Os Santos Inocentes

Terça-feira, 28 de dezembro de 2010


A festa de hoje, instituída pelo Papa São Pio V, ajuda-nos a viver com profundidade este tempo da Oitava do Natal. Esta festa encontra o seu fundamento nas Sagradas Escrituras. Quando os Magos chegaram a Belém, guiados por uma estrela misteriosa, "encontraram o Menino com Maria e, prostrando-se, adoraram-No e, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes - ouro, incenso e mirra. E, tendo recebido aviso em sonhos para não tornarem a Herodes, voltaram por outro caminho para a sua terra. Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: 'Levanta-te, toma o Menino e sua mãe e foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para o matar'. E ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e sua mãe, e retirou-se para o Egito. E lá esteve até à morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta, que disse: 'Do Egito chamarei o meu filho'. Então Herodes, vendo que tinha sido enganado pelos Magos, irou-se em extremo e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e arredores, de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos. Então se cumpriu o que estava predito pelo profeta Jeremias: 'Uma voz se ouviu em Ramá, grandes prantos e lamentações: Raquel chorando os seus filhos, sem admitir consolação, porque já não existem'" (Mt 2,11-20) Quanto ao número de assassinados, os Gregos e o jesuíta Salmerón (1612) diziam ter sido 14.000; os Sírios 64.000; o martirológio de Haguenau (Baixo Reno) 144.000. Calcula-se hoje que terão sido cerca de vinte ao todo. Foram muitas as Igrejas que pretenderam possuir relíquias deles.

Na Idade Média, nos bispados que possuíam escola de meninos de coro, a festa dos Inocentes ficou sendo a destes. Começava nas vésperas de 27 de dezembro e acabava no dia seguinte. Tendo escolhido entre si um "bispo", estes cantorzinhos apoderavam-se das estolas dos cônegos e cantavam em vez deles. A este bispo improvisado competia presidir aos ofícios, entoar o Inviatório e o Te Deum e desempenhar outras funções que a liturgia reserva aos prelados maiores. Só lhes era retirado o báculo pastoral ao entoar-se o versículo do Magnificat: Derrubou os poderosos do trono, no fim das segundas vésperas. Depois, o "derrubado" oferecia um banquete aos colegas, a expensas do cabido, e voltava com eles para os seus bancos. Esta extravagante cerimônia também esteve em uso em Portugal, principalmente nas comunidades religiosas.

A festa de hoje também é um convite a refletirmos sobre a situação atual desses milhões de "pequenos inocentes": crianças vítimas do descaso, do aborto, da fome e da violência. Rezemos neste dia por elas e pelas nossas autoridades, para que se empenhem cada vez mais no cuidado e no amor às nossas crianças, pois delas é o Reino dos Céus. Por estes pequeninos, sobretudo, é que nós cristãos aspiramos a um mundo mais justo e solidário.

Santos Inocentes, rogai por nós!

[Canção Nova]

Hoje: Dia do Salva-Vidas

Santos: Antônio de Lérins (eremita), Castor, Vítor e Rogaciano (mártires da África), Cesário da Armênia (mártir), Donião de Roma (presbítero), Êutico e Domiciano (presbítero e diácono, respectivamente, mártires de Ankara, na Galácia), Govana de Wales (mãe de família), Indes, Domna, Ágape e Teófila (virgens, mártires da Nicomédia), Morgan da Ilha de Man (bispo), Rômulo e Conindro (bispos), Santos Inocentes (meninos mártires, assassinados pelo rei Herodes), Trôade do Ponto (mártir), Oto de Heidelberg (eremita, bem-aventurado).

Antífona: Os meninos inocentes foram mortos por causa do Cristo. Eles seguem o Cordeiro sem mancha e cantam: Glória a ti, Senhor!

Oração: Ó Deus, hoje os santos Inocentes proclamaram vossa glória, não por palavras, mas pela própria morte; dai-nos também testemunhar com a nossa vida o que os nossos lábios professam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo.


Leitura: I Carta de São João (1Jo 1, 5-2,2)

O sangue de Jesus nos purifica

Caríssimos, a mensagem, que ouvimos de Jesus Cristo e vos anunciamos, é esta: Deus é luz e nele não há trevas. Se dissermos que estamos em comunhão com ele, mas andamos nas trevas, estamos mentindo e não nos guiamos pela verdade. Mas, se andamos na luz, como ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de seu Filho Jesus nos purifica de todo pecado. Se dissermos que não temos pecado, estamos enganando a nós mesmos, e a verdade não está dentro de nós. Se reconhecermos nossos pecados, então Deus se mostra fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda culpa. Se dissermos que nunca pecamos, fazemos dele um mentiroso e sua palavra não está dentro de nós. Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vitima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro.

Palavra do Senhor!

