Santa Lídia

Quarta-feira, 03 de agosto de 2011


Uma antiga tradição cristã a respeito do culto aos santos demonstra que Santa Lídia foi uma das primeiras santas a serem veneradas dentro da fé católica.

Lídia era uma prosélita, ou seja, uma pagã convertida ao judaísmo. Veio da Grécia asiática e instalou-se para o seu comércio em Filipos, porto do Mar Egeu. Fez-se cristã pelo ano de 55, quando São Paulo evangelizava essa região. São Lucas, que andava com o Apóstolo, contou este episódio:

"...Filipos, que é a cidade principal daquele distrito da Macedônia, uma colônia (romana). Nesta cidade nos detivemos por alguns dias. No sábado, saímos fora da porta para junto do rio, onde pensávamos haver lugar de oração. Aí nos assentamos e falávamos às mulheres que se haviam reunido. Uma mulher, chamada Lídia, da cidade dos tiatirenos, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava. O Senhor abriu-lhe o coração, para atender às coisas que Paulo dizia" (At 16,12-14)

As formalidades da canonização levam frequentemente muitos anos. Foram, porém, curtíssimas ao tratar-se de Santa Lídia. Foi Barónio (+ 1607) que, em 1586, com sua própria autoridade, a introduziu no Martirológio romano, cuja revisão lhe estava entregue.

Santa Lídia, rogai por nós!


Hoje: Dia do Tintureiro, Dia do Capoeirista


Primeira Leitura (Números 13,1-2.25-14,1.26-30.34-35)

Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés: "Envia homens para explorar a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel. Enviarás um homem de cada tribo patriarcal, tomados todos entre os príncipes." Tendo voltado os exploradores, passados quarenta dias, foram ter com Moisés e Aarão e toda a assembléia dos israelitas em Cades, no deserto de Farã. Diante deles e de toda a multidão relataram a sua expedição e mostraram os frutos da terra.

Eis como narraram a Moisés a sua exploração: "Fomos à terra aonde nos enviaste. É verdadeiramente uma terra onde corre leite e mel, como se pode ver por esses frutos. Mas os habitantes dessa terra são robustos, suas cidades grandes e bem muradas; vimos ali até mesmo filhos de Enac. Os amalecitas habitam na terra do Negeb; os hiteus, os jebuseus e os amorreus habitam nas montanhas, e os cananeus habitam junto ao mar e ao longo do Jordão."

Caleb fez calar o povo que começava a murmurar contra Moisés, e disse: "Vamos e apoderemo-nos da terra, porque podemos conquistá-la." Mas os outros, que tinham ido com ele, diziam: "Não somos capazes de atacar esse povo; é mais forte do que nós." E diante dos filhos de Israel depreciaram a terra que tinham explorado: "A terra, disseram eles, que exploramos, devora os seus habitantes: os homens que vimos ali são de uma grande estatura; vimos até mesmo gigantes, filhos de Enac, da raça dos gigantes; parecíamos gafanhotos comparados com eles."

Toda a assembléia pôs-se a gritar e chorou aquela noite. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: "Até quando sofrerei eu essa assembléia revoltada que murmura contra mim? Ouvi as murmurações que os israelitas proferem contra mim. Dir-lhes-ás: ´juro por mim mesmo´, diz o Senhor, ´tratar-vos-ei como vos ouvi dizer.

Vossos cadáveres cairão nesse deserto. Todos vós que fostes recenseados da idade de vinte anos para cima, e que murmurastes contra mim, não entrareis na terra onde jurei estabelecer-vos, exceto Caleb, filho de Jefoné, e Josué, filho de Nun.

Explorastes a terra em quarenta dias; tantos anos quantos foram esses dias pagareis a pena de vossas iniqüidades, ou seja, durante quarenta anos, e vereis o que significa ser objeto de minha vingança. Eu, o Senhor, o disse. Eis como hei de tratar essa assembléia rebelde que se revoltou contra mim. Eles serão consumidos e mortos nesse deserto!´"


Salmo 105/106

Lembrai-vos de nós, ó Senhor, segundo o amor para com vosso povo!

Pecamos como outrora nossos pais,
praticamos a maldade e fomos ímpios;
no Egito nossos pais não se importaram
com os vossos admiráveis grandes feitos.

Mas bem depressa esqueceram suas obras,
não confiaram nos projetos do Senhor.
No deserto deram largas à cobiça,
na solidão eles tentaram o Senhor.

Esqueceram-se do Deus que os salvara,
que fizera maravilhas no Egito;
no país de Cam fez tantas obras admiráveis,
no mar Vermelho, tantas coisas assombrosas.

Até pensava em acabar com sua raça,
não tivesse Moisés, o seu eleito,
interposto, intercedendo junto a ele
para impedir que sua ira os destruísse.


Evangelho (Mateus 15,21-28)

Naquele tempo, Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia. E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava: "Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio".

Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: "Despede-a, ela nos persegue com seus gritos". Jesus respondeu-lhes: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel".

Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: "Senhor, ajuda-me!" Jesus respondeu-lhe: "Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos". "Certamente, Senhor", replicou-lhe ela; "mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos". Disse-lhe, então, Jesus: "Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas". E na mesma hora sua filha ficou curada.

