São João Damasceno
Domingo, 04 de dezembro de 2011
Lembramos São João Damasceno, um santo Padre e Doutor da Igreja de Cristo. Nasceu em 675, em Damasco (Síria) num período em que o Cristianismo tinha uma certa liberdade, tanto assim que o pai de João era muito cristão e amigo dos Sarracenos, que naquela época eram senhores do país. Esta estima estendia-se também ao filho. Os raros talentos e merecimentos deste levaram o Califa a distingui-lo com a sua confiança e nomeá-lo prefeito (mansur) de Damasco.
João Damasceno ainda jovem e ajudante do pai gozava de muitos privilégios financeiros, mas ao crescer no amor ao Cristo pobre, deu atenção a Palavra que mostra a dificuldade dos ricos (apegados) para entrarem no Reino dos Céus. Assim, num impulso para a santidade, renunciou todos os bens e deu aos pobres. Preferiu São João uma vida de maus tratos ao se entregar as "delícias venenosas" do pecado.
Retirou-se para um convento de São Sabas perto de Jerusalém e passou a viver na humildade, caridade e alegria. Escreveu inúmeras obras tratando de vários assuntos sobre teologia, dogmática, apologética e outros campos que fizeram de São João digno do título de Doutor da Igreja. Com escritos defendeu principalmente a Igreja contra os iconoclastas, que condenavam o uso de imagens nas Igrejas.
Certa vez, os hereges prenderam São João e cortaram-lhe a mão direita a fim de não mais escrever, mas por intervenção de Nossa Senhora foi curado. Seu amor a Mãe de Jesus foi tão concreto que foi São João quem tornou presente a doutrina sobre a Imaculada Conceição, Maternidade divina, Virgindade perpétua e Assunção de corpo e alma de Maria. Este filho predileto da Mãe faleceu em 749, quase centenário.
Foi declarado Doutor da Igreja pelo Papa Leão XIII em 1890.
São João Damasceno, rogai por nós!
Leituras
Primeira Leitura (Is 40,1-5.9-11)
Leitura do Livro do Profeta Isaías
1 Consolai o meu povo, consolai-o! – diz o vosso Deus–.
2 Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados.
3 Grita uma voz: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus.
4 Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas:
5 a glória do Senhor então se manifestará, e todos os homens verão juntamente o que a boca do Senhor falou”.
9 Sobe a um alto monte, tu, que trazes a boa nova a Sião; levanta com força a tua voz, tu, que trazes a boa nova a Jerusalém, ergue a voz, não temas; dize às cidades de Judá:
10 “Eis o vosso Deus, eis que o Senhor Deus vem com poder, seu braço tudo domina: eis, com ele, sua conquista, eis à sua frente a vitória.
11 Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne, com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo; ele mesmo tange as ovelhas-mães”.
Salmo Sl 85(84) (H1, p. 20 - CD VIII (fx 2)
Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!
Quero ouvir o que o Senhor irá falar: * é a paz que ele vai anunciar. * Está perto a salvação dos que o temem * e a glória habitará em nossa terra.
A verdade e o amor se encontrarão, * a justiça e paz se abraçarão. * Da terra brotará fidelidade * e a justiça olhará dos altos céus.
O Senhor nos dará tudo o que é bom * e a nossa terra nos dará suas colheitas. * A justiça andará à sua frente * e a salvação há de seguir os passos seus.
Evangelho (Mc 1,1-8)
1 Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
2 Está escrito no livro do profeta Isaías: “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho.
3 Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!’”
4 Foi assim que João Batista apareceu no deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados.
5 Toda a região da Judéia e todos os moradores de Jerusalém iam ao seu encontro. Confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão.
6 João se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhotos e mel do campo.
7 E pregava, dizendo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. 8Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo”.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "ENDIREITAI AS ESTRADAS!"
