Apresentação de Nossa Senhora no Templo

Segunda-feira, 21 de novembro de 2011


A memória que a Igreja celebra hoje não encontra fundamentos explícitos nos Evangelhos Canônicos, mas algumas pistas no chamado proto-evangelho de Tiago, livro de Tiago, ou ainda, História do nascimento de Maria. A validade do acontecimento que lembramos possui real alicerce na Tradição que a liga à Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, construída em 543, perto do templo de Jerusalém.

Os manuscritos não canônicos, contam que Joaquim e Ana, por muito tempo não tinham filhos, até que nasceu Maria, cuja infância se dedicou totalmente, e livremente a Deus, impelida pelo Espírito Santo desde sua concepção imaculada. Tanto no Oriente, quanto no Ocidente observamos esta celebração mariana nascendo do meio do povo e com muita sabedoria sendo acolhida pela Liturgia Católica, por isso esta festa aparece no Missal Romano a partir de 1505, onde busca exaltar a Jesus através daquela muito bem soube isto fazer com a vida, como partilha Santo Agostinho, em um dos seus Sermões:

"Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação; criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Fez Maria totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. E assim Maria era feliz porque já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente".

A Beata Maria do Divino Coração dedicava devoção especial à festa da Apresentação de Nossa Senhora, de modo que quis que os atos mais importantes da sua vida se realizassem neste dia.

Foi no dia 21 de novembro de 1964 que o Papa Paulo VI, na clausura da 3ª Sessão do Concílio Vaticano II, consagrou o mundo ao Coração de Maria e declarou Nossa SenhoraMãe da Igreja.

Nossa Senhora da Apresentação, rogai por nós!


Hoje:

Dia da Homeopatia, Dia das Saudações


Leituras

Primeira Leitura (Zacarias 2,14-17)
Leitura da profecia de Zacarias

2 14 "Solta gritos de alegria, regozija-te, filha de Sião. Eis que venho residir no meio de ti - oráculo do Senhor.

15 Naquele dia se achegarão muitas nações ao Senhor, e se tornarão o meu povo: habitarei no meio de ti, e saberás que fui enviado a ti pelo Senhor dos exércitos.

16 O Senhor possuirá Judá como seu domínio, e Jerusalém será de novo (sua cidade) escolhida.

17 Toda criatura esteja em silêncio diante do Senhor: ei-lo que surge de sua santa morada".


Salmo responsorial Lucas 1

O Poderoso fez por mim maravilhas
e santo é o seu nome.

A minha alma engrandece o Senhor,
e se alegrou o meu espírito em Deus, meu salvador.

Pois ele viu a pequenez de sua serva,
desde agora as gerações hão de chamar-me de bendita.
O Poderoso fez por mim maravilhas
e santo é o seu nome!

Seu amor, de geração em geração,
chega a todos os que o respeitam.
Demonstrou o poder de seu braço,
dispersou os orgulhosos.

Derrubou os poderosos de seus tronos
e os humildes exaltou.
De bens saciou os famintos
e despediu, em nada, os ricos.

Acolheu Israel, seu servidor,
fiel ao seu amor,
como havia prometido aos nossos pais
em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre.


Evangelho (Mateus 12,46-50)

12 46 Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar.

47 Disse-lhe alguém: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te".

48 Jesus respondeu-lhe: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?"

49 E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: "Eis aqui minha mãe e meus irmãos.

50 Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe".


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. "Os parentes de Jesus..."

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

( Embora não pareça, é um momento em que Jesus confirma a sua "ruptura" com a família, por causa da sua opção definitiva pelo Reino de Deus)

Convém explicar duas coisas importantes senão vamos "vestir um Santo" e deixar o outro descoberto. O termo mãe e irmãos não é aplicado no texto do modo como entendemos hoje, a mulher progenitora, aquela que deu a luz a Jesus, e seus irmãos de sangue. Irmãos é um termo comum aplicado a parentesco, principalmente aos primos, e a palavra Mãe, é a Mulher idosa daquela casa que é a Matriarca. Então não dá para afirmar categoricamente que a MÃE era Maria de Nazaré, mesmo porque, o assunto que eles iriam tratar com Jesus era tentar convencê-lo a desistir daquela vida, suspeitavam até que ele estivesse com algum "desvario" ou "demência".

