São Deodato

Terça-feira, 08 de novembro de 2011


O santo de hoje, cujo nome significa "dado por Deus", foi por quarenta anos Padre em Roma antes de suceder ao Papa Bonifácio IV a 19 de outubro de 615. Em Roma, o Papa não era somente o Bispo e o Pai espiritual, mas também o guia civil, o juiz, o supremo magistrado, a garantia da ordem. Com a morte de cada pontífice, os romanos se sentiam privados de proteção, expostos às invasões dos bárbaros nórdicos ou às reivindicações do império do Oriente. A teoria dos dois únicos, Papa e imperador, que deviam governar unidos o mundo cristão, não encontrava grandes adesões em Constantinopla.

O Papa Deodato, entretanto, buscou o diálogo junto ao imperador intercedendo pelas necessidades de seu povo e, apesar do imperador mostrar-se pouco solícito para o bem do povo, enviou o exarca Eleutério para acabar com as revoltas de Ravena e de Nápoles. Foi a única vez que o Papa Deodato, ocupado em aliviar os desconfortos da população da cidade, nas calamidades acima referidas, teve um contato, se bem que indireto, com o imperador.

Foi inserido no Martirológio Romano, um episódio que revalidaria a fama de santidade que circundava este pontífice que guiou os cristãos em épocas tão difíceis: durante uma das suas frequentes visitas aos doentes, os mais abandonados, os que era atingidos pela lepra, teria curado um desses infelizes, após havê-lo amavelmente abraçado e beijado.

São Deodato morreu em novembro do ano 618, amado e chorado pelos romanos que tiveram a oportunidade de apreciar seu bom coração durante as grandes calamidades que se abateram sobre Roma nos seus três anos de Pontificado (inclusive um terremoto, que deu golpe de graça aos edifícios de mármore dos Foros, já devastados por sucessivas invasões bárbaras e horríveis epidemia).

São Deodato, rogai por nós!


Hoje:

Dia Mundial do Urbanismo, Dia do Radiologista


Leituras

Primeira Leitura (Sabedoria 2,23-3,9)
Leitura do Livro da Sabedoria.

2 23 Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza.
24 É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão.
3 1 Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará.
2 Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça.
3 E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz! 4 Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade,
5 e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si.
6 Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto. 7 No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha.
8 Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre.
9 Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia.


Salmo 33/34

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo!

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
Minha alma se gloria no Senhor;
que ouçam os humildes e se alegrem!

O Senhor pousa seus olhos sobre os justos, e seu ouvido está atento ao seu chamado;
mas ele volta a sua face contra os maus,
para da terra apagar sua lembrança.

Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta
e de toda as angústias os liberta.
Do coração atribulado ele está perto
e conforta os de espírito abatido.


Evangelho (Lucas 17,7-10)

Naquele tempo, disse Jesus: 17 7 "Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: ´Vem depressa sentar-te à mesa?´
8 E não lhe dirá ao contrário: ´Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disto comerás e beberás tu?´
9 E se o servo tiver feito tudo o que lhe ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação?
10 Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ´Somos servos como quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer´".


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. "Fazendo favor com o chapéu alheio"

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Parece que nas comunidades de Lucas haviam agentes de pastoral, ministros, coordenadores e cooperadores, que estavam querendo agradecimento pelo trabalho que faziam. Tinha um que dizia assim "Ingratos, fiz tanto por essa comunidade, e nunca me deram um presente sequer, nem um muito obrigado". Outros mais otimistas pensavam"Faço muito por essa comunidade, com a melhor das boas intenções, espero que algum dia alguém reconheça a minha dedicação e amor".

Havia ainda os daquele tipo "Donos do Pedaço", que pensavam " Nossa como sou importante nessa comunidade, até o Padre me respeita e pede a minha opinião, o pessoal da pastoral não sai da porta da minha casa, parece que sem eu a coisa não funciona, claro que o pessoal gosta muito de mim e isso é uma forma de agradecer pelos incontáveis serviços que já prestei e ainda continuo prestando a eles, por isso ninguém me contraria e todos acatam o que eu falo, acho que sou líder nato, é carisma e dom que recebi..."

Naquele tempo tinha muitos servos e servas inúteis, fazendo o que simplesmente deveriam fazer, mas em compensação arrotando vantagens, esnobando talentos, buscando elogios, apoio e prestígio. Mas isso não seria tão grave se a coisa não voltasse até contra Deus.