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Uma das brincadeiras prediletas na minha infância, vivida na Vila Albertina, era correr pelas laterais, acompanhando a “Plaina”, nome que dávamos á máquina de terraplanagem, que por aqueles tempos, em que as ruas Albertina Nascimento e Tarcísio Nascimento não eram asfaltadas, causava-nos admiração e era uma festa quando a “Plaina” apontava na Rua do Comércio, entrando pela Vila para aplainar a rua, acabando com os buracos e desníveis, deixando-a alinhada.
Nós meninos, ficávamos estupefatos em ver como aquela lamina poderosa derrubava facilmente as saliências, e preenchia os buracos ao mesmo tempo em que aplainava deixando a rua bem mais acessível e transitável para os pedestres, charretes, carroças, e um ou outro carro ou lambretas, que passavam por ali. Pois esta é a palavra de ordem que João Batista, o mensageiro do Senhor grita no deserto, e que o profeta Isaias havia predito “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as estradas, aplainai os morros e nivelai os buracos!”
O coração humano muitas vezes é uma estrada de chão batido, toda esburacada, cheia de valetas, tortuosa e completamente inacessível! Como é que a graça de Deus vai entrar na vida de alguém com coração assim? É muito difícil! Assim estava a humanidade antes de Jesus trazer a Salvação, não dava para o homem chegar a Deus e muito menos ele chegar e entrar na vida do homem, por causa da “buraqueira” e saliências do orgulho, da vaidade do pecado.
Jesus vem do Pai, com a força mil vezes maior do que a máquina de terraplanagem, com a sua lâmina afiada e poderosa da graça de Deus, para derrubar por terra o monte do mal e do egoísmo, para aterrar o abismo do ódio, da inimizade e das divisões, existentes em nossa vida O Batismo de João é apenas uma preparação para receber o novo e verdadeiro Batismo, que Jesus trouxe, no fogo do Espírito Santo, se quisermos recorrer novamente a imagem da rua esburacada, poderíamos dizer que o Batismo pelo fogo é como o asfalto, que muda definitivamente o visual da rua, que nunca mais ficará esburacada e desalinhada (se o asfalto for de primeira).
O anúncio feito pelo Batista, de que o Reino estava chegando com Jesus, era como os meninos que avistavam primeiro e alvoroçados gritavam aos demais “A plaina está chegando!”, provocando em todos uma grande euforia, expectativa e alegria em saber, que pelo resto do dia a veríamos trabalhar, nivelando os barrancos e empurrando grandes porções de terra com sua força descomunal, e assim, em cada advento o Senhor nos revela que a força de sua graça poderá destruir tantos abismos e buracos na relação entre as pessoas, nos grupos sociais, nas comunidades cristãs e até entre as Nações.
Mas assim como aquele serviço de melhoria da rua, era solicitado por alguma autoridade do Distrito, ao Município de Sorocaba, também é necessário que a gente tenha no coração esse desejo sincero de mudar de vida e converter, permitindo que o Salvador venha para nos renovar e libertar, pois sem a nossa adesão á obra da salvação, o nosso coração continuará triste, como uma rua deserta e esburacada, onde Deus não pode entrar.
A pregação de João Batista, anunciando que o Senhor virá, é um convite e um alerta, para que abramos o nosso coração a Deus, tornando acessível á salvação e a graça que Jesus nos oferece. E quando Deus tem acesso á nossa vida, e nós temos acesso ao coração do Pai, através de seu Filho Jesus, nos tornamos outra pessoa, pois passamos a viver de um jeito diferente, a rua alinhada e nivelada, não só ganhava um visual novo mas as pessoas podiam andar com mais segurança, sem ter de desviar dos buracos ou medo de virar o pé e assim é que, essa conversão a que somos chamados neste tempo litúrgico do advento, não pode ser só de fachada.
João vivia no deserto, lugar de reflexão e experiência de Deus, lugar e tempo de tomar decisões importantes, como aquele povo conduzido por Moisés tomou, na travessia do deserto onde conheceu a Deus e fez com ele uma aliança. Foi também no deserto que Jesus, após o batismo, superou as tentações e ratificou a missão que o Pai havia lhe confiado. É no deserto que no evangelho desse domingo aparece João, vestindo e se alimentando de um jeito diferente, anunciando este tempo novo, onde os corações aplainados e retos, irão se inundar da copiosa graça redentora, oferecida por Jesus de Nazaré.
