São Calisto I

Domingo, 14 de outubro de 2012


Os Papas da Igreja são por excelência os Príncipes do Cristianismo, e hoje lembramos um dos Príncipes da Fé que mais se destacou entre os primeiros Papas: São Calisto I.

Filho de uma humilde família romana, nasceu em 160. Administrador dos negócios de um comerciante, Calisto passou por grandes dificuldades, pois algo saiu de errado no trabalho, chegando a ser flagelado e deportado para a ilha da Sardenha, onde como condenação enfrentou trabalhos forçados nas minas, juntamente com cristãos condenados por motivos de fé.

Sem dúvida, com a convivência com os cristãos que enfrentavam o martírio, pois o Cristianismo era considerado religião ilegal, Calisto decidiu seguir a Jesus. Mais tarde muitos cristãos foram resgatados do exílio e a comunidade cristã o libertou.

O Santo de hoje colaborou com o Papa Vítor e depois como diácono ajudou o Papa Zeferino em Roma, pois assumiu, com muita sabedoria, a administração das catacumbas, na Via Ápia, que eram aqueles cemitérios cristãos, que se encontravam no subsolo por motivos de segurança, e também serviam para celebrações litúrgicas, além de guardar para a ressurreição os corpos dos mártires e dos primeiros Papas.

Com a morte do Papa Zeferino, o Clero e o povo elegeram Calisto como o sucessor deste, apesar de sua origem escrava. Foi perseguido, caluniado e morreu mártir, quando acabou condenado ao exílio. Segundo a tradição mais segura, morreu numa revolta popular contra os cristãos e foi lançado a um poço.

Durante os seis anos de pastoreio zeloso e santo, São Calisto I condenou a doutrina que se posicionava contra a Santíssima Trindade. Até o seu martírio defendeu a Misericórdia de Deus, que se expressa pela Igreja, que perdoa os pecados dos que cumprem as condições de penitência, assim, combatia Calisto os rigoristas que condenavam os apóstatas adúlteros e homicidas.

São Calisto I, rogai por nós!


Hoje:

Dia Nacional da Pecuária


Leituras

Primeira Leitura (Sabedoria 7,7-11)
Leitura do livro da Sabedoria.

7 7 "Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim.
8 Eu a preferi aos cetros e tronos, e avaliei a riqueza como um nada ao lado da Sabedoria.
9 Não comparei a ela a pedra preciosa, porque todo o ouro ao lado dela é apenas um pouco de areia, e porque a prata diante dela será tida como lama.
10 Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue.
11 Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas".


Salmo 89/90

Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor,
e exultaremos de alegria!

Ensinai-nos a contar os nossos dias
e dai ao nosso coração sabedoria!
Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis?
Tende piedade e compaixão de vossos servos!

Saciai-nos de manhã com vosso amor,
e exultaremos de alegria todo o dia!
Alegrai-nos pelos dias que sofremos,
pelos anos que passamos na desgraça!

Manifestai a vossa obra a vossos servos
e as seus filhos revelai a vossa glória!
Que a bondade do Senhor e nosso Deus
repouse sobre nós e nos conduza!
Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho.


Segunda Leitura (Hebreus 4,12-13)
Leitura da carta aos Hebreus.

4 12 Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração.
13 Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas.


EVANGELHO (Marcos 10,17-30)

Naquele tempo, 10 17 tendo Jesus saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre, que farei para alcançara vida eterna?"
18 Jesus disse-lhe: "Por que me chamas bom? Só Deus é bom.
19 Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe."
20 Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade."
21 Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
22 Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.
23 E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: "Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!"
24 Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas!
25 É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."
26 Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"
27 Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.
28 Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."
29 Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho
30 que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna.


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. O CÉU NÃO ESTÁ A VENDA...

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

“Bom Mestre, o que devo fazer para alcançar a Vida Eterna?” É a pergunta que uma pessoa muito boa e piedosa da comunidade, dirige a Jesus no evangelho desse domingo.

