São Jerônimo

Sexta-feira, 30 de setembro de 2011


Neste último dia do mês da Bíblia, celebramos a memória do grande "tradutor e exegeta das Sagradas Escrituras": São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja. Ele nasceu na Dalmácia em 340, e ficou conhecido como escritor, filósofo, teólogo, retórico, gramático, dialético, historiador, exegeta e doutor da Igreja. É de São Jerônimo a célebre frase: "Ignorar as Escrituras, é ignorar a Cristo".

Com posse da herança dos pais, foi realizar sua vocação de amante dos estudos em Roma. Estando na "Cidade Eterna", Jerônimo aproveitou para visitar as Catacumbas, onde contemplava as capelas e esforçava-se por decifrar os escritos nos túmulos dos mártires. Em Roma, Jerônimo teve um sonho que foi determinante para sua conversão: neste sonho, Jerônimo apresentava-se como cristão e era repreendido pelo próprio Cristo por estar faltando com a verdade (pois ainda não havia abraçado as Sagradas Escrituras, mas somente escritos pagãos). Cerca do fim desta permanência em Roma, Jerônimo recebeu o Batismo.

Após isso, iniciou os estudos teológicos e decidiu lançar-se numa peregrinação à Terra Santa, mas uma prolongada doença obrigou-o a permanecer em Antioquia. Enfastiado do mundo e desejoso de quietude e penitência, retirou-se para o deserto de Cálcida, com o propósito de seguir na vida eremítica. Ordenado sacerdote em 379, retirou-se para estudar, a fim de responder com a literatura às necessidades da época. Tendo estudado as línguas originais para melhor compreender as Escrituras, Jerônimo pôde, a pedido do Papa Dâmaso, traduzir com precisão a Bíblia para o latim (língua oficial da Igreja). Esta tradução recebeu o nome de Vulgata. Assim, com alegria e prazer se empenhou para enriquecer a Igreja universal.

Saiu de Roma, e foi viver definitivamente em Belém no ano de 386, onde permaneceu como monge penitente e estudioso, continuando as traduções bíblicas, até falecer em 420, aos 30 de setembro com, praticamente, 80 anos de idade. A Igreja declarou-o padroeiro de todos os que se dedicam ao estudo da Bíblia e fixou o "Dia da Bíblia" no mês do seu aniversário de morte, ou ainda, dia da posse da grande promessa bíblica: a Vida Eterna.

São Jerônimo, rogai por nós!


Hoje: Dia da Biblia, Dia da Secretária, Dia da Navegação, Dia Mundial do Tradutor e Dia Nacional do Jornaleiro


Leituras

Primeira Leitura (Baruc 1,15-22)
Leitura do livro de Baruc.

Eis o que direis: O Senhor, nosso Deus, é justo. Nós, porém, devemos, hoje, corar de vergonha, nós, homens de Judá e habitantes de Jerusalém, nossos reis e príncipes, sacerdotes, profetas e nossos pais, porque pecamos contra o Senhor.

Nós lhe desobedecemos; recusamo-nos a ouvir a voz do Senhor, nosso Deus, e a seguir os mandamentos que nos deu. Desde o dia em que o Senhor tirou nossos pais do Egito até agora, persistimos em nos mostrar recalcitrantes contra o Senhor, nosso Deus, e, em nossa leviandade, recusamos escutar-lhe a voz.

Por isso, como agora o vemos, persegue-nos a calamidade assim como a maldição que o Senhor pronunciara pela boca de Moisés, seu servo, quando este fez com que saíssem do Egito nossos pais, a fim de nos proporcionar uma terra que mana leite e mel.

Contudo, a despeito dos avisos dos profetas que nos enviou, não escutamos a voz do Senhor, nosso Deus. Seguindo cada um de nós as inclinações perversas do coração, servimos a deuses estranhos e praticamos o mal ante os olhos do Senhor, nosso Deus.


Salmo 78/79

Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos, ó Senhor!

Invadiram vossa herança os infiéis,
profanaram, ó Senhor, o vosso templo,
Jerusalém foi reduzida a ruínas!
Lançaram aos abutres como pasto
os cadáveres dos vossos servidores;
e às feras da floresta entregaram
os corpos dos fiéis, vossos eleitos.

Derramaram o seu sangue como água
em torno das muralhas de Sião,
e não houve quem lhes desse sepultura!
Nós nos tornamos o opróbrio dos vizinhos,
um objeto de desprezo e zombaria
para os povos e àqueles que nos cercam.
Mas até quando, ó Senhor, veremos isto?
Conservareis eternamente a vossa ira?
Como fogo arderá a vossa cólera?

Não lembreis as nossas culpas do passado,
mas venha logo sobre nós vossa bondade,
pois estamos humilhados em extremo.

Ajudai-nos, nosso Deus e Salvador!
Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos!
Por vosso nome, perdoai nossos pecados!


Evangelho (Lucas 10,13-16)

Naquele tempo, disse Jesus: "Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitos os prodígios que foram realizados em vosso meio, há muito tempo teriam feito penitência, cobrindo-se de saco e cinza. Por isso haverá no dia do juízo menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós.

E tu, Cafarnaum, que te elevas até o céu, serás precipitada até aos infernos. Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou".


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. "Tenho medo do Cristo que passa..."

