Protomártires do Brasil
Quarta-feira, 03 de outubro de 2012
Dentro da conturbada invasão dos holandeses no nordeste do Brasil, encontram-se os dois martírios coletivos: o de Cunhaú e o de Uruaçu. Estes martírios aconteceram no ano de 1645, sendo que o Pe. André de Soveral e Domingos de Carvalho foram mártires em Cunhaú e o Pe. Ambrósio Francisco Ferro e Mateus Moreira em Uruaçu; dentre outros.
No Engenho de Cunhaú, principal pólo econômico da Capitania do Rio Grande (atual estado do Rio Grande do Norte), existia uma pequena e fervorosa comunidade composta por 70 pessoas sob os cuidados do Pe. André de Soveral. No dia 15 de julho chegou em Cunhaú Jacó Rabe, trazendo consigo seus liderados, os ferozes tapuias, e, além deles, alguns potiguares com o chefe Jerera e soldados holandeses. Jacó Rabe era conhecido por seus saques e desmandos, feitos com a conivência dos holandeses, deixando um rastro de destruição por onde passava.
Dizendo-se em missão oficial pelo Supremo Conselho Holandês do Recife, convoca a população para ouvir as ordens do Conselho após a missa dominical no dia seguinte. Durante a Santa Missa, após a elevação da hóstia e do cálice, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina: os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelos flamengos com a ajuda dos tapuias e dos potiguares.
A notícia do massacre de Cunhaú espalhou-se por todo o Rio Grande e capitanias vizinhas, mesmo suspeitando dessa conivência do governo holandês, alguns moradores influentes pediram asilo ao comandante da Fortaleza dos Reis Magos. Assim, foram recebidos como hóspedes o vigário Pe. Ambrósio Francisco Ferro, Antônio Vilela, o Moço, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do Porto. Os outros moradores, a grande maioria, não podendo ficar no Forte, assumiram a sua própria defesa, construindo uma fortificação na pequena cidade de Potengi, a 25 km de Fortaleza.
Enquanto isso, Jacó Rabe prosseguia com seus crimes. Após passar por várias localidades do Rio Grande e da Paraíba, Rabe foi então à Potengi, e encontrou heróica resistência armada dos fortificados. Como sabiam que ele mandara matar os inocentes de Cunhaú, resistiram o mais que puderam, por 16 dias, até que chegaram duas peças de artilharia vindas da Fortaleza dos Reis Magos. Não tinham como enfrentá-las. Depuseram as armas e entregaram-se nas mãos de Deus.
Cinco reféns foram levados à Fortaleza: Estêvão Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira e Simão Correia. Desse modo, os moradores do Rio Grande ficaram em dois grupos: 12 na Fortaleza e o restante sob custódia em Potengi.
Dia 2 de outubro chegaram ordens de Recife mandando matar todos os moradores, o que foi feito no dia seguinte, 3 de outubro. Os holandeses decidiram eliminar primeiro os 12 da Fortaleza, por serem pessoas influentes, servindo de exemplo: o vigário, um escabino, um rico proprietário.
Foram embarcados e levados rio acima para o porto de Uruaçu. Lá os esperava o chefe indígena potiguar Antônio Paraopaba e um pelotão armado de duzentos índios seus comandados. Repetiram-se então as piores atrocidades e barbáries, que os próprios cronistas da época sentiam pejo em contá-las, porque atentavam às leis da moral e modéstia.
Um deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, foi-lhe arrancado o coração das costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia, dizendo: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".
A 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa João Paulo II beatificou os 30 protomártires brasileiros, sendo 2 sacerdotes e 28 leigos beatificados.
Protomártires do Brasil, rogai por nós!
Hoje:
Dia Mundial do Dentista, Dia do Petróleo Brasileiro e Dia das Abelhas
Leituras
Leitura (Jó 9,1-12.14-16)
Leitura do livro de Jó.
9 1 Jó tomou a palavra nestes termos:
2 "Sim; bem sei que é assim; como poderia o homem ter razão contra Deus?
3 Se quisesse disputar com ele, não lhe responderia uma vez entre mil.
4 Deus é sábio em seu coração e poderoso, quem pode afrontá-lo impunemente?
5 Ele transporta os montes sem que estes percebam, ele os desmorona em sua cólera.
6 Sacode a terra em sua base, e suas colunas são abaladas.
7 Dá uma ordem ao sol que não se levante, põe um selo nas estrelas.
8 Ele sozinho formou a extensão dos céus, e caminha sobre as alturas do mar.
9 Ele criou a Grande Ursa, Órion, as Plêiades, e as câmaras austrais.
10 Fez maravilhas insondáveis, prodígios incalculáveis.
11 Ele passa despercebido perto de mim, toca levemente em mim sem que eu tenha percebido.
12 Quem poderá impedi-lo de arrebatar uma presa? Quem lhe dirá: 'Por que fazes isso?'
14 Quem sou eu para replicar-lhe, para escolher argumentos contra ele?
15 Ainda que eu tivesse razão, não responderia; pediria clemência a meu juiz.
16 Se eu o chamasse, e ele não me respondesse, não acreditaria que tivesse ouvido a minha voz".
Salmo 87/88
Chegue a minha oração até a vossa presença!
Clamo a vós, ó Senhor, sem cessar, todo o dia,
Minhas mãos para vós se levantam em prece.
Para os mortos, acaso, faríeis milagres?
Poderiam as sombras erguer-se e louvar-vos?