O conceito de um “céu” que pode ser conquistado com boas obras está muito arraigado em todos nós porque é esta a pedagogia que se aplicou por muito tempo na educação dos filhos e na escola. “Seja bonzinho, estude bastante e passe de ano, que no final do ano eu te dou “aquele” presente que tanto você quer”.

Na minha classe do antigo primário, eu sentava-me na fila “B” onde os colegas nos chamavam de “burrinhos”, ás vezes só os alunos da fila “A” saiam para o recreio, como estímulo para continuarem a ser bons, pois os “bons” são sempre premiados. É normal que a maioria ainda pense assim em relação à Vida Eterna.

Mas Jesus desmonta este esquema mercantilista quando afirma, logo de início, que somente Deus é bom. Em seguida menciona a observância de cinco mandamentos nas relações com o próximo: adultério, fraude, falso testemunho, furto e a honra ao Pai e à Mãe. Note-se que não se tratam de simples preceitos, mas de uma relação fundamentada no amor e na comunhão, sempre marcada pela verdade, na vivência de algo que não se trata de uma simples aparência, mas que provém do interior, das virtudes presentes no coração de quem crê verdadeiramente e ama a Deus e ao seu reino.

O coração dessa pessoa, que se aproximou de Jesus, se encheu de alegria, pois sentiu, na resposta de Jesus, que estava no caminho certo, respondendo todo cheio de si, que já praticava tudo isso desde a sua infância. Então, olhando para ele Jesus o amou. Quando Deus nos ama ele nos quer por inteiro, ele quer ser o único em nossa vida e assim, Jesus convidou aquela pessoa a dar mais um passo para a perfeição na Santidade, pois só lhe faltava uma coisa: “vá, venda tudo o que tens e dá aos pobres”.

Esta última frase “dar aos pobres” é rica em significado, pois pobres são pessoas que têm necessidades, é exatamente essa a nossa condição diante de Deus: precisamos sempre dele, de sua Graça e Salvação, do seu amor e da sua misericórdia. Ser pobre em espírito é ter esta consciência!

O evangelho nos relata que aquela pessoa foi embora triste, porque no fundo achava que suas virtudes morais e aquela vida piedosa desde a infância, já eram suficientes para conquistar a Vida eterna. A sua riqueza, que era muita conforme menciona o e texto, considerada uma bênção, era um sinal de que sua vida virtuosa tinha a aprovação de Deus. “Sejam bons, pratiquem o evangelho, cumpram todas as obrigações para com Deus e a sua Igreja, principalmente dando o dízimo, e a sua vida vai melhorar porque Deus lhes abençoará dando-lhe prosperidade” Enfim, Deus me dá, porque eu mereço...

Essa religião dos merecimentos não nos conduzirá a Vida Eterna, podemos ter a certeza! A Graça e a Salvação que Deus nos concedeu em Jesus Cristo é puro dom imerecido. Na pobreza em espírito nos sentimos totalmente dependentes de Deus.

Não é o nosso patrimônio, o capital ou a riqueza que temos, que nos dá felicidade e segurança nessa vida, mas o senhor nosso Deus. Por isso, quando não temos a Sabedoria de Deus, e não sabemos nos relacionar com os bens deste mundo, eles se tornam um grande obstáculo e será muito difícil um rico entrar no Reino de Deus. Os discípulos ficaram assombrados justamente porque a riqueza, como já refletimos, era considerada uma bênção, dada a quem a merecesse.

Quem então poderá se salvar? E diante dessa pergunta Jesus fala da grande novidade, nada há que o homem possa fazer que mereça a Salvação, ela é dada e oferecida gratuitamente por Deus a todos os homens. O apóstolo Pedro ainda pensa em uma religião do merecimento quando menciona a si e aos demais, que deixaram tudo para seguir a Jesus.

E aí vem a outra grande novidade que eles não sabiam: a Vida Eterna já começa nesta vida e atinge a sua plenitude na eternidade. Quem colocou toda sua confiança e esperança em Cristo Jesus, fazendo somente dele a razão da sua esperança, nunca mais terá necessidade de nada em sua vida, e assim terá de volta o cêntuplo, como garante o evangelho.