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Neste mês da Bíblia, na minha comunidade estamos cantando para acolher a Santa Palavra, antes das leituras e o hino é muito significativo "É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa, tua Palavra é assim, não passa por mim sem deixar um sinal, tenho medo de me esconder, de fingir que não escutei, tenho medo do Cristo que passa, oferece uma graça e eu digo que não, tenho medo de virar as costas, fingir que a coisa não é comigo, enfim, ser indiferente as manifestações de Deus em nossa vida...

Seria este o contexto da reflexão, as cidades de Coroazim, e Betsaida, conheceram Jesus, viram seus prodígios mas o rejeitaram. A responsabilidade de quem ouviu o anúncio e conheceu a Jesus Cristo, o seu Reino e seu evangelho, é enorme de grande.

As cidades de Tiro e Sidônia, habitada por pagãos, ainda não haviam tido essa experiência com Jesus, não o conheciam, nada sabiam das escrituras ou sobre o tal Messias. É difícil afirmar quem conhece a Jesus e quem ainda não o conhece, a verdade é que, na Força do Espírito Santo Deus chega a todos os homens e consegue penetrar-lhes no mais profundo do coração e da vida.

Neste evangelho poderíamos refletir sobre o nosso papel de Cristãos no mundo enquanto Igreja de Cristo, temos os Sacramentos, a Palavra Viva de Deus em nossas liturgias, e o mais importante, temos a Santa Eucaristia, presença real do Senhor em nossa Vida, que nos fortalece.

Tudo isso é pura Graça de Deus, dom imerecido de nossa parte, com todos esses dons, cada um de nós deverá ter feito uma profunda experiência com Jesus Cristo, e a partir disso dar o testemunho a todas as pessoas com quem convivemos ou que de algum modo fazem parte de nossa vida.

Se essas pessoas ainda não conhecem Jesus, a responsabilidade é toda nossa, que não o testemunhamos, principalmente fora da comunidade, na Família, no trabalho, na escola, enfim, aonde estivermos. A esse respeito lembro-me do Testemunho de Iris Gomes, uma negra que deu o seu testemunho a mais de 80 Bispos em um encontro no Rio de Janeiro, ela queria ser religiosa de Vida Consagrada, mas o seu Diretor Espiritual orientou que o seu lugar não era no convento, mas sim no mundo do trabalho.

Iris trabalha há mais de 20 anos nos bastidores das novelas da Rede Globo, e diante deste evangelho fiquei pensando, que se ela insistisse na idéia de ser Religiosa, fechada em um convento, quantos artistas teriam deixado de conhecer a Jesus... Lá onde parece que só há hostilidade contra o evangelho de Jesus, é o melhor lugar para se viver autenticamente o cristianismo. Esse evangelho nos convence disso.

2. O missionário representa o próprio Jesus

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Este texto, praticamente com as mesmas palavras, está também no evangelho de Mateus. Lucas inseriu-o no fim das orientações para a missão dos setenta e dois discípulos, na Samaria.

Temos aqui um contundente texto de imprecação. É um estilo característico do Antigo Testamento, sendo também encontrado na literatura grega. São os "ai" como anúncio de desgraça. Têm origem em lamentações fúnebres, tendo passado ao uso literário como lamentações de advertência sobre pessoas ou cidades passíveis de condenação.

No evangelho de Lucas encontramos quatro "ais" dirigidos aos ricos, em contraposição às quatro bem-aventuranças e, como em Mateus, sete "ais" dirigidos aos fariseus, censurando sua hipocrisia.

As sentenças menos duras associadas às cidades gentílicas de Tiro e Sidônia em relação às cidade de influência do judaísmo, Corazim, Betsaida e Cafarnaum, indicam que os gentios estavam mais abertos do que os judeus à acolhida da novidade de Jesus.

A frase final encerra as orientações para a missão. O missionário representa o próprio Jesus, enviado do Pai.

3. EXTREMO APELO À CONVERSÃO

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

É admirável o modo sincero e transparente como Jesus partilha com os discípulos, enviados em missão, sua própria experiência de fracasso. Longe de revelar fraqueza, suas palavras revelam o respeito que ele tinha pela liberdade humana. Em hipótese alguma, a proposta do Reino tornou-se imposição na vida das pessoas. Diante do Reino, deveriam decidir-se livremente e assumir as conseqüências desta decisão.

Várias cidades ao redor do lago de Genesaré fecharam-se à pregação de Jesus. Corozaim, Betsaida e Cafarnaum estão entre aquelas que não aderiram nem se mostraram capazes de dar ouvido aos ensinamentos do Mestre. Os milagres nelas efetuados teriam sido suficientes para converter até mesmo cidades pagãs, motivando-as a fazer penitência.

A lamentação profética de Jesus: "Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida!" comporta um apelo extremo à conversão. Apelo amargo e incisivo! Fechando-se para o Reino, as cidades impenitentes corriam o risco de ter uma sorte dramática, no dia do juízo. Por quê? Por se terem mostrado hostis para com o Filho de Deus, rejeitando o convite divino à conversão que ele lhes dirigia.

O fracasso missionário de Jesus não significava que essas cidades impenitentes seriam poupadas do castigo. O mesmo acontecerá com as cidades que, eventualmente, se recusarem a ouvir os enviados de Jesus, e os repelirem.