São João Evangelista
Segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
O nome deste evangelista significa: "Deus é misericordioso": uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. Filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago Maior, ele também era pescador, como Pedro e André; nasceu em Betsaida e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos.
Jesus teve tal predileção por João que este assinalava-se como "o discípulo que Jesus amava". O apóstolo São João foi quem, na Santa Ceia, reclinou a cabeça sobre o peito do Mestre e, foi também a João, que se encontrava ao pé da Cruz ao lado da Virgem Santíssima, que Jesus disse: "Filho, eis aí a tua mãe" e, olhando para Maria disse: "Mulher, eis aí o teu filho". (Jo 19,26s).
Quando Jesus se transfigurou, foi João, juntamente com Pedro e Tiago, que estava lá. João é sempre o homem da elevação espiritual, mas não era fantasioso e delicado, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa "filho do trovão".
João esteve desterrado em Patmos, por ter dado testemunho de Jesus. Deve ter isto acontecido durante a perseguição de Domiciano (81-96 dC). O sucessor deste, o benigno e já quase ancião Nerva (96-98), concedeu anistia geral; em virtude dela pôde João voltar a Éfeso (centro de sua atividade apostólica durante muito tempo, conhecida atualmente como Turquia). Lá o coloca a tradição cristã da primeiríssima hora, cujo valor histórico é irrecusável.
O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos. Em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia já apóstolos que sobrevivessem. E é de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, e O tinha visto com os próprios olhos, e Lhe tinha tocado com as próprias mãos, e O tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua Ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso de das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.
Dele dependem (na sua doutrina, na sua espiritualidade e na suave unção cristocêntrica dos escritos) os Santos Padres daquela primeira geração pós-apostólica que com ele trataram pessoalmente ou se formaram na fé cristã com os que tinham vivido com ele, como S. Pápias de Hierápole, S. Policarpo de Esmirna, Santo Inácio de Antioquia e Santo Ireneu de Lião. E são estas precisamente as fontes donde vêm as melhores informações que a Tradição nos transmitiu acerca desta última etapa da vida do apóstolo.
São João, já como um ancião, depara-se com uma terrível situação para a Igreja, Esposa de Cristo: perseguições individuais por parte de Nero e perseguições para toda a Igreja por parte de seu sucessor, o Imperador Domiciano.
Além destas perseguições, ainda havia o cúmulo de heresias que desentranhava o movimento religioso gnóstico, nascido e propagado fora e dentro da Igreja, procurando corroer a essência mesma do Cristianismo.
Nesta situação, Deus concede ao único sobrevivente dos que conviveram com o Mestre, a missão de ser o pilar básico da sua Igreja naquela hora terrível. E assim o foi. Para aquela hora, e para as gerações futuras também. Com a sua pregação e os seus escritos ficava assegurado o porvir glorioso da Igreja, entrevisto por ele nas suas visões de Patmos e cantado em seguida no Apocalipse.
Completada a sua obra, o santo evangelista morreu quase centenário, sem que nós saibamos a data exata. Foi no fim do primeiro século ou, quando muito, nos princípios do segundo, em tempo de Trajano (98-117 dC).
Três são as obras saídas da sua pena incluídas no cânone do Novo Testamento: o quarto Evangelho, o Apocalipse e as três cartas que têm o seu nome.
São João Evangelista, rogai por nós!
[Canção Nova]
Santos: João Evangelista (Apóstolo), Alano de Quimper (bispo), Fabíola de Roma (viúva, fundou o primeiro Hospital do Ocidente), João Stone (presbítero, mártir), Máximo de Alexandria (bispo), Nicarete de Constantinopla (virgem), Teodoro Graptos (presbítero, mártir), Teófanes Graptos (bispo de Nicéia), Adelaide de Tennenbach (virgem, bem-aventurada), Boaventura Tolomei (dominicano, bem-aventurado), Esso de Beinwil (abade, bem-aventurado), Walter de Wessobrünn (abade, bem-aventurado).
Antífona: Foi João que na ceia repousou sobre o peito do Senhor: feliz o apóstolo a quem foram revelados os segredos do reino, e que espalhou por toda a terra as palavras da vida.
