Sagrada Família
Sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
— Sagrada Família
O exemplo de Nazaré:
Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho. Aqui se aprende a observar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado tão profundo e misterioso desta manifestação do Filho de Deus, tão simples, tão humilde e tão bela. Talvez se aprenda também, quase sem dar por isso, a imitá-la. Aqui se aprende o método e o caminho que nos permitirá compreender facilmente quem é Cristo. Aqui se descobre a importância do ambiente que rodeou a sua vida, durante a sua permanência no meio de nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo o que serviu a Jesus para Se revelar ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem sentido. Aqui, nesta escola, se compreende a necessidade de ter uma disciplina espiritual, se queremos seguir os ensinamentos do Evangelho e ser discípulos de Cristo. Quanto desejaríamos voltar a ser crianças e acudir a esta humilde e sublime escola de Nazaré! Quanto desejaríamos começar de novo, junto de Maria, a adquirir a verdadeira ciência da vida e a superior sabedoria das verdades divinas! Mas estamos aqui apenas de passagem e temos de renunciar ao desejo de continuar nesta casa o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. No entanto, não partiremos deste lugar sem termos recolhido, quase furtivamente, algumas breves lições de Nazaré. Em primeiro lugar, uma lição de silêncio. Oh se renascesse em nós o amor do silêncio, esse admirável e indispensável hábito do espírito, tão necessário para nós, que nos vemos assaltados por tanto ruído, tanto estrépito e tantos clamores, na agitada e tumultuosa vida do nosso tempo. Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor de uma conveniente formação, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê. Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré como é preciosa e insubstituível a educação familiar e como é fundamental e incomparável a sua função no plano social. Uma lição de trabalho. Nazaré, a casa do Filho do carpinteiro! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a lei, severa mas redentora, do trabalho humano; restabelecer a consciência da sua dignidade, de modo que todos a sentissem; recordar aqui, sob este teto, que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que a sua liberdade e dignidade se fundamentam não só em motivos econômicos, mas também naquelas realidades que o orientam para um fim mais nobre. Daqui, finalmente, queremos saudar os trabalhadores de todo o mundo e mostrar-lhes o seu grande Modelo, o seu Irmão divino, o Profeta de todas as causas justas que lhes dizem respeito, Cristo Nosso Senhor.
João Paulo II, na Carta dirigida à família, por ocasião do Ano Internacional da Família, 1994, escreve:
A Sagrada Família é a primeira de tantas outras famílias santas. O Concílio recordou que a santidade é a vocação universal dos batizados (LG 40). Como no passado, também na nossa época não faltam testemunhas do "evangelho da família", mesmo que não sejam conhecidas nem proclamadas santas pela Igreja...
A Sagrada Família, imagem modelo de toda a família humana, ajude cada um a caminhar no espírito de Nazaré; ajude cada núcleo familiar a aprofundar a própria missão civil e eclesial, mediante a escuta da Palavra de Deus, a oração e a partilha fraterna da vida! Maria, Mãe do amor formoso, e José, Guarda e Redentor, nos acompanhem a todos com a sua incessante proteção.
Sagrada Família de Nazaré, rogai por nós!
Leituras
Primeira Leitura (Eclo 3,3-7.14-17a)
Leitura do Livro do Eclesiástico.
3 Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe.
4 Quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados; evita cometê-los e será ouvido na oração quotidiana.
5 Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros.
6 Quem honra o seu pai, terá alegria com seus próprios filhos; e, no dia em que orar, será atendido.
7 Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe.
14 Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive.
15 Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida, a caridade feita a teu pai não será esquecida,
16 mas servirá para reparar os teus pecados
17 e, na justiça, será para tua edificação.
Salmo 127(128) Fx 9
Felizes os que temem o Senhor * e trilham seus caminhos!
Feliz és tu, se temes o Senhor * e trilhas seus caminhos! * Do trabalho de tuas mãos hás de viver, * serás feliz, tudo irá bem!
A tua esposa é uma videira bem fecunda * no coração da tua casa; * os teus filhos são rebentos de oliveira * ao redor de tua mesa.
Será assim abençoado todo homem * que teme o Senhor. * O Senhor te abençoe de Sião, * cada dia de tua vida!
Evangelho (Lc 2,22-40)
P. 22Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor.
23 Conforme está escrito na lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”.
24 Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na lei do Senhor.
25 Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele
26 e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor.
27 Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a lei ordenava,
28 Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus:
29 ”Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz;
30 porque meus olhos viram a tua salvação,
31 que preparaste diante de todos os povos:
32 luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”.
33 O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele.
34 Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição.
35 Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”.
36 Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido.
37 Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações.
38 Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
39 Depois de cumprirem tudo, conforme a lei do Senhor, voltaram à Galiléia, para Nazaré, sua cidade.
40 O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
Comentários do Evangelho
1. "Sagrada Família..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Família não é um agrupamento de pessoas que moram sob um mesmo teto, mas sim de pessoas que tem uma comunhão de vida dentro de uma co-responsabilidade, partilha e fraternidade. Infelizmente em nossos dias o que prevalece é o individualismo, cada membro da família tem sua vida, seus interesses, suas amizades e preferências de modo que em uma mesma família podemos ter pessoas de diferentes credos, culturas ou ideologias. O pai e a mãe deixam de ser educadores e formadores dos filhos, e a pós-modernidades é que dita as normas e ensina como viver, e que valores são importantes.