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. Jesus perde na “Queda de Braço”

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Não se assustem com o título, mas essa mulher Cananéia resolveu “pegar de brabo” na conversa com Jesus, foi persistente, firme e decidida e Jesus não agüentou... teve que ceder aos seus argumentos que provinham de uma Fé irresistível!

Note-se que Jesus não estava com a menor vontade de ajudá-la. Tiro e Sidônia era uma região pagã, os ensinamentos de Jesus e seus maravilhosos sinais prodigiosos, estavam reservados para o Povo da Promessa, ás ovelhas perdidas da Casa de Israel, Jesus pensava como muitas vezes nós pensamos, de que “não adianta gastar vela com mau defunto”, a pessoa não é da minha comunidade ou igreja, não é do meu grupo, pertence a um grupo de pessoas que adoram outros deuses, bobagem perder tempo com elas.

Entretanto, Deus concede o dom da Fé a quem ele quiser, e fora da nossa Igreja, quantos exemplos maravilhosos de Fé nós encontramos... Gente, que pela postura firme e corajosa diante de certas situações, nos deixa de queixo caído e chegamos até a pensar assim “Ah se bom se essa pessoa fosse da minha igreja...”

Essa mulher da Cananéia deu um “show de bola” e ao final Jesus lhe fez um alto elogio “Oh Mulher, grande é a tua Fé ! Seja-te feito como desejas” E conclui o texto...E na mesma hora sua Filha ficou curada.

O que se tem aqui é exatamente uma perfeita sincronia entre Fé e Ação, Fé e Vida, a mulher não desistiu e a cada argumento contrário, não só falava mas agia, ela chegou a prostrar-se diante de Jesus....e nem quando Jesus a colocou em seu lugar, lembrando que ela era uma estrangeira ( os Judeus chamavam de cachorrinhos os estrangeiros) ela não se aborreceu. Poderia ir embora chorando e revoltada contra o Mestre insensível e além do mais preconceituoso, mas humildemente aceitou a sua condição de estrangeira, porém, não queria ir embora no prejuízo, e contentou-se em aceitar até migalhas, pois a sua Fé no mestre era tanta, que até uma migalhinha da sua atenção para com ela, já seria suficiente.

Fechando a reflexão, na nossa comunidade temos uma mulher em Segunda União, que só comunga uma vez ao ano, quando o pároco o permite. É de se emocionar quando chega esse dia o qual ela espera com grande expectativa e depois, só falta sair da igreja dando cambalhotas e esmurrando o ar de tanta alegria, porque recebeu Jesus na Santa Eucaristia, ela me garante que aquela eucaristia a alimenta por um ano e que se sente um “Canhão”, atuando nas obras sociais da comunidade, abastecida pela Eucaristia. Para esta minha irmã também com certeza Jesus diz “Oh Mulher, grande é a sua Fé...” Tenho vergonha diante dela, pois posso comungar todo dia, se assim o desejar, mas até parece que a Hóstia que ela recebe, é especial...

2. "Mulher, grande é a tua fé...".

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Mateus adapta a narrativa de Marcos ao contexto de sua comunidade, dando-lhe um caráter messiânico davídico, acrescentando a invocação: "Senhor, filho de Davi" à fala da cananéia a Jesus. Acrescenta também a fala discriminatória: "Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel".

Este encontro histórico de Jesus com a mulher cananéia revela o empenho de Jesus em levar a sua novidade a todos os povos. Ele já estivera no território gentílico geraseno, onde o homem libertado por Jesus se põe a anunciar na região o que Jesus fizera por ele (Mc 5,20). É marcante o acolhimento da mulher cananéia a Jesus, confiante e humilde. Esta sua atitude faz com que Jesus a atenda, com a proclamação, caso único nos evangelhos: "Mulher, grande é a tua fé...".

3. A FÉ DOS PAGÃOS

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

Na primitiva comunidade cristã, havia uma classe de cristãos, provenientes do judaísmo, cuja tendência era não se abrir para os pagãos. Acreditavam ser os destinatários exclusivos da Boa Nova cristã. Por conseguinte, os pagãos estariam excluídos do Reino anunciado por Jesus. Foi preciso combater esta rigidez, apelando para a sensibilidade do Mestre em relação à fé dos pagãos.

O episódio da mulher cananéia prestou-se bem para esta finalidade. A mulher pagã foi persistente no seu objetivo: a cura da filha atormentada por um demônio. Por isto, não se intimidou diante dos discípulos, nem de Jesus, até ver realizado o seu desejo. Nem a má-vontade daqueles, nem a dureza das palavras do Mestre foram suficientemente fortes para fazê-la esmorecer.

Os discípulos queriam ver-se livres daquela mulher importuna. Sua gritaria deixava-os irritados, a ponto de pedirem a Jesus que a mandasse embora. Não convinha que o pedido de uma mulher pagã fosse atendido por ele.

Jesus, por sua vez, também deu mostras de relutar em atendê-la, até o ponto de usar o termo - cães -, com que os judeus costumavam chamar os pagãos. Mas, afinal, dobrou-se diante de uma fé evidente, tendo realizado o desejo da mulher pagã.

Como Jesus, a comunidade cristã deveria deixar de ser inflexível em relação aos pagãos convertidos à fé, abrindo para eles as portas da comunidade.

Oração Espírito benevolente, ajuda-me a superar a rigidez e o fechamento em relação a quem está à margem da comunidade, reconhecendo que, também neles, existe fé.