias as relações entre um adulto e um rapaz. Era raro o relacionamento entre dois adultos ou entre dois jovens. O erastés e o erômenos, desde o 4° século antes de Cristo eram vistos com tolerância. A julgar por um texto de Hesíodo 800 a.C. os vínculos familiares não eram muito sólidos naquela civilização. Havia acentuada inclinação para o amor do mais velho pelos mais jovem e a dimensão das relações com as mulheres era outra. Nessa cultura que vigorava há muitos séculos, à medida que cresceram em número, os cristãos reagiram.

O sexo nunca foi assunto fácil de se enfrentar, porque nem sempre foi enfrentado com serenidade e equilíbrio. Facilmente se transforma em confronto, intolerância e repressão.

Para entender melhor o Brasil de hoje, a licenciosidade dos trajes de praia, as cenas fortes de sexo na mídia, a ousadia dos outdoors, as piadas de cunho homossexual que se ouve em programas humorísticos, a preferência por piadas de sexo que riem do homem corno e do homem gay; para entender tudo isso será preciso voltar a um período da antiga Grécia onde se desenvolveu uma civilização que idolatrava a estética.

A beleza masculina triunfara; via-se a mulher como um ser bonito, mas problemático; cantava-se a formosura do menino ou do rapaz e dava-se menor valor à beleza da mulher. Os gregos daqueles dias não administravam bem as diferenças de psique. Viam o feminino não tanto como complemento, mas como contraponto ao belo masculino. Filósofos chegaram a dizer que a companhia de um rapaz é mais agradável do que da mulher.

O problema não era tanto o corpo e o sexo, mas as conseqüências e as injunções da presença feminina. Nada indica que a mulher grega não fosse formosa, ou fosse de difícil convivência. Mas o culto ao belo pode ter influenciado a preferência pelo homem, cujo corpo na juventude até os 30 anos sofria menos as conseqüências do sexo ou da maternidade.

Como os gregos chegaram a isso, os historiadores explicam em maiores detalhes, começando pelo que se sabe do século VIII a.C e indo até dois séculos antes de Cristo. O belo (kalós) aparentemente tinha outro significado na cultura grega. Englobava o esbelto e o bem construído. Hoje que as mulheres freqüentam academias e mantém, também elas um corpo sarado, entende-se que os apelos sexuais daqueles dias incluíssem corpo jovem e bonito. Os homens o cultivavam mais do que as mulheres. O esporte era mais do homem do que da mulher e a nudez mais coisa de homem do que de mulher.

O culto á forma, ao corpo, ao prazer, ao companheirismo, de certa forma isolava o sexo do amor e o homem da mulher. Casava-se, não por amor, mas por procriação, heranças e alianças. Amor e casamento não andavam juntos. O prazer também não era ligado a compromisso e a fidelidade. Por mais que alguns filósofos e pensadores alertassem contra relações estéreis e sem ágape, o amor erótico e não poucas vezes a pornéia dominou cenários e muitas épocas. Os vasos de cerâmica e os livros conservados até hoje o atestam.

O que hoje se lê nas cerâmicas, nos vasos, e em comédias e livros que sobreviveram, aponta para um tipo de sociedade para a qual o nu, o sexo em público, a pederastia e a pedofilia eram aceitos, ao menos em alguns setores das sociedades gregas, porque em Ellas, Grécia, não havia apenas uma sociedade. Variavam de cidade para cidade. É conhecida a distancia cultural entre Atenas e Esparta!

Os debates e embates eleitorais nas ultimas eleições presidenciais do Brasil dão uma idéia de como era a Atenas daqueles dias. Quem debatia não era julgado por um juiz, mas pela opinião pública. E quem convencesse mais o público sobre suas capacidades e qualidades pessoais e sobre os deslizes, desmandos e incapacidades do outro ganhava o debate. Valia a arte de convencer, sem muitas regras de conduta ou de ética. Foi exatamente o que houve nas últimas eleições. O público decidia quem mentia menos, quem envolvera mais o outro, mas não estava em jogo a lisura, o conteúdo, a verdade, ou a mentira e, sim, a habilidade retórica de provar que um era mais apto no discurso que o outro! Os espertos malasartes, os cômicos e os macunaímas acabam ganhando a simpatia do povo, mesmo que não tenham projetos sérios. Dizem a palavra simpática, do jeito simpático e na hora certa, mesmo que não seja palavra certa e verdadeira...