Oração: Ó Deus, que pelo apóstolo São João nos revelastes os mistérios do vosso Filho, tornai-nos capazes de conhecer e amar o que ele nos ensinou de modo incomparável. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo
Leituras
Leitura: I Carta de São João (1Jo 1, 1-4)
Testemunha ocular do verbo
Caríssimos, o que era desde o princípio, o que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram da palavra da vida - de fato, a vida manifestou-se e nós a vimos, e somos testemunhas, e a vós anunciamos a vida eterna, que estava junto do Pai e que se tornou visível para nós -; isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Nós vos escrevemos estas coisas para que a nossa alegria fique completa.
Palavra do Senhor!
Comentário da I Leitura
O que vimos e ouvimos nós vos anunciamos
O Evangelho apresenta como sujeito a Palavra (cf. Ap 19,13) e lhe atribui vida. A carta faz da Vida um sujeito (três vezes). É a vida que estava junto ao Pai e se manifestou e é anunciada. Com grande ênfase nos diz que a manifestação ou revelação foi visível, audível e palpável, por isso quem escreve o faz como testemunha ocular com três sentidos (cf. a visão e o paladar do Sl 34, 6,9). Compare-se com a revelação esquiva a Moisés e Elias, “não podes ver o meu rosto, porque ninguém pode vê-lo e continuar vivendo” (Ex 33, 20); “o Senhor não estava no vento... não estava no fogo...” (1Rs 19, 11s). Dois aoristos gregos registram o fato passado, dois perfeitos registram seu resultado permanente (ouvimos e vimos). O apalpar, como alusão provável a Tomé (Jo 20, 27), sugere a ressurreição, não explícita na carta. (BÍBLIA DO PEREGRINO, ©Paulus, 2000)
Salmo: 96(97), 1-2.5-6.11-12 (R/.12a)
Ó justos, alegrai-vos no Senhor!
Deus é Rei. Exulte a terra de alegria, e as ilhas numerosas rejubilem! Treva e nuvem o rodeiam no seu trono, que se apoia na justiça e no direito.
As montanhas se derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra; 6e assim proclama o céu sua justiça, todos os povos podem ver a sua glória.
Uma luz já se levanta para os justos, e a alegria, para os retos corações. Homens justos, alegrai-vos no Senhor, celebrai e bendizei seu santo nome!
Evangelho: João (Jo 20, 2-8)
João no santo sepulcro
No primeiro dia da semana, Maria Madalena saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: "Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram". Sairam, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou.
Palavra da Salvação!
(Leitura paralela: Mt 28, 1-10; Mc 16, 1-8; Lc 24, 1-12)
Comentário o Evangelho
O sepulcro vazio é sinal e não prova
Quando se observa as reações dos participantes, a teologia de João torna-se evidente. Com eles chegam à crença no Senhor ressuscitado? Na cena de abertura, Maria, personagem secundária, vê a pedra removida do túmulo. Sua reação natural: “Tiraram o Senhor do túmulo”. Ela ainda não crê. (Comentário Bíblico)
Porque é que o Evangelista atribui tanta importância à diferente posição dos panos? É que as ligaduras e o lençol estavam espalmados no chão da pedra do tumulo, ao passo que o lenço que o Senhor tivera em vota da cabeça não estava espalmado no chão, mas mantinha a forma da cabeça que envolvera. Ou seja, Jesus saíra, ressuscitado; ninguém o tinha desembrulhado. (Bíblia dos Capuchinhos)
Pedro é o chefe indiscutido em todo momento, mas o outro discípulo é o predileto. Esteve à direita de Jesus na ceia, ao pé da cruz na morte. Impulsionado pelo amor corre mais depressa e é o primeiro a crer. O “discípulo amado” “viu e creu” porque entendeu que a partir da ressurreição, Jesus vai ser encontrado no coração dos crentes. (Bíblia do Peregrino)
O sepulcro, os lençóis e o sudário são sinais de morte que Jesus deixou para trás. O Sepulcro vazio é sinal, não prova, pois pode significar outras coisas: remoção, trasladação; os lençóis separados são sinais mais fortes. O sepulcro vazio proclama que Jesus vivo não deve ser procurado entre os mortos (Novo Testamento, Ave-maria). (Texto compilado por Everaldo Souto Salvador, ofs, [email protected])