Exaltação da Santa Cruz
Quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Nos reunimos com todos os santos, neste dia, para exaltar a Santa Cruz, que é fonte de santidade e símbolo revelador da vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e o demônio; também na Cruz encontramos o maior sinal do amor de Deus, por isso :
"Nós, porém, pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos " (I Cor 1,23)
Esta festividade está ligada à dedicação de duas importantes basílicas construídas em Jerusalém por ordem de Constantino, filho de Santa Helena. Uma, construída sobre o Monte do Gólgota e outra, no lugar em que Cristo Jesus foi sepultado e ressuscitado pelo poder de Deus.
A dedicação destas duas basílicas remonta ao ano 335, quando a Santa Cruz foi exaltada ou apresentada aos fiéis. Encontrada por Santa Helena, foi roubada pelos persas e resgatada pelo imperador Heráclio. Graças a Deus a Cruz está guardada na tradição e no coração de cada verdadeiro cristão, por isso neste dia, a Igreja nos convida a rezarmos: "Do Rei avança o estandarte, fulge o mistério da Cruz, onde por nós suspenso o autor da vida, Jesus. Do lado morto de Cristo, ao golpe que lhe vibravam, para lavar meu pecado o sangue e a água jorravam. Árvore esplêndida bela de rubra púrpura ornada dos santos membros tocar digna só tu foste achada".
"Viva Jesus! Viva a Santa Cruz!"
Santa Cruz, sede a nossa salvação!
Hoje: Dia da Cruz, Dia do Frevo
Leituras
Primeira Leitura (Números 21,4-9)
Leitura do livro dos Números.
Partiram do monte Hor na direção do mar Vermelho, para contornar a terra de Edom. Mas o povo perdeu a coragem no caminho, e começou a murmurar contra Deus e contra Moisés: "Por que, diziam eles, nos tirastes do Egito, para morrermos no deserto onde não há pão nem água? Estamos enfastiados deste miserável alimento."
Então o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes, que morderam e mataram muitos. O povo veio a Moisés e disse-lhe: "Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós essas serpentes." Moisés intercedeu pelo povo, e o Senhor disse a Moisés: "Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo."
Moisés fez, pois, uma serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.
Salmo 77/78
Das obras do Senhor, ó meu povo, não te esqueças!
Escuta, ó meu povo, a minha lei,
ouve atento as palavras que eu te digo;
abrirei a minha boca em parábolas,
os mistérios do passado lembrarei.
Quando os feria, eles então o procuravam,
convertiam-se correndo para ele;
recordavam que o Senhor é sua rocha
e que Deus, seu redentor, é o Deus altíssimo.
Mas apenas o honravam com seus lábios
e mentiam ao Senhor com suas línguas;
seus corações enganadores eram falsos
e, infiéis, eles rompiam a aliança.
Mas o Senhor, sempre benigno e compassivo,
não os matava e perdoava seu pecado;
quantas vezes dominou a sua ira
e não deu largas à vazão de seu furor.
Evangelho (João 3,13-17)
Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna. Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Cruz: A Vitória do Amor
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Afirmar, antes do século IV, que Jesus foi um vencedor na cruz do calvário, era passar-se por ridículo, fazer zombaria com a desgraça e a tragédia que se abateu sobre o Nazareno. Na própria comunidade cristã, o uso da cruz como símbolo cristão, só viria após esse período.
Falar de alguém que morreu numa cruz, ser seguidor de suas idéias e ensinamentos, era empreender uma caminhada incerta que poderia terminar em fracasso, pois antes da conversão do imperador Constantino, o Cristianismo era considerado uma seita. Há uma linha crescente no evento Jesus de Nazaré, que começa com o seu batismo, prolongando-se nos grandes prodígios que realizou inclusive a ressurreição de mortos, que atinge o seu ápice quando o povo vê nele os sinais messiânicos aclamando-o como rei na subida para Jerusalém, cuja entrada triunfal era a concretização do ideal de libertação, sonhado e alimentado no coração do povo. Entretanto, esse evento marcou na verdade o início de uma tragédia, que iria culminar com a morte humilhante e vergonhosa na cruz do calvário.
A cruz foi assim, até o século IV o símbolo do fracasso e da vergonha, porém, no evento pós- pascal, os seguidores de Jesus, os discípulos e todos os que professavam nele a sua fé, são convidados agora a olhar para o lenho da cruz com um olhar diferente, iluminado pela glória da ressurreição. Um olhar que transcende o próprio objeto, enxergando no crucificado a concretização do projeto de Deus, seria, portanto o ápice da glória do Filho do Homem, o momento da sua morte na cruz, ilumina a existência humana dando-lhe um novo sentido e mostrando a vocação do homem, criado a imagem e semelhança de Deus, à plenitude do amor.