José da Cruz é diácono permanente da
Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim/SP
e-mail: [email protected]
- A fé nos permite reconhecer o Filho de Deus encarnado que permanece conosco.
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
A palavra "evangelho", que tem origem no grego e significa "boa notícia", era usada para exprimir o anúncio das novidades dos imperadores romanos, tais como uma visita a ser feita ou o nascimento de um herdeiro. Nas cartas paulinas a palavra é usada 74 vezes com o sentido de anúncio da morte e ressurreição gloriosa de Cristo, sem nenhuma referência ao convívio histórico de Jesus com as pessoas.
No evangelho de Marcos, escrito após o término do ministério de Paulo, a palavra passa a ter um novo sentido: o evangelho é o anúncio da vida de Jesus, desde o batismo de João até a sua morte e ressurreição. Os evangelhos de Mateus e Lucas, posteriores ao de Marcos, iniciarão seus textos com as narrativas de infância de Jesus, a partir do anúncio de seu nascimento, pelo anjo.
João Batista tem grande influência no início do ministério de Jesus. Ele era filho de sacerdote, porém rompe com a tradição sacerdotal e com o Templo de Jerusalém. Indo para a periferia às margens do Jordão ele se afasta do Templo, e pregando a conversão de vida à prática da justiça, com o que o pecado é extinto, ele rompe com os rituais de sacrifícios e ofertas pelo pecado a serem feitas com os sacerdotes. Com sua pregação João prepara os caminhos de Jesus, o que é visto como cumprimento da profecia de Isaías (Mc 1,2-3, cf. primeira leitura).
Isaías profetizava o retorno dos exilados da Babilônia para Jerusalém. Agora é Jesus que vem resgatar os excluídos e oprimidos fazendo-se o caminho para o Pai. O ritual externo do batismo de João, com o mergulho e o renascimento pelas águas, é símbolo do compromisso fundamental de conversão à prática da justiça. E a prática da justiça acarreta a libertação dos pecados, com a instauração de um mundo digno e justo, os novos céus e a nova terra (cf. segunda leitura), nos quais habitará a justiça verdadeira, aquela que atenda a todos os direitos humanos.
O batismo de João é assumido por Jesus que lhe dá o caráter de participação na vida divina através do dom do Espírito Santo. O tempo do Advento é o tempo da vigilância, do estar atento, com a fé que nos permite reconhecer o Filho de Deus encarnado que permanece conosco.
Oração Senhor Jesus, a exemplo de João Batista, faze-me teu mensageiro, que prepare tua chegada no coração de quem precisa de ti.
3. O MEU MENSAGEIRO
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
A vinda de Jesus foi devidamente preparada pela pregação e pelo testemunho de João Batista. O batismo de conversão para o perdão dos pecados, anunciado pelo Precursor, predispunha o coração das pessoas para a proposta do Reino que Jesus iria anunciar. A figura os costumes austeros do Batista constituíam um questionamento contínuo para quem buscava algo melhor e se dispunha a acolher o Messias que estava para vir.
O Precursor tinha consciência de ser um simples mensageiro de quem era mais forte do que ele e cuja grandeza tornava-o indigno até mesmo de desatar-lhe as sandálias. Tinha consciência da provisoriedade de sua missão. O batismo com água, que ele ministrava, seria substituído pelo batismo com o Espírito Santo, que seria conferido pelo Messias vindouro. Sua pessoa, pois, estava fadada a cair no esquecimento.
Contudo, o Batista não se sentia diminuído no exercício da missão que lhe fora confiada. Preparar os caminhos do Senhor era sua tarefa. Aplicava-se a ele, perfeitamente, o texto em que o profeta se referira ao mensageiro enviado por Deus para preparar o caminho do povo, de volta do exílio babilônico. Tratava-se, agora, de preparar o povo para entrar no Reino que seria instaurado por Jesus. O desempenho do Batista foi exemplar. Jesus podia caminhar seguro, nos caminhos preparados por ele.