Relacionamento, solidão e aproximação
A relação humana é uma arte em que aprendemos viver juntos com os outros
Da CNBB
Nestes tempos de ativismo exagerado, onde não se tem tempo, nem para deliciar um jantar com os amigos, desta forma, coloca-se em cheque também o valor bonito do encontro e de relações amigáveis duradouras. Entre idas e vindas, a solidão e a aproximação jogam um papel definitivo na busca de um relacionamento verdadeiro.
Tanto uma como a outra são carregadas de significados positivos e negativos. Nem sempre se consegue o equilíbrio exigido, que pode ser comparado ao de um malabarista ao transpor um espaço vazio pisando em corda bamba. Quantas vezes tudo termina em frustrações e desencantos como também em alegrias e satisfações.
A relação humana é uma arte em que aprendemos viver juntos com os outros. Toda relação humana é fonte de problemas, conflitos e realizações. Buscamos o outro porque temos solidão, o frio inverno da angústia.
Queremos sair do silêncio ensurdecedor do isolamento, na pretensão de satisfazer as carências do amor/gratidão. Muitas vezes falta a pedagogia do saber esperar. Assim a busca demasiada de aproximação pode provocar sufocamento, ou seja, um exagerado esperar do outro pelo excesso de apego. Por isso que relar demais machuca e dói. Relar nunca foi relacionar-se.
Relacionar-se com certa distância por sua vez, aquece. Solidão e isolamento constituem uma experiência essencial para o relacionamento humano. A solidão é a experiência que potencializa e proporciona o encontro e a comunicação com o outro.
A experiência de solidão remete à individuação e a uma ruptura com o estado de fusão com o outro. Somos seres separados e não colados. A experiência da solidão é a capacidade de amar com independência e autonomia, elaborando a dor da ausência entre o eu e o outro.
O mundo das relações vem carregado do medo de estar só. Ao mesmo tempo a aprendizagem na solidão e no isolamento, quando vividos intensamente não como fuga e sim como encontro consigo mesmo é capaz de fecundar o nascer de relações reveladoras do divino presente em cada ser humano.
Na medida em que revelamos o que realmente somos e temos, não com a razão, mas com o coração capaz de amar e ser amado, teremos a certeza de construir a base firme de uma vida de relações realizadoras, plenificando toda existência.
Acredito que a realização pessoal está em construir pontes entre corações que sabem curtir e assumir juntos os conflitos. Enquanto não estabelecer o direito de ser feliz junto, na busca constante de revelar o mais profundo do ser humano, do meu ser gente, nunca a gratuidade do amor de Deus encontrará espaço para transformar o humano em divino.
Quantas situações poderiam ser resolvidas de maneira simples e direta se o coração humano soubesse que jamais está sozinho. “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos”, diz o Senhor. Preciso viver a solidão, não como fuga e sim como graça. Preciso me aproximar, não como compensação e sim como complemento. Preciso de relações com o outro e com o totalmente outro para revelar o que sou e compreender o que Deus fez e faz em mim cada dia.
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá
Seja o primeiro a comentar!