Não era diferente na Grécia dos oradores sofistas e casuístas. Vivia-se nessa sociedade claramente individualista, pragmática, sofista, dedicada a vencer a qualquer preço com louros para o vencedor, cada qual buscando sua liberdade, sua auto-afirmação e seu direito ao prazer. Confundia-se felicidade com prazer sensorial. O cultivo do espírito era coisa de poucos, por mais que hoje se decante a democracia e a cultura grega. Quem não quisesse, não se metesse e não olhasse. Seria o caso de dizer, se naquele tempo tivesse havido televisão: -“Se não gosta, mude de canal!”

Palavras como erastés e erómenos, nem sempre significavam sexo homossexual, mas na maioria das vezes, segundo alguns autores, referiam-se á atividade sexual masculina de um adulto com outro mais jovem. Alimentava-se a cantada e a perseguição e admirava-se o jovem que conseguisse fugir dela. Ao adulto era permitido tentar. Do jovem esperava-se que soubesse tirar proveito da situação.

Personagens como Ganimedes, Titônio, Apolo, Narciso eram retratados como de beleza que enfeitiçava homens e mulheres e até Zeus, o maior dos deuses... O próprio Zeus teria ímpetos de homossexualidade! Autores como Platão,Teógnis, Aristófanes tratavam abertamente da homossexualidade como comportamento aceito na sociedade de Ática e de Elas. Atenas e as outras cidades gregas, tudo no seu devido tempo viveram esta moral. Apenas o homossexual prostituto era punido, como foi o caso de Timarco, que fazia sexo por dinheiro. Mas não se punia nem a pedofilia nem o sexo livre entre homens.

Não entenderemos o movimento gay e seu grito “dignidade já”, que hoje leva milhões às ruas e nos desafia numa sociedade de maioria não gay, se não entendermos que algumas sociedades já aceitaram como normal o fato de um homem seguir a disposição para buscar prazer sensorial com pessoa do mesmo sexo, preferindo-o ao contato com o outro sexo.

Uma leitura da História do sexo aponta para eunucos, homossexuais, meninos, meninas ainda adolescentes e mulheres, usados contra a vontade para o prazer de ricos, aristocratas, imperadores, senhores e patrões, dominadores e guerreiros. E havia também as prostitutas que viveram da indústria do prazer sexual remunerado. Cada sociedade reprimiu, aceitou, incorporou e até cobrou impostos com esta atividade imensamente rendosa num tempo de poucas indústrias e pouca oferta de trabalho.

Entre as religiões, muitas se opuseram. Mas havia também aquelas nas quais o homossexual era aceito e acolhido e galgava postos de comando. Egito, China e Grécia, como exemplos. Variava com a dinastia. Mulheres virgens eram supervalorizadas e até tinham status de nobreza, mas muitas mulheres públicas também influenciaram reis e governos por suas prestações de serviço sexual e por organizarem uma indústria lucrativa e até mesmo vista como salvaguarda contra as demais mulheres, posto que se entendia como lugares de descarrego da libido masculina...

Na longa e acidentada história do sexo é bom acentuar os povos e a épocas. A mesma razão que levava as mulheres nômades de 11 mil anos atrás a terem filhos de sete em sete anos, máximo de dois durante uma vida que raramente passava dos 25 anos, a mesma razão leva as mulheres de hoje a terem no máximo um ou dois: e a razão era a dificuldade de mantê-los.

Naquele tempo, a natureza era hostil para com as mães. Hoje, a hostilidade é a do mercado, que com seus preços exorbitantes dificulta a manutenção de mais do que dois filhos. Há 11 ou 9 mil anos atrás não se produzia o suficiente. Não havia agricultura. Hoje há, mas o dinheiro não dá para comprar conforto para mais de dois filhos. Se o conforto de hoje é incomparável, as necessidades de hoje são insaciáveis. A mãe de 11 milênios atrás consumia pouco, mas o pouco era quase impossível de se encontrado. Era coisa de chance e acaso manter o filho vivo até os quinze anos.

Não é que as coisas tenham mudado. Hoje quem mais morre por conta da violência são jovens de menos de 25 anos. Nos tempos de agora, manter um filho vivo e bem educado com qualidade de vida consome cerca de 18 horas diárias de trabalho do casal. E não são poucos os casais que perdem os filhos para os traficantes. Somadas suas horas de trabalho o casal precisa controlar os mais de 40 compromissos assumidos pelo bem da casa, dos filhos e do futuro.

