São Conrado
Domingo, 19 de fevereiro de 2012
O santo de hoje viveu em Placência, na Itália, lugar onde casou-se também. Um homem de muitos bens, dado aos divertimentos e à caça. Numa ocasião de caçada, acidentalmente provocou um incêndio, prejudicando a muitas pessoas.
Ele então fugiu, e a polícia prendeu um inocente, que não sabendo se defender, estava prestes a ser condenado e executado.
Quando Conrado soube disso, se apresentou como responsável pelo incêndio e se propôs a vender todos os bens para reconstruir tudo o que o incêndio destruiu.
A partir daí, ele e sua esposa começaram a fazer uma caminhada séria e profunda no Cristianismo, buscando a vontade de Deus.
No discernimento dessa vontade, o casal fez o 'voto josefino'. Ambos se consagraram a Deus para viverem o celibato. Ela foi para um convento e ele retirou-se para um alto monte vivendo por quarenta anos como um eremita. Na oração e na intimidade com Deus, se ofertou a muitos. A muitos que hoje causam prejuízos para si e para os outros.
São Conrado, rogai por nós !
Leituras
Primeira Leitura (Is 43,18-19.21-22.24b-25 ) Leitura do Livro do Profeta Isaias
Assim fala o Senhor: "Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca. Este povo, eu o criei para mim e ele cantará meus louvores. Mas tu, Jacó, não me invocaste, e tu, Israel, de mim te fatigaste. Com teus pecados, trataste-me como servo, cansando-me com tuas maldades. Sou seu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me lembrarei de teus pecados"
Salmo – Sl 41(40)
Curai-me, Senhor, pois pequei contra vós!
Feliz de quem pensa no pobre e no fraco; o Senhor o liberta no dia do mal! O Senhor vai guardá-lo e salvar sua vida, o Senhor vai torná-lo feliz sobre a terra, e não vai entregá-lo à mercê do inimigo.
Deus irá ampará-lo em seu leito de dor, e lhe vai transformar a doença em vigor. Eu digo: "Meu Deus, tende pena de mim, curai-me, Senhor, pois pequei contra vós!"
Vós, porém, me havereis de guardar são e salvo e me pôr para sempre na vossa presença. Bendito o Senhor, que é Deus de Israel, desde sempre, agora e sempre. Amém!
Evangelho (Mc 2,1-12)
Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra. Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: "Filho, os teus pecados estão perdoados". Ora, alguns mestres da Lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: "Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus". Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: "Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil: dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, pega a tua cama e anda'? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados, - disse ele ao paralítico: - eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!". O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvaram a Deus, dizendo: "Nunca vimos uma coisa assim".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "NOSSOS PARALÍTICOS..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Certa ocasião, quando refletíamos esse evangelho em grupo, alguém perguntou se na casa onde Jesus estava pregando, havia elevador ou coisa parecida, se olharmos o relato em si mesmo, vamos acabar fazendo outras perguntas como, "Será que eles não podiam pedir licença para passar no meio das pessoas e entrar na casa?" e mais ainda... Seria normal que as pessoas que estavam aglomeradas á entrada, quando vissem o esforço dos quatro homens, subindo na parede com o paralítico deitado em uma cama, oferecessem ajuda, buscando uma alternativa mais fácil...
O próprio Jesus, não poderia ter dado um jeito de sair para atender o paralítico, sem precisar tanto esforço de subir e ainda ter de abrir um buraco no telhado? Fazer perguntas como essas, é muito importante para a nossa reflexão, pois vamos e convenhamos, o modo que eles encontraram para colocar o paralítico á frente de Jesus, não foi o mais fácil, aliás, correu-se até o risco de um grave acidente.
Hoje em dia a gente sabe que nossos templos existentes, ou os que estão em construção, devem ter em seu projeto, a construção de rampas, para facilitar o acesso de nossos irmãos deficientes. Mas com certeza, não é este o tema do evangelista, ele está querendo dizer alguma coisa as suas comunidades e aos cristãos do nosso tempo.