Não queremos aqui defender Maria de Nazaré, mesmo porque ela não era uma super mulher que sabia tudo a respeito do seu Filho, se essa Mãe mencionada pelo evangelista, for Maria, não há nenhum problema nisso, acontece que as probabilidades de não ser Maria são muito grandes, pois Maria, sempre discreta, jamais iria procurar o Filho publicamente, mas conversaria com ele a sós, em outra hora. Mas olhando a resposta de Jesus, podemos perceber que, ainda que fosse Maria de Nazaré, as palavras do Filho não significaram para a Mãe um desprezo ou indiferença, ao contrário, um elogio, pois quem como Maria, de modo excelente fez a vontade do Pai? Maria é a primeira cristã, a primeira discípula, justamente porque confiou em Deus e se fez serva para cumprir a sua vontade.

Mas o texto mostra que nada ou ninguém, nem mesmo os laços familiares, conseguirão impedir que ele siga o caminho que escolheu, onde cumprirá com extrema fidelidade a Vontade do Pai, consumando a sua vida, para restituir ao homem a Dignidade que um dia ele recebeu na obra da Criação.

Quem caminhar com ele, por causa dessa mesma opção, tomará parte do seu reino, estará com ele em comunhão, pois na comunidade cristã o que nos une não são mais os laços familiares, mas a Fé, a Graça de Deus recebida, a partir de um único Batismo.

2. A paternidade de Deus

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Encontramos esta narrativa nos três evangelhos sinóticos. O destaque é a questão dos laços familiares dos discípulos de Jesus. A questão fica perfeitamente delineada na frase inicial: enquanto as multidões estão junto de Jesus, sua mãe e seus irmãos "ficam de fora".

As multidões são aqueles que, curiosos e esperançosos, estão buscando algo de novo, atentos a Jesus. Porém ainda não se definiram. Mateus destaca, então, dentre a multidão, a presença dos discípulos, em direção aos quais Jesus estende a mão. Discípulos são aqueles que, dentre a multidão, já deram o passo decisivo no seguimento de Jesus. A família fica de fora. Aí, a palavra decisiva de Jesus: "...todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe." É característico de Mateus destacar a paternidade de Deus: "a vontade do meu Pai, que está nos céus".

Vamos reencontrá-la na oração do Pai-Nosso. Está feita uma advertência à família consangüínea, em geral conservadora, no sentido de abrir-se na acolhida a Jesus, empenhando-se em fazer a vontade do Pai. Os discípulos superando os limites da família, abandonam-se à vontade do Pai e unem-se em uma grande família em torno de Jesus.

3. LAÇOS FAMILIARES

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

Esta narrativa de Mateus também é encontrada nos evangelhos de Marcos e Lucas. A figura central é a "mãe".

No processo de geração a mulher-mãe tem um papel fundamental. A própria Terra é tida como "mãe" em relação à vida que, sem cessar, desabrocha em sua superfície. Na narrativa há um confronto entre as multidões às quais Jesus fala, e sua família, mãe e irmãos, que ficam de fora e procuram falar com Jesus.

A família, tendo a mãe como centro, está na base do conceito de Israel e é o elo fundamental da continuidade da tradição do judaísmo. Abraão e sua descendência, a partir de Sara, constituem o povo eleito. Em continuidade, Davi e sua descendência constituem a dinastia real escolhida por Javé.

O sacerdote hereditário é a base do poder do Templo. Daí as genealogias que confirmavam as purezas racial e funcional. Enquanto a pureza religiosa exigia o afastamento das multidões, Jesus se põe em íntimo contato com elas. Removendo a prioridade dos laços consangüíneos familiares, que garantiam o privilégio da eleição, Jesus, sem exclusões, constitui a grande família unida no cumprimento da vontade do Pai, que deseja vida plena para todos.