2. Quem é bom?

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Aquele que vem correndo e cai de joelhos diante de Jesus representa o piedoso observante da Lei, ansioso e temeroso da morte. As suas acentuadas reverências podem ocultar certo exibicionismo, característico das relações entre pessoas de posses.

Assim também o título com que se dirige a Jesus: "Bom Mestre...", o qual Jesus rejeita. Em resposta a este homem, Jesus lhe recorda os tradicionais mandamentos da Lei, acrescentando, contudo, um: "não defraudarás ninguém", que diz respeito à apropriação injusta de bens. O homem, então, afirma que tudo tem observado. Jesus lhe propõe, então, o passo fundamental que leva à comunhão de vida com Deus, na eternidade: o despojamento das riquezas e a partilha com os pobres. O piedoso apegado às riquezas, entristecido, rejeita o caminho da vida eterna. É um homem sem sabedoria (primeira leitura). Mesmo que pessoalmente possa não ser injusto, esse homem, ao manter sua riqueza, ela própria fruto da injustiça, está conivente com a injustiça da sociedade, com seu sistema e suas estruturas econômicas opressoras e exploradoras.

Superar o obstáculo das riquezas é impossível para os homens submissos à ganância, porém para Deus tudo é possível. A palavra de Deus é mais penetrante do que uma espada de dois gumes (segunda leitura), é capaz de extirpar a ambição das riquezas, gerando o amor ao próximo.

Em contraste àquele homem, o evangelista Marcos apresenta o testemunho de Pedro que afirma sua fé e sua adesão ao seguimento de Jesus, declarando seu desapego de tudo. Nos evangelhos, comumente, Pedro fala representando a comunidade de discípulos.

A opção de Pedro é pelo abandono do apego ao bem privado e o gozo do bem partilhado, comunitário. É o caminho do seguimento de Jesus na construção do mundo novo de justiça e paz. Evidencia-se a proposta da rejeição desta estrutura social, dividida entre privilegiados, opressores e ricos, e excluídos, oprimidos e explorados. É um projeto que contraria a acumulação capitalista privada resultante da exploração do trabalho dos pequenos empobrecidos. Este projeto, assumido por causa de Jesus e do evangelho, suscitará a perseguição por parte dos poderosos beneficiários de seu projeto de acumulação financeira em um mercado global. O projeto de Jesus, em andamento, significa a inserção na vida eterna do "mundo futuro". É o mundo novo possível, com a renúncia ao bem privado, na partilha do bem comum, em comunhão com a natureza, com o próximo e com Deus, na Paz e na vida plena.

3. O PERIGO DA RIQUEZA

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

A opção radical pelo Reino exige liberdade interior que torne o cristão capaz de colocar sua vida integralmente nas mãos de Deus. A relativização dos bens destes mundo, quando se trata de fazer a vontade divina, é expressão desta liberdade. Quando estes bens impedem o cristão de obedecer a essa vontade, é sinal de que Deus tem um concorrente em seu coração. É isso um indício de idolatria.

O homem rico pensava estar em dia com Deus pelo fato de cumprir o Decálogo. Desde o tempo de sua juventude, não havia transgredido os mandamentos. A pergunta que dirigiu a Jesus: "o que devo fazer para possuir a vida eterna?" talvez manifestasse sua preocupação por algo mais, requerido por Deus. O passo básico havia sido dado. Era possível avançar?

A resposta de Jesus foi para ele um grande desafio: seria uma prova de sua liberdade diante da riqueza, de sua disposição para partilhar e de seu desejo de servir.

Ao dar as costas para Jesus e ir embora, triste e aflito, o homem rico demonstrou que sua riqueza estava acima da vontade de Deus, e sua obediência aos mandamentos não tinha consistência. Talvez a riqueza dele tivesse sido acumulada de forma egoísta, sem solidariedade com os pobres, aos quais nunca fora motivado a ajudar. Preferiu garantir o tesouro terreno, em detrimento do tesouro nos céus, por estar ainda muito distante da vida eterna.