Dia desses, alguém bastante estressado dizia-me que certas pessoas só atrapalham a vida da comunidade, porque são muito radicais, geniosas, incomodam a todos, e o tempo todo eles só arranjam encrencas e mais encrencas, concluindo, dão muito trabalho, são sempre do contra, enfim, chatas e duras de engolir, e que sem elas, a comunidade é uma maravilha, o conselho deveria tomar providência, ou quem sabe, o padre impor a sua autoridade.
Pessoas com essas características não caminham, e ainda dificultam a vida de quem quer caminhar: pronto, já começamos a descobrir os paralíticos e paralíticas de nossas comunidades, irmãos e irmãs que não se emendam de seus defeitos, nunca mudam o seu jeito de ser, não se convertem e precisam portanto, ser acolhidas e carregadas. Há irmãos na comunidade que a gente tem prazer de encontrar, é sempre uma alegria imensa, mas há também esses, que nos perturbam, incomodam, e a gente não fica a vontade, se estão conosco em uma reunião da pastoral ou do movimento, a troca de "farpas" será inevitável...
Há no texto duas coisas que chamam a nossa atenção, primeiro o esforço desse quarteto, subir pela parede, desfazer o telhado e descer a cama com cordas. Jesus elogia-lhes a fé, parece até que fez o milagre como retribuição a tanto esforço. Eles tinham fé em Jesus Cristo, sabiam que se o levassem diante dele, seria curado, mas por outro lado, embora o texto não cite isso, a gente percebe que o amavam muito, tiveram com ele muita paciência, sei lá quantos quilômetros tiveram que andar, carregando aquela cama que deveria ser pesada, e ainda, ao deparar com a multidão aglomerada á frente da casa, poderiam ter desistido, já tinham feito a sua parte. Mas a força do amor e da fé, fez com que não desistissem, e se preciso fosse, seriam capazes de derrubar a casa.
Os quatro são uma referência para as nossas comunidades, onde muitas vezes falta-nos o amor e a fé, para carregar nossos paralíticos e superar os obstáculos, passando por cima dos preconceitos. Nas comunidades há pessoas amorosas, pacienciosas, que aceitam conviver com todos, amando-os como eles são, sem exigências, preconceitos ou radicalismo, mas há também a turma de "nariz empinado", como aqueles doutores da lei, que não crê em um Deus que é misericórdia, e que perdoa pecados, seguem normas e preceitos, até trabalham na comunidade, mas são extremamente exigentes com os "paralíticos", acham-se perfeitos e não aceitam a convivência com os imperfeitos.
Jesus elimina o problema pela raiz, "Filho, teus pecados te são perdoados...", a cura física vem em segundo plano, e se a enfermidade impede que o paralítico se aproxime de Jesus, a comunidade os carrega, possibilitando que ele também faça a experiência do Deus que perdoa, ora, se houver na comunidade intolerância, preconceitos, e ranços ocultos, como é que essas pessoas poderão experimentar o amor, o perdão e a misericórdia? Os intolerantes têm sempre um olhar extremamente crítico e severo, para com os paralíticos, e não aceitam que outras pessoas tenham por eles amor e ternura, manifestada na paciência e tolerância.
Por isso Jesus ordena – levanta-te, toma o teu leito e vai para casa. Deus nunca faz as coisas pela metade, na obra da salvação, Jesus não fez simplesmente uma reforma no ser humano, mas o transforma em uma nova criatura, na graça santificante do Batismo, fazendo com que deixe de se relacionar com Deus na religião normativa, porque crê no Deus que é todo amor e misericórdia, que perdoa pecados e os liberta com a sua santa palavra, em Jesus de Nazaré.
