Nossa Senhora do Ó

Domingo, 18 de dezembro de 2011


Festa católica de origem claramente espanhola, a festa de hoje é conhecida na liturgia com o nome de "Expectação do parto de Nossa Senhora", e entre o povo com o título de "Nossa Senhora do Ó". Os dois nomes têm o mesmo significado e objetivo: os anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. Anelos de milhares e milhares de gerações que suspiraram pela vinda do Salvador do mundo, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria, como no mais puro e limpo dos espelhos. A Expectação (expectativa) do parto não é simplesmente a ansiedade, natural na mãe jovem que espera o seu primogênito; é o desejo inspirado e sobrenatural da "bendita entre as mulheres", que foi escolhida para Mãe Virgem do Redentor dos homens, para corredentora da humanidade. Ao esperar o seu Filho, Nossa Senhora ultrapassa os ímpetos afetivos de uma mãe comum e eleva-se ao plano universal da Economia Divina da Salvação do mundo.

As antífonas maiores que põe a Igreja nos lábios dos seus sacerdotes desde hoje até a Véspera do Natal e começam sempre pela interjeição exclamativa Ó ("Ó Sabedoria... vinde ensinar-nos o caminho da salvação"; "Ó rebento da Raiz de Jessé... vinde libertar-nos, não tardeis mais"; "Ó Emanuel..., vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus"), como expoente altíssimo do fervor e ardentes desejos da Igreja, que suspira pela vinda de Jesus, inspiraram ao povo espanhol a formosa invocação de "Nossa Senhora do Ó". É ideia grande e inspirada: a Mãe de Deus, posta à frente da imensa caravana da humanidade, peregrina pelo deserto da vida, que levanta os braços suplicantes e abre o coração enternecido, para pedir ao céu que lhe envie o Justo, o Redentor.

A festa de Nossa Senhora do Ó foi instituída no século VI pelo décimo Concílio de Toledo, ilustre na História da Igreja pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de Potâmio, Bispo bracarense, pela leitura do testamento de São Martinho de Dume e pela presença simultânea de três santos de origem espanhola: Santo Eugênio III de Toledo, São Frutuoso de Braga e o então abade agaliense Santo Ildefonso.

Primeiro comemorava-se hoje a Anunciação de Nossa Senhora e Encarnação do Verbo. Santo Ildefonso estabeleceu-a definitivamente e deu-lhe o título de "Expectação do parto". Assim ficou sendo na Hispânia e passou a muitas Igrejas da França, etc. Ainda hoje é celebrada na Arquidiocese de Braga.

Nossa Senhora do Ó, rogai por nós!


Hoje:

Dia do Mergulhador, Dia do Museólogo


Leituras

Primeira Leitura (2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16)
Leitura do Segundo Livro de Samuel

1 Tendo-se o rei Davi instalado já em sua casa e tendo-lhe o Senhor dado a paz, livrando-o de todos os seus inimigos,
2 ele disse ao profeta Natã: “Vê, eu resido num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda!”

3 Natã respondeu ao rei: “Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo”.

4 Mas, nessa mesma noite, a palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos:
5 “Vai dizer ao meu servo Davi: ‘Assim fala o Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar?

8 Fui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo, Israel.

9 Estive contigo em toda a parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre como o dos homens mais famosos da terra.

10 Vou preparar um lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que possa morar lá sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo como outrora,
11 no tempo em que eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. Concedo-te uma vida tranqüila, livrando-te de todos os teus inimigos. E o Senhor te anuncia que te fará uma casa.

12 Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza.

14 Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. 16Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre”.


Salmo 88 (89) Fx 8

Ó Senhor, quero cantar o vosso nome * desde agora e para sempre!

  1. Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor, * de geração em geração eu cantarei vossa verdade! * Porque dissestes: “O amor é garantido para sempre! * E a vossa lealdade é tão firme como os céus.”

  2. Eu firmei uma aliança com meu servo, meu eleito, * e eu fiz um juramento a Davi, meu servidor. * Para sempre, no teu trono, firmarei tua linhagem, * de geração em geração garantirei o teu reinado!”

