Padre Zezinho fala da Televisão Católica no Brasil
Pontos para reflexão em grupo
1) Pascom, ECC, MFC, RCC, Vicentinos, PJ, Pastoral Vocacional, Sacerdotes, casais, jovens, leigos com algum poder político ou econômico, deveríamos todos debruçar nossas mentes sobre a televisão que os católicos estão fazendo. Não dá mais para imaginar a nossa Igreja sem a Internet, sem o rádio, sem a televisão, tanto quanto não podemos admiti-la sem o culto, sem o púlpito e sem o cuidado dos mais pobres. A TV Católica poderia ser um instrumento eficacíssimo de inclusão social dos mais pobres. A informação, a educação e a motivação podem resgatar milhões de pessoas.
2) A TV Católica está fazendo isso? Seu conteúdo caminha nessa direção? Pode e deve um canal de televisão pregar a doutrina social da Igreja, as encíclicas sociais, o catecismo social, a moral, a ética e tudo aquilo que muda um coração e uma cabeça e o coloca a serviço do outro, movido pela compaixão? Tem a TV Católica do Brasil vivido o lema “tenho pena deste povo, porque parecem ovelhas sem pastor?”( Mt 9,36) É uma TV compassiva? Informa, forma, motiva, educa para o cuidado dos pobres e sofredores?
3) Não nos compete fazer nem um julgamento severo demais, nem aplaudir tudo o que os irmãos católicos que fazem TV andam fazendo. Eles estão aprendendo e buscando a linguagem certa, uma vez que tudo é relativamente novo, os recursos são poucos e o pessoal que faz TV ainda não achou o equilíbrio certo entre a doutrina, o devocional e o sociológico da fé. Tivemos uma TV Católica pioneira a cores nos anos 70 em Porto Alegre-RS, não prosseguiu. Depois disso, ainda, os franciscanos dirigem há 18 anos uma TV em Pato Branco, no Paraná. Os outros sete (7) não tem mais de sete anos: TV Século XXI, Rede Vida, TV Canção Nova, TV Imaculada, TV Horizonte, TV Nazaré, e em breve, TV Aparecida. Para uma Igreja que há 18 anos só tinha um canal e em sete anos tem oito, atingindo seguramente entre 25% a 40% da sua população foi um passo gigantesco.
4) Merecem aplausos os profetas que ousaram e nos deram com sua fé, seu sonho e sua santa teimosia o que temos hoje. Custa caro manter uma televisão e embora haja católicos agradecidos e amorosos que entendem e ajudam, há milhões de outros que aparentemente não se sentem chamados a ajudar a TV Católica ou o Rádio, pois também as emissoras católicas passam por dificuldades. Muitos não ajudam por não entenderem ainda o que significa ter nossos próprios canais de evangelização. Muitos, porque discordam do conteúdo e da importação daqueles canais que lhe solicitam uma contribuição.
5) E aqui entramos num aspecto crucial da questão. A quem a TV Católica está atingindo? Que tipo de programas nossas conseguem mais de um ponto de audiência? Por que não somos mais vistos e procurados? Nossos programas não agradam? Por que não agradam? Falta do quê? Excesso de quê? Onde estão os nossos educadores, catedráticos, católicos cultos, formadores de opinião? Diante das câmeras ou diante do aparelho? Qual o nível cultural e de informação teológica, pastoral, social e humanitária da TV Católica? Seus apresentadores apresentam que grau de cultura? Se não a possuem, abrem espaço para os irmãos mais informados? Valendo-se do seu talento, eles trazem quantos bispos, sociólogos, psicólogos, historiadores, liturgistas, pedagogos, catequistas para os seus programas? Há um projeto de catequese abrangente, uma grade que ofereça um ensino sistemático da fé católica para os 20 ou 30 milhões de católicos que sintonizam aquele canal? Ou cada apresentador escolhe o tema que quer sem nenhum projeto catequético que vá de A a Z.
6) Nossos programas são progressivos, obedecendo a um conteúdo programático como acontecem com aulas de colégio e de faculdade, ou cada apresentador sorteia um tema ou escolhe a esmo o assunto daquele dia?
7) Nossos programas apresentam toda semana ou todo dia uma santa novidade, ou são repetitivos refletindo a falta de leitura da produção e dos apresentadores?
8) Nós, apresentadores, aceitamos crítica e correção ou ficamos melindrados e contra-atacamos até no ar, quando alguém pede mais profissionalismo e melhor produção para os programas de TV? Quando aponta para os perigos de improviso e de charme sem projeto catequético.
9) Citamos com que freqüência frases e pronunciamento do papa, dos bispos, do bispo diocesano, da igreja local, da CNBB nos nossos programas?
10) Nossa pregação contém a transversalidade da fé que permeia toda a vida da Igreja e do povo brasileiro, ou é excessivamente tangencial pregando só o louvor ou a política? Não corremos o risco de fugir dos temas cruciais do nosso tempo ao não abordá-los nunca nos nossos programas? Temos esse direito?
11) Não corremos, alguns de nós, o risco de dar ênfase excessiva no indivíduo que fala ao invés de acentuar a fala do indivíduo? Não estamos destacando demais o apresentador, ao invés de destacar quem e o que ele apresenta? Duas ou três câmeras, mais serviço de VT poderia muito bem mostrar mais o povo, mais os livros, os textos, as imagens de fora, do que apenas o padre ou o leigo que fala. Custa caro, mas pode acabar custando mais caro com a perda de audiência o excesso de imagem do apresentador. Ninguém é tão charmoso a ponto de ter as câmeras 75% a 80%, às vezes, 95% do tempo no seu rosto! Vai cansar!
