Santas Perpétua e Felicidade

Quarta-feira, 07 de março de 2012


Numa perseguição que se desencadeou em Cartago, foram presos nesta cidade cinco catecúmenos, entre os quais uma escrava chamada Felicidade e uma mulher, ainda nova e de posição, chamada Perpétua. A primeira estava grávida de oito meses e a segunda tinha uma criança de peito. Receberam o batismo enquanto estavam presas.

Permitiram a Perpétua que levasse consigo o filho para o cárcere. Chegado o interrogatório, ambas confessaram abertamente a fé e foram condenadas a ser lançadas às feras no aniversário do imperador Geta. A mãe foi então separada do seu filhinho. "Deus permitiu que ele não voltasse a pedir o peito e que ela não fosse mais atormentada com o leite", escreveu Perpétua no diário que foi fazendo até o dia da sua morte. Narra em seguida uma visão em que lhe apareceu seu irmão Dinócrates, ao sair do Purgatório graças às suas orações, e outra em que lhe foi prometida a assistência divina no último combate.

Felicidade receava que, devido ao seu estado, não lhe permitissem morrer com a companheira, mas, três dias antes dos espetáculos públicos, deu à luz. Como as dores do parto lhe arrancassem gritos, um dos carcereiros observou-lhe: "Se tu te lamentas já dessa maneira, que será quando fores lançada às feras?". "Hoje sou eu que sofro, respondeu a escrava; nesse dia, sofrerá por mim Aquele por quem eu sofro". Deu à luz uma menina que foi adotada por uma mulher cristã.

Perpétua e Felicidade entraram alegremente no anfiteatro com os três companheiros. Envolveram-nas numa rede e entregaram-nas às arremetidas duma vaca furiosa. O povo cansou-se depressa de ver torturar as duas jovens mães, uma das quais ia perdendo o leite, e pediu que se acabasse com aquele espetáculo. Abraçaram-se então pela última vez. Felicidade recebeu o golpe de misericórdia impavidamente. Perpétua caiu nas mãos dum gladiador desastrado que falhou o golpe, "tendo-se visto ela própria na necessidade de dirigir contra o pescoço a mão trêmula do gladiador inexperiente". Estes martírios deram-se na era de 203.

Santas Perpétua e Felicidade, rogai por nós!


Hoje:

Dia dos Fuzileiros Navais


Leituras

Primeira Leitura (Jeremias 18,18-20)
Leitura do livro do profeta Jeremias.

18 "Vinde", disseram então, "e tramemos uma conspiração contra Jeremias! Por falta de um sacerdote não perecerá a lei, nem pela falta de um sábio, o conselho, ou pela falta de um profeta, a palavra divina. Vinde e firamo-lo com a língua, não lhe demos ouvidos às palavras!"

19 Senhor, ouvi-me! Escutai o que dizem meus inimigos.

20 É assim que pagam o bem com o mal? Abrem uma cova para atentar-me contra a vida. Lembrai-vos de que ante vós me apresentei a fim de por eles interceder e deles afastar a vossa cólera.


Salmo 30/31

Salvai-me pela vossa compaixão, ó Senhor Deus!

Retirai-me desta rede traiçoeira, porque sois o meu refúgio protetor!
Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito,
porque vós me salvareis, ó Deus fiel!

Ao redor, todas as coisas me aprovaram;
ouço muitos cochichando contra mim;
todos juntos se reúnem, conspirando
e pensando como vão tirar-me a vida.

A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio
e afirmo que só vós sois o meu Deus!
Eu entrego em vossas mãos o meu destino;
libertai-me do inimigo e do opressor!


Evangelho (Mateus 20,17-28)

20 17 Subindo para Jerusalém, durante o caminho, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes:
18 "Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte.

19 E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará".

20 Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.

21 Perguntou-lhe ele: "Que queres?" Ela respondeu: "Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda".

22 Jesus disse: "Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber?" "Sim", disseram-lhe.

23 "De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou".

24 Os dez outros, que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra os dois irmãos.

25 Jesus, porém, os chamou e lhes disse: "Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade.

26 Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo.