Como se não bastasse isso, o estado quer reinventar um novo conceito de Família, saindo do modelo Divino (um homem, a mulher e os Filhos) para uma caricatura da Pós modernidade( dois homens ou duas mulheres, e ainda dizem que é por amor)
Maria e José não eram figuras decorativas na vida de Jesus, mas exerceram com seriedade, empenho e santidade a missão que lhes fora confiada por Deus: a de serem educadores e catequistas do seu Filho.
A formação do caráter e da personalidade da pessoa exige um equilíbrio, é preciso ter um pai e uma mãe, que sejam testemunhos de amor e exemplo de vida para os filhos, pois nossa primeira igreja é a família.
Nessa pequena comunidade aprende-se o sentido da vida a partir de uma vivência pautada pelo amor e o respeito ao outro, e assim a família é como um pequeno riacho de águas puras e cristalinas que nos leva ao rio maior que é a comunidade, que por sua vez nos leva ao infinito da plenitude em Deus.
José e Maria, apesar de terem uma missão tão especial e grandiosa, de serem os educadores do Filho de Deus, não se fecharam em seu privilégio, mas abriram-se á comunidade à qual levaram a criança, quando se completaram os dias da purificação da mãe, para ser apresentado no templo e assim consagrar a Deus. Nossos filhos não são nossos, mas pertencem a Deus e devem descobrir o sentido da vida a partir da sua vocação para viver o amor. Essa descoberta começa na família e depois se torna madura na vida em comunidade, pois é na igreja que descobrimos e entendemos nossa vocação de servir.
A lei dizia que “todo primogênito do sexo masculino, deveria ser consagrado ao Senhor” mas Maria e José não estão ali simplesmente para cumprirem uma lei, mas é que a fé que tem em Deus, fazem eles perceberem que aquele filho não lhe pertence, mas é uma dádiva para toda humanidade. Um dia aquele menino irá crescer, e na graça de Deus irá se descobrir como um ungido do senhor, nada poderá detê-lo em sua missão, a vocação do amor que quer servir extrapola a vida familiar. José e Maria sabem disso e por isso oferecem um sacrifício, um par de rolas ou dois pombinhos, como ordenava a lei do Senhor.
Os filhos representam tanto para nós, e talvez tão pouco para transformarem o mundo, assumindo a vocação do amor. Muitas vezes desejamos que os filhos fossem grandes e importantes para si mesmos, entretanto, eles são a nossa maior contribuição para ajudar a melhorar o mundo e a sociedade. Maria e José não querem de maneira egoísta “guardar” o menino só para si, mas o consagra a Deus que irá dá-lo para os homens.
Maria é a fonte transbordante, plena de graça divina, José é o homem justo, sábio e forte, porque lê os acontecimentos da vida com os olhos da fé... O menino tem por quem “puxar”... Toda família torna-se sagrada quando as pessoas que dela fazem parte sabem reconhecer na missão do outro o agir de Deus.
"O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria e da graça de Deus." Lc.2,40
2. Presença do recém-nascido no Templo
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Lucas salienta o cumprimento das disposições legais como o motivo da presença do recém-nascido no Templo de Jerusalém, levado por seus pais. Ele realça, assim, o sinal de contradição que se esboça, para a queda e o reerguimento de muitos. A cidade com seu Templo à qual acorre todo o povo para cumprir observâncias religiosas é a cidade que mata os profetas (Lc 13,34; Mt 23,37). Será este menino que em plena maturidade, cheio de sabedoria e da graça de Deus, proclamará a bem-aventurança dos pobres e denunciará a corrupção que assola o Templo, prenunciando a sua destruição e a de Jerusalém.
Oração Pai, a exemplo de Simeão e de Ana, faze-me penetrar no mais profundo do mistério de teu Filho Jesus, e torna-me proclamador da salvação presente na nossa história.
3. LUZ DAS NAÇÕES
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
A cena da apresentação do menino Jesus no templo e o rito de purificação de Maria são ricos em detalhes que evidenciam a identidade do Salvador. Revestem-se de um conjunto de elementos proféticos, pelos quais a existência de Jesus se pautará.
Ele foi apresentado como pobre. Seus pais ofereceram um casal de rolinhas ou dois pombinhos, como era previsto para as família mais pobres Aliás, toda a vida de Jesus transcorrerá na pobreza.
Com o rito de oferta, o Messias tornava-se uma pessoa consagrada ao Pai. Esta será uma marca característica de sua existência. Não se pertencerá a si mesmo; todo seu ser estará posto nas mãos do Pai, por cuja vontade se deixará guiar.
O velho Simeão definiu a missão do Messias Jesus: ser luz para iluminar as nações e manifestar a glória de Israel para todos os povos. Por meio de Jesus, a humanidade poderia caminhar segura, sem tropeçar no pecado e na injustiça, e, assim, chegar ao Pai.
Por outro lado, o Messias Jesus estava destinado a ser sinal de contradição. Quem tivesse a coragem de acolhê-lo, seria libertado de seus pecados. Mas para quem se recusasse aderir a ele, seria motivo de queda. Portanto, Jesus seria escândalo para uns, e ressurreição para outros.
Esta cena evangélica retrata, assim, o que Jesus encontraria pela frente.