  3. Ele então, me invocará: “Ó Senhor, vós sois meu Pai, * sois meu Deus, sois meu rochedo onde encontro a salvação!” * Guardarei eternamente para ele a minha graça * e com ele firmarei minha aliança indissolúvel!”

Evangelho (Lc 1,26-38)

P. Naquele tempo, 26o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27 a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria.

28 O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”

29 Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação.

30 O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.

31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus.

32 Ele será grande, será chamado Filho do altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi.

33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”.

34 Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?”

35 O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus.

36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril,

37 porque para Deus nada é impossível”.

38 Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. "JESUS, O FILHO DE MARIA!"

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Depois do nome, a referência mais importante de uma pessoa é a sua filiação, filho de fulano e de cicrana, ter uma mãe e um pai, uma origem, algo que está na essência da nossa humanidade, sem essa referência, até da existência se pode duvidar. Quem é ele, filho de quem, onde mora? O Filho de Deus, onipotente, onipresente, onisciente, aceita trilhar o mesmo caminho do homem. A encarnação é obra de Deus, mas que irá acontecer com a colaboração do homem.

O rei Davi era a dinastia mais famosa de Israel, pois unificara o norte e o sul formando um dos maiores impérios do oriente, o povo sonhava com aqueles tempos em que Israel era uma nação respeitada e temida pelas demais, pois o rei Davi impunha respeito, pelo poder do seu numeroso exército, mas acima de tudo por ter sido ungido do Senhor, pois ser rei era uma missão divina. As profecias falavam que o esperado messias era dessa família e que seria igual ou até melhor que Davi, ele era para o povo o braço poderoso de Deus lutando a favor dos pobres, alinhando-se com os homens justos e punindo os maus.

Os grandes acontecimentos ou decisões importantes que representem mudança na vida do povo, só poderiam ocorrer no meio dos poderosos, ao povo cabia ouvir, dizer amém e agüentar as conseqüências. Entretanto a vinda do messias começa a ser articulada entre Deus e uma mocinha pobre da periferia chamada Nazaré, até ela própria fica assustada e surpresa quando percebe que está em suas mãos mudar os rumos da história do seu povo. A mudança dos rumos de uma nação, só começa a acontecer de fato, quando o povo descobre a sua força. Deus nunca seguiu as estruturas humanas para realizar a salvação da humanidade, escolhe como parceiro pessoas fracas, aparentemente incapazes de fazer qualquer mudança.

Por caminhos tortuosos, incompreensíveis para os homens, Deus irá cumprir com a promessa, o noivo de Maria chama-se José e pertence a família do grande rei Davi mas apesar disso, José é um homem do povo, que vive de sua profissão de carpinteiro. E Maria? Quais eram seus planos de vida?

Todos nós temos de ter um projeto de vida, quem não tem, acaba não vivendo bem e nem sabe o sentido da vida. Maria estava prometida em casamento a José, como seu povo ela também esperava o messias, ela também alimentava no coração a esperança de dias melhores.

E em um momento de oração Maria se abre para ouvir a Deus e descobrir a sua vontade a seu respeito. Somente uma fé madura e consciente consegue se abrir diante de Deus e ao mesmo o questiona. Há certas coisas em nossa vida de difícil solução, e que seria tão bom se Deus fizesse do nosso jeito. Não que Deus seja sempre do contra, mas nunca vai ser do nosso jeito. Em Maria vemos o que é realmente a fé, quando não fazemos questão que seja do nosso jeito, mas sim do jeito de Deus, daí é que as coisas vão acontecer. Só que o jeito de Deus não é muito fácil de aceitar porque ultrapassa a lógica humana.

Maria não é casada, não tem marido, quando ela apresenta essa dificuldade o anjo anuncia que as coisas irão acontecer do jeito de Deus e para que Maria possa confiar é lhe dado um sinal, a prima Isabel, avançada em idade e ainda por cima estéril, irá conceber uma criança. Os sinais de Deus nunca seguem a lógica humana, mas é preciso confiar. E Maria aceita totalmente a missão, que não será das mais fáceis, abre mão de todos os seus planos, inclusive o casamento com José, ela aceita o risco de ser acusada de infidelidade, o que poderia fazer com que fosse condenada á morte, caso o noivo a denunciasse.

Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra - Para nós, hoje é muito fácil aceitar e entender essa história. Mas pensemos um pouco em Maria, que não fazia idéia do que vinha pela frente, mas sabia que Deus estava com ela.

Hoje o reino de Deus vai acontecendo e sendo edificado em meio aos homens, na medida em que, como Maria, nós aceitamos o desafio, fazendo de nossa vida uma entrega total e silenciosa nas mãos do Pai. Para isso é sempre preciso renovar a cada dia a decisão em favor de Jesus e seu reino...

José da Cruz é diácono permanente da
Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim/SP
e-mail: [email protected]

2. Maria, escolhida por Deus

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

A narrativa da anunciação do anjo a Maria é exclusiva do evangelho de Lucas. No evangelho de Mateus a comunicação do anjo é feita a José. O evangelho mais antigo, de Marcos, inicia-se com a pregação de João Batista e o batismo de Jesus. Lucas, por sua vez, em uma perspectiva retrospectiva, iniciará com o anúncio do nascimento de João a Zacarias e do nascimento de Jesus a Maria. João Batista e Jesus estão intimamente ligados no projeto de Deus. Lucas faz um paralelismo entre as origens dos dois. João, a partir da escolha do próprio nome pelo anjo, diferente do nome do pai, significa a ruptura com a tradição familiar sacerdotal e com o sistema religioso do judaísmo. Jesus, com sua prática nova que flui do amor, no Espírito Santo, confirmará esta ruptura com a tradição templária e legalista. Maria e José representam a periferia. Um operário de Nazaré, na Galiléia paganizada, apresenta na sua ascendência genealógica um ramo davídico. Porém a concepção de Jesus dar-se-á por obra do Espírito Santo, frustrando as expectativas messiânicas fundadas na tradição davídica elaborada por meio da profecia de Natan (cf. primeira leitura), o que exigirá amadurecimento dos discípulos para compreende-lo.

Em Maria, escolhida por Deus, encontramos a plenitude da dignidade, na humildade, na simplicidade, no serviço e no amor. Maria ouve a saudação do anjo: "Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo". A graça consiste nos dons de Deus. A presença do Senhor significa a força para cumprir uma missão que parece estar além das condições humanas. Está em andamento a revelação do mistério de Deus (segunda leitura). Maria, livremente e consciente de que pode confiar em Deus, dá sua inteira adesão ao Espírito que renova todas as coisas em Jesus. Pela encarnação, que já acontece a partir da concepção de Jesus no ventre de Maria, Deus nos dá a conhecer que homem e mulher, foram criados para participarem da sua vida divina e eterna. Em Jesus, que é a expressão histórica desta realidade revelada, encontramos esta íntima união entre o humano e o divino.

3. A AGRACIADA DE DEUS

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

O Anjo do Senhor definiu Maria como a repleta de graça. Nesta afirmação, está contido um movimento de dupla direção: de Deus para Maria - de Maria para Deus. E, neste movimento articula-se o mistério divino na vida da mãe de Jesus.

Deus, em seu amor infinito pela humanidade e desejoso oferecer-lhe salvação, escolheu Maria para colaborar no seu plano de salvação. Esta escolha não se explica com parâmetros humanos, mas se perde nos abismos da liberdade divina. Deus concede, à jovem de Nazaré, a riqueza de suas graças: a predispõe a ser sua interlocutora, dando-lhe sensibilidade para captar os apelos divinos e tornando-a capaz de ir além de si mesma para decidir-se a aceitar o projeto divino de salvação.

Maria, por sua vez, embora elevada a um nível altíssimo de santidade, que lhe fora comunicada pela plenitude da graça divina, conservava a simplicidade e a humildade de quem se sabia servidora. Em seu coração, não houve lugar para a soberba e a vanglória. Agraciada por Deus, mantinha-se no escondimento, não exigindo para si tratamento condizente com sua condição de mãe do Filho de Deus. Bastava-lhe saber-se cumpridora da vontade de Deus, ajudada pela graça que a plenificava. Não ambicionava grandezas mundanas, uma vez que possuía o bem mais precioso: estava repleta do próprio Deus.