As mães da era nômade não tinham contas para pagar e não tinham mais filhos, não porque não queriam, mas porque ainda não havia agricultura de subsistência. As de hoje têm a subsistência garantida, desde que conheçam as normas da sobrevivência financeira e possam pagar o supermercado e as prestações e os impostos...

Onde entra o sexo? Em muitas situações, é diversão para quem tem lazer e ócio; em outras é válvula de escape para quem sente que a vida proibida ou sem sentido. O prazer da hora lhes cai bem. Vira desafogo. Apagam o fogo onde podem apagá-lo, e com quem puder apagar, de graça ou por algum dinheiro que sobra; às vezes até com o dinheiro que faltará aos filhos e á esposa.

Outros entregam seus bens a alguma igreja como forma de apagar um outro fogo que também lhes rói a existência. Mas todos compram prazer, sucesso, garantia de sobrevivência feliz! Tudo custa dinheiro ou submissão. E sempre há quem cobre caro. Isso também explica até o conforto, os aviões e a riqueza pessoal de alguns religiosos que oferecem seu know how sobre Deus, mas exigem pagamento.

Nada vem de graça. Nem mesmo a graça que em muitas igrejas, sem o menor disfarce, está associada ao dízimo. Pagou, ganhou; não pagou, espere castigo do céu!... Sempre há quem venda e cobre a porcentagem pelo know how! A prostituta por uma razão, o comerciante por outra, o governo por ainda outra e os pregadores por totalmente outra. Mas sem pagar não leva!...

Desapareceu a gratuidade do amor conjugal e das relações humanas. Há, hoje, uma relação homem mulher que não satisfaz a um segmento da sociedade. Por isso há homens que não desejam mulheres e mulheres que não desejam homens. O sexo heterossexual não os satisfaz nem atrai. Nem eles nem elas sabem explicar por que razão seus sentimentos convergem para alguém com as mesmas formas. Os muitos estudos não são conclusivos. Continuam contestados. Até as religiões acentuam que, em muitos casos, a pessoa não se torna homossexual: descobre que é. Depois disso, precisa decidir se assume seu desejo ou se o controla por algum motivo maior.

No discurso de Ésquines, ele mesmo declaradamente homossexual, parágrafos 29 a 32 se lê a respeito do cidadão “pepornêumenos” ou “hetairekós” isto é, homem que vende seu corpo para sexo:

-O legislador considerou que qualquer que tenha vendido o próprio corpo, para que outros o tratassem como quisessem (hybris) não hesitaria, tampouco, em vender os interesses da comunidade como um todo.

Ali, mesmo sendo ele adepto do relacionamento homossexual, mostrava uma sombra de preconceito. Afinal, outros cidadãos heterossexuais também vendiam a pátria por outras razões. Mas condenava-se o ato de “porneusthai”, ganhar dinheiro com sexo. Pornografia é, pois, ganhar dinheiro vendendo, escrevendo ou mostrando sexo. Isso era condenado. Aceitava-se sem grandes questionamentos o sexo gay sem preço. Péricles, famoso político, não hesitou em viver com uma ex prostituta Aspásia, a partir do momento em que ela se mostrou fiel a ele. Não houve compra.

No caso de Timarco, o raciocínio foi: - “Se não tivesse vendido seu sexo, por mais reprovável que fosse seu ato, não mereceria punição porque não teria misturado liberdade sexual com comércio do corpo”. Era abominável para um cidadão grego vender-se. “O que se condenou não foi o ato de “kharizesthai” (troca de carinhos), mas a hybristés (o vale tudo, exploração da outra pessoa), o ato de “porneusthai” (prostituir-se por dinheiro) e de “ hetairen”.

Ninguém poderia vender-se por sexo, nem vender mulheres, meninas ou meninos. Era severamente punido o pai que vendesse filha ou filho para fins de sexo.(hybristés) Aceitava-se a fornicação, mas não a prostituição.

Séculos depois, à medida que avançaram outras filosofias e religiões, filósofos e, mais tarde, religiosos proibiram aos casados, também a fornicação, porque também lesava os direitos do cônjuge e feria a gratidão. Mais adiante sexo passou a ser aceito só dentro do casamento! Os cristãos já estavam em cena.

Antes dos cristãos os estóicos haviam tentado purificar a relação conjugal e carnal. Mas foram os cristãos que, a partir do primeiro século, implantaram a exigência de sexo responsável e por amor, por dever e por justiça, obrigatoriamente hétero.