"Deus é testemunha do quanto eu amo esta comunidade e faço por ela, por isso sou abençoado e não acontecem desgraças na minha vida, como o vizinho aí do lado, que nunca pôs os pés na igreja".

E finalmente o tipo inconformado "Olha Deus, que decepção, me doei tanto para a comunidade e agora o Senhor me manda essa doença? Dei ao Senhor os melhores anos da minha vida e é isso que ganho em retribuição? Se soubesse disso, teria caído na gandaia e aproveitado a vida" ( Esse aqui acha que não aproveitou a vida, porque trabalhou o tempo todo na comunidade).

Bom, enfim eis aí o evangelho de hoje, que mostra as avessas do que fazemos, pensamos e somos, servir os irmãos com o nosso carisma, fazendo o melhor e dar o melhor de si, é servir o próprio Jesus que está nele, e então o nosso servir, que aparentemente parece um, grande altruísmo nada mais é do que gratidão, pela entrega total de sua vida na cruz do calvário. Devemos tudo a Ele e não contrário...

O qualificativo INÚTIL, empregado nesse evangelho, justifica-se porque, quando se espera recompensa, gratidão ou qualquer outra coisa das pessoas a quem servimos, a ação prestada não serviu para NADA, pois todos os nossos carismas e talentos não nos pertencem mas sim a Deus, e daí, aplica-se um velho e conhecido ditado: Só estamos fazendo favor, com o chapéu alheio...

2. A serviço dos pobres e excluídos

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Nesta parábola exclusiva de Lucas temos um contraste entre um servo submisso e seu patrão. De início, os discípulos são convidados a se identificarem com o patrão da parábola ("Se alguém de vós tem um servo..."). Na aplicação da parábola, os discípulos são identificados com o servo (...dizei: "Somos simples servos...").

A parábola causa certo constrangimento pelas imagens usadas: por um lado o senhor proprietário rural, prepotente e gozador, e, de outro lado, um servo humilhado. Esta é uma realidade comum nas sociedades de classes, onde as elites privilegiadas exploram e humilham os pobres pequeninos e despojados de tudo. No ambiente religioso do judaísmo no tempo de Jesus, a parábola pode exprimir a relação entre a Lei opressora e o fiel oprimido, com sua obediência cega. Os primeiros cristãos extraíram da parábola um sentimento de humildade que devemos ter diante do projeto do Reino de Deus. Contudo Jesus, de outra maneira, vem revelar-nos a face de Deus Pai, amoroso e misericordioso, diferente de um deus patrão.

A vida de Jesus foi toda dedicada ao serviço aos pobres e excluídos, culminando com o lava-pés dos discípulos na última ceia. E, por ele, somos convidados a assumirmos esta prática de serviço.

3. O CUMPRIMENTO DO DEVER

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

O discípulo é constituído para o serviço do Reino. É na vocação de servidor que se realiza e encontra um sentido para sua vida. Sua alegria consiste em entregar-se, sem reservas, à missão recebida, sem nada exigir. Basta-lhe a consciência do dever cumprido.

Jesus desenvolveu este tema, servindo-se de uma parábola baseada nos costumes da época. A inescrupulosa atitude do senhor, em relação a seu servo, justificava-se na sociedade de então. A falta de um contrato de trabalho, em que se estipulava o limite de horas de trabalho diário e se reconhecia as horas extras, possibilitava aos senhores explorar, ao máximo, os seus empregados. Por outro lado, o escravo era propriedade de seu dono, portanto, sem qualquer direito. Tudo quanto fizesse, por mais duro e esgotante que fosse, restava-lhe somente dizer: "Cumpri apenas meu dever!"

Aplicado ao Reino, a lição funciona assim: se o escravo, serve por obrigação, submete-se a todos os caprichos de seu patrão, resigna-se ao pensar que faz o seu dever, quanto mais o discípulo do Reino, cuja opção é livre, está a serviço de um Pai misericordioso, e tem como obrigação somente praticar o amor e a justiça? Por mais que tenha feito, cabe-lhe dizer: "Sou um empregado inútil, fiz apenas o que era minha obrigação!" É se dá por satisfeito por estar a serviço do amor.