No sepulcro haverá quem vos cante o amor
E proclame entre os mortos a vossa verdade?
Vossas obras serão conhecidas nas trevas,
Vossa graça, no reino onde tudo se esquece?
Quanto a mim, ó Senhor, clamo a vós na aflição,
Minha prece se eleva até vós desde a aurora.
Por que vós, ó Senhor, rejeitais a minha alma?
E por que escondeis vossa face de mim?
Evangelho (Lucas 9,57-62)
Naquele tempo, 9 57 enquanto caminhavam, um homem disse a Jesus: "Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás".
58 Jesus replicou-lhe: "As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça".
59 A outro disse: "Segue-me". Mas ele pediu: "Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai".
60 Mas Jesus disse-lhe: "Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus".
61 Um outro ainda lhe falou: "Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa".
62 Mas Jesus disse-lhe: "Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O Discipulado é incondicional
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Motivado pela busca de segurança e proteção, alguns cristãos tem a mesma atitude desse primeiro homem que Jesus encontrou no caminho "Senhor, eu te seguirei para onde quer que fores..." Certamente esse homem estava admirado com Jesus, seus milagres e prodígios, sua liderança natural, seu carisma maravilhoso, pensou com certeza em segurança e proteção, não diferente de certa mentalidade cristã da pós modernidade, presente na afirmação "Com Jesus eu tenho tudo".
O Cristianismo não oferece nenhuma segurança nesse sentido, isenção de doenças, tribulações, dificuldades de toda ordem, inclusive de bens materiais. Conheci uma pessoa que desanimou na Fé porque teve o carro roubado justamente na hora em que se encontrava na Igreja, trabalhando na comunidade.
Jesus vai dizer em sua resposta a esse fanático discípulo, que nem ele mesmo tem um lugar certo, de sua propriedade, para repousar. Na Sociedade de consumo, quando se entra em algum empreendimento lucrativo, vale a pena dar tudo, pois quanto mais a gente dar, mais lucro a gente vai ter. Para um seguidor de Jesus, somente a primeira parte é verdadeira, "dar tudo de si, priorizando o Reino como o valor absoluto em nossa vida, e todo o resto como secundário.
Diante do chamado as pessoas reagem, exatamente assim, sempre há algo mais urgente a ser feito, o primeiro queria primeiro obedecer a Lei e fazer o enterro do Pai, o outro queria primeiro uma Festa de despedida dos parentes e amigos.
A missão e o chamado para o discipulado vem sempre como proposta, porém, quem der o seu SIM não poderá ter outra prioridade na Vida que não seja a de anunciar o Reino de Deus, quem coloca certas condições para ser cristão e membro da comunidade, ainda não está preparado para ser um verdadeiro discípulo.
2. Prerrogativas do seguimento de Jesus
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Jesus, com seus discípulos, estava a caminho de Jerusalém, tendo em vista fazer o seu anúncio da Boa-Nova entre os peregrinos que para lá se dirigiam para a celebração da festa da Páscoa.
Enquanto na passagem paralela a esta, em Mateus (cf. 2 jul.), são duas pessoas que se dispõem a seguir Jesus, aqui, em Lucas, são três. A primeira e a terceira tomam a iniciativa de pedi-lo, enquanto a segunda é convidada por Jesus.
Respondendo a cada um, Jesus apresenta um elenco de propostas para seu seguimento. Aquele que se oferece, de imediato, com grande disponibilidade deve estar disposto a assumir a pobreza e insegurança à semelhança de Jesus. Ao segundo, convidado por Jesus, porém apegado às tradições familiares ("enterrar o pai"), Jesus destaca a primazia a ser dada ao anúncio da novidade do Reino de Deus, por ele revelada. Ao terceiro, que se mostra afetivamente muito ligado aos de sua casa, Jesus propõe olhar para a frente e perceber as portas que se abrem para a comunhão com a grande família dos que fazem a vontade do Pai, com seu projeto vivificante.
3. EU TE SEGUIREI
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
O seguimento de Jesus comporta exigências radicais e supõe rupturas. Só quem, de fato, optou pelo Reino é capaz de submeter-se a elas. Jesus defrontou-se com pessoas dispostas a segui-lo, mas sem terem suficiente consciência do que isto comportaria.
Àquele homem que se dispôs a segui-lo por toda parte, Jesus recordou a pobreza que o discípulo deveria abraçar: assim como o Filho do Homem não tinha onde reclinar a cabeça, o mesmo se passaria com quem desejasse segui-lo. Deveria estar disposto, nas suas longas caminhadas, a abrir mão de muitas comodidades e não perder o ânimo, quando se visse privado até mesmo do alimento. O seguimento se dá na pobreza e no despojamento.
A quem pediu permissão para, antes, ir enterrar o pai, Jesus exigiu a imediata execução da ordem: "Segue-me". Não havia por que esperar até a morte do pai para sentir-se liberado para seguir Jesus. Quanto ao pai, haveria quem cuidasse dele em suas necessidades. O discípulo foi desafiado a colocar o serviço do Reino acima do afeto familiar.
E aquele que desejou ir despedir-se dos familiares antes de seguir Jesus, foi alertado quanto à necessidade de ter um coração indiviso. Nada de seguir Jesus e, ao mesmo tempo, ter a atenção desviada para outra direção. E necessário entregar-se todo ao projeto do Reino,
Portanto, o Mestre não aceitava adaptar o discipulado à conveniência de seus seguidores.