Na velha Grécia, contudo, assim que a religião pagã foi perdendo conteúdo e força, as autoridades fizeram vistas grossas e deixaram de interferir na vida sexual das pessoas. Também entre os cristãos, com o passar do tempo, em muitos países o princípio era um, mas a prática era outra. De povo em povo, assim que o Estado se libertava da influência da religião, adotava medidas mais liberais para com o exercício do sexo fora do casamento. Salvaguardava-se o interesse e os direitos do ou da cônjuge e dos filhos. Amancebar-se, ter amantes, ter sexo extra-conjugal tornou-se atividade aceita, desde que...

O “desde que”... vigora até hoje, por conta da insatisfação da pessoa que não se sente devidamente valorizada numa união. Há quem procure sexo, e há quem procure atenção. As religiões precisam lidar com todas estas situações e oferecer caminhos para aquele ou aquela que, crendo em Deus, precisa canalizar seus instintos sem cair em desespero, culpa ou desbragada licenciosidade.

O argumento de que Deus nunca disse nada sobre este ou aquele comportamento, ou de que as religiões e igrejas no passado permitiram é insuficiente, porque os tempos mudam e a sociedade se abre ou se fecha para determinados comportamentos, à medida que oferecem risco maior ou menor. Até mesmo regimes ateus lutam pela família por ver que excessiva abertura na questão do sexo prejudica a vida social dos “ companheiros” ou “camaradas”. Foi assim na Rússia, na China, na Romênia, no Camboja e é assim em grupos de guerrilheiros.

Com a evolução dos direitos da mulher e da criança, se ontem se aceitava a pederastia e a pedofilia, hoje a sociedade tem leis duríssimas contra tais atitudes porque o direito tornou-se mais exigente. Por outro lado, enquanto evoluiu a defesa da criança e do menino bonito perante o adulto que os cobiça sexualmente, praticamente os mesmos que defendem a criança indefesa apóiam o aborto contra o feto indefeso. Há quem alegue que o aborto é uma violência contra a mulher, esquecidos de dizer que também o é contra o feto. Falam do ponto de vista da grávida em risco de lesões e de morte, e esquecem o ponto de vista do nascituro exterminado. Estabelecem tamanho e idade para começar a defender uma vida humana...

Debate delicado, hoje, defensores do aborto, da união entre gays e homossexuais assumidos advogam direitos. Uns, como cultura e orgulho gay lutam por seu direito de amar alguém do mesmo sexo e assumir sua relação em público. Outros, pelo direito de a grávida decidir: usam a expressão “direito de escolha”, “pro-choice”. Só não dizem que ao escolher a grávida, aceitam a morte do seu feto. Ao defender a saúde da que não quer ser mãe, optam pela morte daquele que se pudesse falar quereria viver. Deveriam utilizar o termo “pro-pregnant-choice”, que seria ao mesmo tempo “anti-fetus-choice”. Já, a escolha da união gay não implica em morte e, sim, em rompimento com uma visão de família. Mas ambos querem mudanças no Código de Direito civil.

Se houve sociedades que permitiram, eles querem hoje a mesma liberdade; mas todos concordam que não se deve vender sexo, nem permitir estupros ou sexo não consentido. E, no caso de consentimento, quem consente precisa ter maturidade suficiente para consentir.

Não admitem que se confunda prostituição com homossexualismo nem pedofilia ou outros crimes, com ser homossexual. De fato, isso precisa ficar claro, para que mesmo discordando, não se cometam injustiças. Também eles advogam uma moral e um comportamento de respeito ao outro. Mas, consentido este, e tendo este adulto liberdade para escolher, advogam o direito de amá-lo, ainda que sendo do mesmo sexo. Querem também o direito de adotar filhos e criá-los a dois.

O pregador cristão baterá de frente com tais idéias. Uma sociedade que ainda hoje se pauta pelas normas cristãs, embora veja tantas injustiças no seu meio, vê a luta por práticas sexuais e maritais não cristãs tomar vulto e não pode se calar por nenhuma razão neste mundo. Trata-se de valores inegociáveis.