Os que rejeitavam Jesus, sua pessoa e seu anúncio revolucionário, ao ser levantada a cruz no alto do Gólgota, enxergaram apenas um homem agonizante, um derrotado que o poder Imperial e Religioso fez calar a boca, o poder religioso tinha boas razões para querer acabar definitivamente com Jesus, ele ousara falar de uma salvação que não passava pelos padrões religiosos do Povo de Israel, e isso era imperdoável. Entretanto, aquela cruz, sinal de aparente fracasso, torna-se a maior e mais explícita declaração de amor de Deus pela humanidade, e nesse caso, o homem olhando para o crucificado, sentindo-se tocado em seu íntimo por um tão grande amor, reconhecerá em Jesus, esmagado na cruz, a glória de um amor nunca antes conhecido por nenhum homem, nesse sentido, deve-se olhar para a cruz com o coração.
Contrariando o princípio imperialista da desigualdade social, que facilita a classe dominante, o cristianismo se fundamenta na igualdade e justiça social, a partir da liberdade. Nesse sentido o Deus dos Cristãos é o Deus Libertador, que assim manifestou-se no fato histórico do Povo Hebreu no Êxodo do Egito, uma prefiguração da libertação plena do mal do pecado, que Jesus, o novo Moisés realizou. Confiança e fidelidade na ação Divina a favor do povo oprimido e explorado é o que as leituras desse domingo nos pedem, os deuses de ontem e de hoje, apesar de muito sedutores, conduzem o povo à morte, como as serpentes do deserto. Há um só Deus Criador, Redentor, Libertador, que pode salvar o homem: é Jesus, o Filho de Deus, encarnado na história do homem. A salvação e a libertação estão disponíveis a todo homem que crer nele.
Olhar para a cruz com um olhar de esperança e fé, é um grande desafio, porque os olhos da carne vislumbram apenas um homem derrotado, esmagado, destruído pelo poder do mal, mas o olhar de fé sabe vislumbrar, além do fracasso a glória que envolveu Jesus, no preciso momento em que o Pai foi glorificado, porque seu amor, presente no mistério, oculto desde toda a eternidade, agora se torna visível, sendo impossível não crer nesse amor, pois como afirma João – Deus é amor e somente um amor grandioso como o de Jesus, foi capaz de tão grande sacrifício, a favor dos homens, transformando o fracasso da cruz na maior de todas as vitórias sobre o mal, de maneira definitiva. (Exaltação da Santa Cruz Jo 3, 13-17)
2. Jesus revela que a plenitude da condição humana
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Este texto do evangelho é parte do discurso de Jesus, em continuidade com o diálogo com Nicodemos, apresentado pelo evangelista João.
Jesus revela que a plenitude da condição humana não resulta da observância da Lei, mas passa pelo renascer no Espírito, no dom do amor, pelo qual se chega à vida eterna.
O Filho do Homem desceu do céu para revelar seu amor ao mundo e será "levantado". O Filho do Homem é Jesus solidário com a humanidade. "Levantado" significa a humanidade elevada em sua dignidade por Jesus, e, também, Jesus levantado na cruz.
A serpente de bronze atribuída a Moisés tornou-se objeto de idolatria e foi destruída pelo rei Ezequias (2Rs 18,4). João a associa com a cruz de Jesus. A cruz é a expressão do poder da morte ao alcance dos chefes deste mundo.
A lembrança de Jesus na cruz nos faz conscientes de que os chefes do mundo, ainda hoje, têm este poder de morte e o exercem, enlouquecidos por suas ambições. Na nossa América Latina temos a lembrança dos que foram sacrificados por suas lutas a favor dos pobres e oprimidos.
A humanidade é exaltada pelo dom da vida eterna na encarnação de Jesus, comunicando a todos seu amor libertador, pelo que foi crucificado.
3. SALVOS PELA CRUZ
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
A expressão "exaltação da cruz" deve ser corretamente compreendida para se evitar mal entendidos. Erraria quem a interpretasse como uma apologia do sofrimento, privando-a do contexto em que se deu na vida de Jesus.
O diálogo com Nicodemos ajuda-nos a encontrar o sentido da cruz, no conjunto do ministério do Mestre. Evocando a serpente de bronze erguida por Moisés no deserto, Jesus afirmava ser necessário que ele também fosse elevado para salvar os que haveriam de crer nele.
Como a serpente de bronze era penhor de vida para o povo pecador que a contemplava no alto do mastro, o mesmo aconteceria com o Messias. A força salvadora do Filho erguido na cruz era uma clara manifestação da presença do Pai em sua vida. Afinal, na cruz, o Filho revelava sua mais absoluta fidelidade ao Pai. Por se recusar a não trilhar o caminho traçado pelo Pai, teve de se confrontar com a terrível experiência de sofrer a morte dos malfeitores. Assim, tornou-se fonte de salvação.
A exaltação da cruz tem por objetivo glorificar Jesus por seu testemunho de adesão incondicional ao querer do Pai. Só é capaz deste gesto quem acolheu a salvação de que é portadora, e deseja mostrar-se agradecido a Jesus, por tamanha prova de amor. Quem se dispõe a abrir o coração e deixar a cruz dar seus frutos de vida e salvação, irá beneficiar-se do amor infinito que o Pai demonstrou pela humanidade pecadora.