27 E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. 28 Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão".


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. "Lugares Importantes"

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

No evangelho estamos diante de dois membros da comunidade, que queriam fazer carreira religiosa, com o total apoio da Mamãe coruja que transforma o desejo de poder dos filhos, e uma oração suplicante. Se em nossas comunidades conhecemos pessoas com esse perfil dos Filhos de Zebedeu, isso é, que querem ter poder sobre as pessoas, ninguém desanime, pois os dois Filhos de Zebedeu tornarem-se santos e deram suas vidas por amor ao evangelho.

Mas eles também viveram essa fantasia de ter poder na comunidade, como comentávamos na reflexão de ontem, sobre a cadeira do padre. Jesus acaba de anunciar o seu triunfo sobre as Forças do Mal, que irá culminar com a sua ressurreição, mas que irá passar pelo amargor da paixão e da morte no calvário. A mãe, como qualquer mãe dos nossos tempos queria ver os Filhos se darem bem na vida, que mãe já não tentou falar com alguém influente para arranjar um emprego para o Filho, algum político de prestígio, para dar ao Filho algum benefício? Não vamos condenar a mãe dos dois jovens, pois há quem diga que foram eles mesmos que pediram a Jesus, mas Matheus, amenizando a situação, joga a responsabilidade para a coitada da mãe...

O evangelho não quer espinafrar a Mãe e seus dois filhos, que como já disse, ao ser escrito esse evangelho provavelmente já tinham alcançado a santidade com o martírio. Mas a mensagem central é só uma : quem quiser percorrer o caminho do discipulado, tem que renunciar aos sonhos de poder, prestígio e grandeza, para unir-se intimamente a Cristo, sua paixão e morte.

O cristão vive para servir aos irmãos e irmãs, dar sempre o melhor de si para o bem do outro, desapegar totalmente de seus interesses até mesmo essenciais, para uma entrega total e generosa a serviço do outro, sem nunca esperar gratidão, reconhecimento e homenagens, mas a cruz unicamente.

O caminho da Santidade em Cristo, passa obrigatoriamente pelo calvário, antes de chegar na Ressurreição. É este o único caminho do discipulado, e não há outro!

2. O Reino de Deus é amor e liberdade

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Jesus, com seus discípulos, dirige-se a Jerusalém, para fazer aí a sua proclamação do Reino de liberdade e amor. Ele sabe que está jurado de morte pelos chefes religiosos e adverte os discípulos sobre isto (cf. Mt 16,21-23; 7,22-23). Porém, os discípulos ainda não entendem e acham que Jesus poderia liderar um movimento de libertação e reivindicam posições privilegiadas. A própria mãe de Tiago e João (filhos de Zebedeu) também pensa assim.

Jesus faz a contraposição entre a opressão que os chefes das nações e os grandes fazem sobre o povo e a prática característica do Reino, a humildade e o serviço para a libertação e a comunicação de vida a todos, a qual deve ser assumida pelos discípulos.

3. DUAS ATITUDES CONTRASTANTES

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

É fácil perceber o contraste entre as duas atitudes apresentadas no Evangelho. Fica, em aberto, a questão: com qual delas mais nos identificamos?

A primeira atitude é a de Jesus, o Filho do Homem, cuja vida está a ponto de ser entregue, como sinal de seu total desprendimento e de sua absoluta fidelidade à vontade do Pai. Caminhando para a morte, tem consciência de não ter dado espaço ao egoísmo, em seu coração. Sua existência definiu-se como serviço generoso aos que viviam oprimidos pelo pecado e precisavam libertar-se.

Contrastando com Jesus, está a atitude dos filhos de Zebedeu. Ambiciosos, querem garantir um lugar de destaque no reino messiânico, que está para ser instaurado, e assim, receber honrarias e serem servidos. Têm apenas ideais de grandeza, postos a serviço do próprio egoísmo. Não lhes interessa o bem que poderão fazer, e sim, os benefícios dos quais irão usufruir. Não lhes passa pela cabeça sacrificarem-se pelos outros, mas exigir que os demais se sacrifiquem por eles.

O cristão, tem diante de si, estas duas possibilidades. A fidelidade à sua vocação cristã dependerá da capacidade de optar pela atitude de Jesus. Embora devendo passar pela cruz, esta é a atitude que corresponde à vontade de Deus.