Igrejas cristãs observam o aumento das fileiras de quem defende o aborto em qualquer fase da gestação, o aumento do número de gays e lésbicas nas avenidas a reivindicar seus direitos e vê, também, a luta sem tréguas de uma sociedade que não admite nem vai admitir turismo sexual e, pior ainda, crianças a vender sexo ou a ser vendidas para sexo em motéis e estradas. È moral ambígua, que também atinge as igrejas, uma vez que estas fizeram e ainda fazem vistas grossas em suas fileiras quando pregadores da fé acusados e provadamente envolvidos com homossexualidade permanecem nos seus postos.

O visual na antiga Grécia e na antiga Roma era menos impactante do que o visual de hoje. Eles não tinham os recursos de agora. Nossa sociedade começa a ver com tolerância seus adolescentes, enamorados ou não, a praticar um sexo para o qual não estão preparados. Crianças e adolescentes são expostos a uma enxurrada de cenas de nudez e de sexo em plenas tardes de televisão. A Internet permite acesso a verdadeiras orgias sem possível controle parental, porque nem sempre a busca é feita dentro de casa. Aumentam as grávidas adolescentes, e, em algumas cidades, a aids é três vezes maior entre adolescentes grávidas. Não estavam preparadas e não souberam escolher parceiro nem se cuidar.

Cresce o numero de pais solteiros e, via de regra, o número de abortos. Aumenta a violência sexual, cresce a violência doméstica por conta de um sexo apressado e, depois, mal vivido. Quem queria todas as liberdades começa a gritar por cerceamento de algumas delas. Querem liberdade sexual, mas com limites e punições para quem passa do limite crucial. “Com crianças, não! À força, não!” Então o sexo nunca deve ser totalmente livre! Não deixa de ser uma descoberta significativa!

Pais que há menos de quinze anos eram a favor de sexo e amor livre e o praticavam, agora, com filhos em casa, descobrem a importância das paredes e da cumplicidade silenciosa na hora do sexo, do controle da televisão, da Internet, da roupa, do vídeo e das canções, porque sua cabeça mudou quando o ventre dela se alargou para hospedar um pequeno e bem vindo intruso...

As pessoas mudam, a sociedade muda e merece aplausos quando muda para melhor. Combatam-se mudanças que, -a História o registra-, fatalmente desembocaram em sofrimento para todos.

Riachos por mais bonitos, límpidos e livres que sejam, às vezes transbordam, enchem-se de lama e precisam ser canalizados. Nem tudo é lindo e maravilhoso com o riacho que passa no fundo de nosso quintal. Depende das chuvas e das tormentas na cabeceira. O sexo é este riacho. Nem tudo nele é lindo e maravilhoso. Depende do que vem das sarjetas e das cabeceiras.

O que deve fazer uma igreja cristã? Não se barra um riacho de maneira ingênua nem com engenharia errada. Ele acabara por explodir aquela barreira. Canaliza-se e deixa-se alguma vazão, controlam-se seus estágios com diques e lagoas e purifica-se aos poucos o que é uma força da natureza. Proibir e ameaçar com inferno chega a ser ridículo. Liberar tudo, como se isto fosse moderno é outra atitude ridícula. Sexo é força da natureza e forças da natureza supõem algum controle.

Não há porque uma igreja ter medo de discordar dos que defendem idéias outras em nome da modernidade. Ela tem, no mínimo, vinte séculos de Jesus e viu o que acontecia nas sociedades pagãs da Grécia e de Roma; sabe dos séculos que precederam Jesus, dos “apotétes” modernos onde se jogam os indesejados. Na Grécia Antiga falava-se até de crianças mortas ou deixadas a morrer pelo pai que não as aceitava; sabe-se das crianças rejeitadas, dos males da pederastia, da pedofilia e dos caminhos do homossexualismo em algumas sociedades. Não foram poucos os que morreram por práticas homossexuais. Períodos houve em que a intolerância desceu a zero.

Se não se pode nem se deve agredir e ofender os homossexuais assumidos, também eles não podem nos agredir e ofender por conta de nossa doutrina, que não aceita como sacramento e graça de Deus o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não ofendê-los e não ser violentos não significa, porém, concordar cm o que fazem. Se discordam de nós, temos também nós o direito de discordar deles. Se não podem usar de violência contra a religião que não aceitam, a religião que não os aceita não pode usar de violência contra eles; são filhos de Deus e não podem ser tratados como pessoas inferiores.