Comentando a I Leitura

Andar na luz: a questão do pecado

Parte da mensagem para os cristãos é que há uma esfera de vida e justiça que pode ser chamada “luz”. É a esfera de Deus, pois “Deus é luz” (v.5). Mas há também outra esfera, que é a das trevas, da inverdade, e há os que andam nela. Para estar em comunhão com Deus (v.6) e uns com os outros (v.7), precisamos andar na luz, purificados do pecado pelo sangue do Filho de Deus (v.7). Essa purificação exige de nós um reconhecimento pessoal de nosso pecado, que será respondido pela purificação que vem de Deus, Fingir que nunca pecamos é, em si, uma mentira que continuaria a nos ligar à esfera das trevas (vv. 8-10). Essa confissão de pecado não é, de modo algum, sinal de que o pecado não faz diferença na vida cristã. O propósito de nosso autor ao escrever é afastar os cristão do pecado (2,1). Contudo, embora ele viva a luz, ela não o cega; ele vê que os cristão podem pecar e, às vezes, ainda pecam. Cristo, entretanto, continua eficiente, como intercessor (Paráclito) e vitima de expiação pelo pecado, não só por nós , mas pelo mundo inteiro (2, 1-2). [COMENTÁRIO BÍBLICO, ©Loyola, 1999]


Salmo: 123 (124), 2-3.4-5.7b-8 (R/.7a)

Nossa alma como um pássaro escapou do laço que lhe armara o caçador

Se o Senhor não estivesse ao nosso lado, quando os homens investiram contra nós, 3com certeza nos teriam devorado no furor de sua ira contra nós.

Então as águas nos teriam submergido, a correnteza nos teria arrastado, 5e então, por sobre nós teriam passado essas águas sempre mais impetuosas.

O laço arrebentou-se de repente, e assim nós conseguimos libertar-nos. 8O nosso auxílio está no nome do Senhor, do Senhor que fez o céu e fez a terra!


Evangelho: Mateus (Mt 2, 13-18)

Massacre das criancinhas de Belém

Depois que os magos partiram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: "Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo". José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. Ali ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: "Do Egito chamei o meu filho". Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou muito furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, exatamente conforme o tempo indicado pelos magos. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: "Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais".

Palavra da Salvação!

Comentário o Evangelho

O princípio de continuidade entre o povo antigo e o povo novo é Jesus.

O Sonho de José traduz a singularidade da sua missão na condução e proteção de Jesus. Ele continua em seu papel de confidente sofrido e eficiente: é ele quem enfrenta os problemas domésticos e transcendentais, e os resolve, executando ordens divinas. Os sonhos são meios com que Deus dirige a seu povo.

O Egito era o lugar tradicional de refúgio conforme o AT alude nos casos de Abraão (Gn 12,10), Ló (Gn 19,15), Jacó (Gn 46, 2-4; 1Sm 12,8); José (Gn 39, 1-23), Moisés (Ex 1, 1-7; 2,15), Jeroboão (1Rs 11,40) e Jeremias (Jr 43-44).

Tal qual Moisés (Ex 2, 1-9), Jesus é salvo de morte promovida pelo tirano Herodes; como acontece com o fundador do povo de Israel (Ex 4, 19-23), Jesus precisa fugir com sua família. Esse texto é parecido com a infância de Moisés, descrita pelas tradições: segundo as quais, quando o nascimento da criança foi anunciado, ou por meio de visões, ou por intermédio dos mágicos, o Faraó mandou matar as crianças recém-nascidas. A matança dos inocentes lembra o extermínio dos meninos israelitas (Ex 1, 15-16) e o pranto de Raquel tinha anunciado: “Do Egito chamei meu filho” (Os 11,1). A citação de Oseias coloca esta parte do itinerário do Messias dentro da estrutura da vontade de Deus. Ela concentra-se em Ramá, lugar cerca de oito quilômetros ao norte de Jerusalém. Ramá foi o lugar onde morreu Raquel, mulher de Jacó; era também o lugar onde, no século VI a.C, reuniam-se os judeus que partiam para o exílio babilônico. Ela não só identifica Jesus como o Filho de Deus, mas também sugere que ele é a personificação do povo de Deus.

Só depois da morte de Herodes, em 4 a.C., houve segurança para Jesus voltar à Palestina. Deus chama Jesus do Egito a fim de criar um povo novo. O princípio de continuidade entre o povo antigo e o povo novo é o judeu Jesus.

O massacre de inocentes, infelizmente, ainda acontece no nosso mundo atual e real. A matança dos inocentes lembra o caso recente de uma mãe que jogou o seu filho recém-nascido por cima de um muro de quase dois metros de altura, no quintal de uma casa da periferia de Belém, Estado do Pará, para livrar-se de um filho indesejado e concebido pelo erro e pela ilegalidade. Lembra ainda um caso parecido que aconteceu 2006, quando uma mãe desalmada jogou sua filha de três meses na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. São dois casos mais significantes veiculados pela imprensa nos últimos tempos, que pouco reflete tantas barbaridades que acontecem com inocentes e incapazes pelo mundo afora, ora por estupros, ora por abandonos, entre tantas atrocidades. Nos dois primeiros casos quis o Senhor preservar a vida das duas vítimas inocentes para dar uma grande lição de vida às mães (o arrependimento é muito pouco) e à humanidade, testemunho de que Ele está sempre acima do tempo e dos cenários dos nossos devaneios. [Everaldo Souto Salvador, ofs, [email protected]]