2. Jesus "anuncia a palavra" à multidão
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
A cena nos apresenta Jesus em casa, em Cafarnaum, e uma multidão que se aglomera à sua porta. Como é característico a Marcos, é a "casa", e não a sinagoga, o lugar do encontro de Jesus com as multidões. Em seu convívio com estas multidões, Jesus diferenciava-se do "pequeno resto de Israel", como assim se julgavam as elites religiosas, instaladas no Templo e nas sinagogas, separadas do povo. Marcos, nesta sua narrativa rica em detalhes, de início realça que Jesus "anunciava a palavra" à multidão que enchia sua casa.
É próprio de Marcos o destaque maior à palavra de Jesus, que liberta e comunica vida. Entra em cena um paralítico, carregado por quatro homens, e segue a cena pitoresca da sua descida, deitado na maca, por um buraco feito no teto da casa. Jesus é tocado pela fé, não só do paralítico, mas também daqueles que o acompanhavam.
As ações e diálogos que se seguem não são uma interrupção do anúncio, mas exprimem concretamente o seu próprio conteúdo: a libertação dos pecados. O núcleo da Boa-Nova é a manifestação do infinito amor de Deus. A palavra que corresponde a "pecado" no Antigo Testamento, em hebraico, é het'. O seu significado corresponde ao ato de errar o alvo, sair do caminho, perder. O alvo, no caso, era a Lei.
Assim, na doutrina dos chefes religiosos do Templo e das sinagogas, o pecado tinha um sentido predominantemente legalista. Era considerado pecado qualquer ato ou omissão que contrariasse as observâncias legais religiosas (Torá e as inúmeras tradições a ela anexadas). Ainda mais, a prosperidade era considerada uma bênção de Deus, enquanto a pobreza e miséria, bem como as doenças, eram consideradas castigo de Deus por pecados cometidos (o que é contestado no Livro de Jó). Jesus vem remover esta humilhação que submetia o povo ao poder religioso do Templo de Jerusalém, resgatando a sua dignidade. A prática de Jesus tem duas dimensões: isenta de qualquer culpabilidade os acusados de pecado e acolhe-os com grande amor e amizade, rejeitando a sua exclusão religiosa e social.
Jesus, diante daquele paralítico, prioriza a sua libertação da condição humilhante e excludente de "pecador". E a libertação da paralisia é decorrente de sua dignidade restaurada.
São os novos laços de relacionamento humano que vencem um mundo onde tem prevalecido o privilégio de minorias que moldam uma cultura de poder e submissão, que atende a seus interesses particulares. Pelo "sim" que nos une a Jesus (segunda leitura), todas as coisas se fazem novas (primeira leitura) pela remoção de toda exclusão, na libertação e na promoção da vida.
3. FÉ E INCREDULIDADE
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
É chocante o contraste entre a fé do paralítico e dos que o traziam até Jesus, para ser curado, e a incredulidade de alguns escribas, presentes nesta ocasião.
Para que o homem fosse curado, pessoas de boa vontade superaram todos os obstáculos a fim de fazê-lo chegar até Jesus. Mas, a presença da multidão impedia-lhes o acesso. Por isso, resolveram abrir um buraco no teto, por onde puderam descer a maca do paralítico. Só uma fé profunda pode explicar este gesto quase desesperado. E Jesus o descobre, e o recompensa.
Por sua vez, os escribas ruminam, em seus corações, pensamentos malévolos a respeito da ação de Jesus. Tomam-no por usurpador de um poder exclusivo de Deus, porque perdoa os pecados daquele pobre homem, antes mesmo que lhe solicitassem a cura. Sua incredulidade leva-os a acusar Jesus de blasfemo. É que, no fundo, não suportavam conviver com a misericórdia que jorrava do coração do Mestre.
A incredulidade dos escribas não foi suficientemente forte para bloquear Jesus. Ele continuou a agir com absoluta liberdade, sempre conforme o querer do Pai. Não só perdoou todos os pecados do paralítico, como também, devolveu-lhe a saúde, recompensando-lhe a fé.
Os incrédulos podem até permanecer firmes em sua incredulidade. Só não podem dizer que não tinham motivos para crer. O milagre de Jesus não dava margem para dúvidas.