Pecado há e haverá entre heterossexuais, virgens, não virgens, pedófilos, pederastas, bem casados, solteiros, pregadores e não crentes. Ninguém está isento de erros contra os outros ou com os outros. Há beleza na amizade, beleza no amor humano, beleza nas relações humanas e beleza no perdão e na reconciliação. Eles vêem beleza no amor homossexual, mas a maioria das igrejas não vê. Nem um nem outro podem exigir que o outro mude, à força, de opinião. Podem, porém, exigir que o outro não os desrespeite por conta dessa divergência.

Na antiga Grécia era vedado ao que se prostituía o acesso a algumas funções públicas e religiosas, como hoje ainda há restrições à presença deles a algumas funções na sociedade. E aí outra vez o debate. Têm as igrejas o direito de não aceitá-los nas suas fileiras como sacerdotes ou pregadores? Tem o Estado o direito de impedi-los de exercer cargos no exército ou no governo? A discussão vai longe e nenhum dos dois lados está disposto a ceder, embora tenha havido leis em favor dos homossexuais.

O egoísmo torna o sexo feio. Determinadas relações sexuais, embora não sejam feias aos olhos de quem as assume, são feias para as Igrejas que há séculos assumiram cultura, antropologia, ou teologia diferente da pagã.

Os indícios de paganismo na acentuada liberdade sexual de agora estão nas bancas de esquina, nos outdoors, nas paredes, nas salas de cinema, na Internet, na televisão, em novelas, nas praias e onde quer que se exponha a nudez humana para fins eróticos. Está na licenciosidade das relações, na indústria do sexo, na proliferação de motéis e na coisificação do corpo humano. Por isso, uma universidade inteira que se dedica a informar e formar cidadãos preparados perde a batalha da mídia para uma jovem de vestido rosa, que transforma a agressão sofrida em arma, não de defesa, mas de luta. A mídia a instrumentaliza e, meses depois, ela acaba posando seminua na capa de revista erótica. A instituição de ensino não é entrevistada e não ganha capa de periódico, porque há uma indústria do prazer à qual não interessa dar cobertura à indústria do ensino.

Os cristãos viviam perplexos na Corinto que fabricava vasos de cerâmica e objetos eróticos. Na mesma cidade, na própria comunidade que ele fundara, Paulo combatia comportamentos sexuais desregrados; combatia eucaristias mal vividas e vida conjugal mal assumida. Mandou restaurar a prática correta da eucaristia e do ágape ( 1 Cor 11, 17-27) e mandou controlar o Erotikós e a Porné acontecidos na comunidade, coisa que nem os pagãos cometiam.... ( 1 Cor 5,1)

Nesse mesmo quadro se insere o texto acima citado aos romanos. Paulo escreve no inicio da sua carta sobre paixões infames, entre as quais inclui bestialidades, homossexualismo e outras práticas. Rm 1,23- 32. É severo contra elas e atribui estes costume ao paganismo. Cristão não pode compactuar.

Quando no seio do cristianismo começaram a acontecer tais comportamentos, as reações foram desde a dureza extrema de Jerônimo e Agostinho com relação à mulher e a práticas conjugais, até à permissividade de alguns grupos cristãos que, ontem ou hoje, abençoam a união de gays. Muito recentemente uma igreja cristã no Rio de Janeiro permitiu o casamento de dois pastores e outra igreja no Canadá cindiu-se por conta de um bispo que abandonou a esposa para casar-se com um fiel, enquanto insistia em continuar bispo daquela igreja.

Pecados graves de papas, bispos, padres e pastores são citados toda vez que o debate vem à tona, como prova de que as igrejas cristãs não têm autoridade para se opor às novas propostas de moralidade sexual vigentes entre os povos ainda ontem cristãos.

Perplexos como sempre, os cristãos pendulam entre condenar e permitir, tentar entender e negar-se ao debate. O prazer e o dever, as relações homem-mulher, as relações humanas e, agora, a mídia que as escancara em todas as portas e portais continuam a ser enormes desafios para os pregadores.

Pecadores também eles, sabem que, se mexerem no vespeiro, sobrarão picadas para eles. Como Jesus desafiou os que acusavam a mulher, e apenas a ela, de adultério, eles gritam aos religiosos de agora: “Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra.” Jo 8,7. E a lista dos pecados de pregadores nos últimos anos é enorme. Demonstra a força da libido e a fragilidade humana. Pecados de cá e pecados de lá! Como sexo é diálogo, está mais do que claro que a falta do diálogo gera um sexo faltoso. Cabe ás igrejas ensinar a canalizar riachos descontrolados da sociedade e, ela mesma, controlar os seus...


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