12) Diz Ricardo Mariano, excelente estudioso do Fenômeno Religioso e da Comunicação das Igrejas, (Porto Alegre, 13/11/04) “a festa foi no Brasil católico, um elemento extremamente importante para a religiosidade católica”. “O catolicismo no Brasil nunca foi muito profundo em termos de conteúdo. Foi sempre mais festivo e folclórico”. Cabe a nós que fazemos televisão, perguntar se queremos mais festa ou mais testa, mais sentimento ou mais pensamento, agora que o Brasil precisa de um pensamento social e de cristãos que o ajudem a se repensar como um povo que faz mais do que bater palmas e dançar nas avenidas. Ensinaremos o equilíbrio entre o dar o coração, chorar, emocionar-nos e a coragem de dizer as coisas, pôr gente nos governos municipais, estaduais e nas câmaras para trazerem mudanças? Os evangélicos estão colocando lá até os seus bispos.
Não nos envolveremos para formar católicos que sabem que tipo de nação e de noção queremos dar aos nossos jovens e as nossas crianças? Noticiaremos martírios como o de Irmã Dorothy ou faremos de conta que ele não aconteceu, enquanto preferimos que algum jovem dos nossos diga o quanto Deus fez por sua vida? Nossos programas vão ensinar democracia, misericórdia e justiça, ou continuaremos apenas orando, louvando, cantando e dançando na frente do altar, com ordens de pôr a mão no peito, na cabeça e para o alto? E não citaremos nunca as palavras do papa sobre a vida, o aborto, os direitos do povo, dos pobres, sobre a economia, sobre a espiritualidade do casal, sobre ecumenismo, eutanásia, clonagem e temas fortes do momento?
13) Deixaremos nossos telespectadores sem essas informações, porque não é conosco e sim com os teólogos e os bispos? Mas, se somos nós que atingimos milhões, não seria o caso de chamar quem entende? Se eles não vierem, não é o caso de usar dos seus livros e artigos e lê-los na televisão? Não é melhor do que todos dias dar o de sempre recheado de “eu acho”, “eu sinto”, “Jesus me disse” ? Não daremos mais a palavra oficial da Igreja e menos a dos videntes ou convertidos? Não seria melhor dar a palavra de um santo canonizado ou de um teólogo do que a nossa, por mais santos que sejamos?
14) É púlpito ou é palco? Somos apresentadores ou atores? Apresentamos a Igreja ou nos apresentamos? E o que temos a dizer que não precise da ajuda do papa, dos bispos, dos escritores e dos teólogos? Vamos dar só vivência ou vamos dar consciência social? Vamos combater o ecumenismo quando na Unitatis Redintegratis, na Ut unum sint e na Orientale Lumen os papas nos dizem que “entre os pecados que requerem maior empenho de penitência e conversão devem certamente ser incluídos os que prejudicam a unidade querida por Deus para o seu povo. O pecado de nossa divisão é gravíssimo...” (Orientale Lúmen). Nossas TVs Católicas vão ou não vão ser mais abertas e serem mais ecumênicas embora sejam nossas? Não traremos irmãos de outras confissões para conversar com eles?
15) Sucumbiremos ao isolamento ou conseguiremos fazer uma verdadeira rede de oito TVs que pensam juntas e seguem um projeto conjunto de evangelização?
16) Sucumbiremos à competição ou trabalharemos juntos na caridade de quem cede aqui e ali e admite que determinado território será coberto por aquele canal e não por nós? Sucumbiremos ao marketing sem ética ou daremos ética ao marketing que usaremos?
17) Nossas liturgias serão fiéis à proposta dos que a conhecem e estudam ou continuarão à mercê do câmera, do animador ou do celebrante que introduzirá elementos estranhos à celebração, chamando os anjos com espadas para expulsar demônios na hora do Pai Nosso, ao invés de invocar, se é que há demônios na assembléia, o Cristo que já está naquele altar ? A missa será do povo ou do padre ”X”? Continuaremos falando de missa de libertação, missa carismática, missa política, ou missas com ou para “determinados” grupos ou situações? Imporemos na TV nosso jeito de ser católicos ou seremos capazes de “partilhar” com outros os nossos enfoques, sempre em diálogo e harmonia?
18) Fecharemos nosso palco, nossas editoras, nossa rádio e nossa televisão para irmãos católicos que nos amam, mas não pensam como nós? Silenciaremos a voz daquele doutor ou pregador só porque nos alertou para alguns aspectos? Proclamá-lo-emos inimigo só porque nos questionou?
19) Nossos programas são passíveis de críticas, ou de melhoria e correções ou não são? Queremos aprender juntos, a fazer uma televisão católica sólida, ou continuaremos, cada um do seu jeito e no seu canto, a pregar uma fé de compartimentos estanques, com apresentadores que comunicam na TV, mas que jamais se comunicam entre si?
20) Sugiro mais encontros e não apenas dos diretores de TV, que, é bom que todos saibam, já o fizeram com enorme humildade. Mas que haja também o encontro dos principais apresentadores, com bispos e irmãos especialistas em determinados temas da fé. Nós, apresentadores, precisamos apresentar mais a Igreja e as idéias de Igreja e menos as nossas... muito menos! Serei ouvido? Incomodarei? Ou artigos como este são válidos para fazer o leitor entender que, além de pagar o boleto bancário que mantém nossas televisões no ar, ele pode agir e reagir melhorando nossa programação para que seja representativa de todos os grupos católicos e assim verdadeiramente católica?. Incluo-me entre os que precisam aprender a fazer televisão. É empresa tão complicada que exige aprendizado e diálogo permanente! Amém!
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