São Lourenço
Quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Nós festejamos, neste dia, a vida de santidade e martírio do Diácono que nem chicotes, algozes, chamas, tormentos e correntes puderam contra sua fé e amor ao Cristo. Lourenço, espanhol, natural de Huesca, foi um Diácono de bom humor que servia a Deus na Igreja de Roma durante meados do Século III.
Conta-nos a história que São Lourenço como primeiro dos Diáconos tinha grande amizade com o Papa Sisto II, tanto assim que ao vê-lo indo para o martírio falou: "Ó pai, aonde vais sem o teu filho? Tu que jamais ofereceste o sacrifício sem a assistência do teu Diácono, vais agora sozinho, para o martírio?". E o Papa respondeu: "Mais uns dias e te aguarda uma coroa mais bonita!". São Lourenço era também responsável pela administração dos bens da Igreja que sustentava muitos necessitados.
Diante da perseguição do Imperador Valeriano, o prefeito local exigiu de Lourenço os tesouros da Igreja, para isto o Santo Diácono pediu um prazo, o qual foi o suficiente para reunir no átrio os órfãos, os cegos, os coxos, as viúvas, os idosos... Todos os que a Igreja socorria, e no fim do prazo - com bom humor - disse: "Eis aqui os nossos tesouros, que nunca diminuem, e podem ser encontrados em toda parte".
Sentindo-se iludido, o prefeito sujeitou o santo a diversos tormentos, até colocá-lo sobre um braseiro ardente; São Lourenço que sofreu o martírio em 258, não parava de interceder por todos, e mesmo assim encontrou - no Espírito Santo - força para dizer no auge do sofrimento na grelha: "Vira-me que já estou bem assado deste lado".
Roma cristã venera o santo espanhol com a mesma veneração e respeito com que honra seus primeiros Apóstolos. Depois de São Pedro e São Paulo, a festa de São Lourenço foi a maior da antiga liturgia romana. O que foi Santo Estevão em Jerusalém, isso mesmo o foi São Lourenço em Roma.
São Lourenço, rogai por nós!
Leituras
Primeira Leitura (2 Coríntios 9,6-10)
Irmãos, convém lembrar: "aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará. Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria". Poderoso é Deus para cumular-vos com toda a espécie de benefícios, para que tendo sempre e em todas as coisas o necessário, vos sobre ainda muito para toda espécie de boas obras. Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre. Aquele que dá a semente ao semeador e o pão para comer, vos dará rica sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça.
Salmo 111/112
Feliz o homem caridoso e prestativo.
Feliz o homem que respeita o Senhor
e que ama com carinho a sua lei!
Sua descendência será forte sobre a terra,
abençoada a geração dos homens retos!
Feliz o homem caridoso e prestativo,
que resolve seus negócios com justiça.
Porque jamais vacilará o homem reto,
sua lembrança permanece eternamente!
Ele não teme receber notícias más:
confiando em Deus, seu coração está seguro.
Seu coração está tranqüilo e nada teme,
e confusos há de ver seus inimigos.
Ele reparte com os pobres os seus bens,
permanece para sempre o bem que fez,
e crescerão a sua glória e seu poder.
Evangelho (João 12,24-26)
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A Diakonia do Serviço
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Sou um tanto suspeito para elaborar essa reflexão, pois hoje é dia de São Lourenço, Patrono de todos os Diáconos, portanto, vou falar do Ministério que Deus me confiou, apesar da minha pequenez e insignificância. Em uma paróquia, ser Diácono acaba dando um certo “Status”, afinal, depois do Padre, o Diácono é o “Cara”, pode intrometer-se em tudo e ninguém pode lhe dar ordens a não ser o Padre. Eis aí o primeiro perigo no campo da Diakonia.
Na Igreja Matriz, presidir Batizados e Casamentos é algo que atrai muitos candidatos ao Diaconato, estar paramentado com a Dalmática, ao lado do sacerdote ou do Bispo, em uma grande celebração, deixa o Diácono todo vaidoso e cheio de si. Por conta disso, o Diácono é tentado a impor a sua autoridade, que de fato ele tem como cita um cânone, mas é uma autoridade discreta. Que gostoso e delicioso dizer de boca cheia “Não sou leigo, sou membro do clero”. Quem se deixa levar por esses pensamentos torpes e medíocres, e em seu ministério tomar certas atitudes para exaltar a sua autoridade e poder, não honra o Sacramento da Ordem que recebeu.
Diácono é um Servidor, Diakonia é Serviço, quem serve é menos importante do que aquele que é servido. Certo pregador ousado e corajoso, disse certa ocasião no Retiro dos Diáconos “É preciso desencostar o umbigo do altar para ir servir os Pioentos das favelas”.
Deixo nessa reflexão a sincera homenagem a todos os Diáconos Permanentes, que revestidos desse Espírito de Serviço, com grande humildade imitam o Cristo Servidor, como Jesus ensina nesse evangelho. Quem serve com humildade, dizendo sempre Não ao status do ministério, compreendeu as palavras do Senhor “Quem odeia a sua vida neste mundo, irá conservá-la para a Vida Eterna”.
Odiar a vida significa exatamente romper com qualquer princípio humano, que faça do Diaconato um Poder a mais, dentro da Instituição.
Tem muito leigo dedicando-se com amor e alegria ao verdadeiro diaconato, o Dia de Hoje é também voltado para esses. Quanto a nós Diáconos Ordenados, só nos resta concluir com essa oração “Que Jesus, Manso e humilde de coração, o Diácono do Pai, faça o coração de todos nós, semelhantes ao Dele, e que todos nós Diáconos tenhamos como objetivo em nosso trabalho, guardar e proteger o tesouro descoberto por São Lourenço, que é a pessoa do pobre.
Servir os pobres e os pequenos em tudo o que for possível, é conservar esse Tesouro.
São Lourenço rogai por todos nós!
2. O amor de Jesus nos liberta
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Esta imagem do grão que cai na terra e tem que morrer para dar frutos é usada, também, por Paulo em sua primeira carta aos Coríntios (15,36s).
Antigamente julgava-se haver uma descontinuidade entre o grão e os frutos. Assim esta imagem do grão se adaptava à tradição da ressurreição baseada na leitura do livro de Daniel, no capítulo 10, com a visão dos ossos dos mortos que são revivificados.
Na realidade sabemos que o grão já tem em si a vida e não morre, mas se transforma. Há assim uma continuidade entre o grão, a árvore e os frutos por ela produzidos.
Assim também, o Jesus humano já tem em si a vida divina e eterna, a qual permanece e se manifesta após sua morte na cruz.
A imagem da semente que morre e dá fruto suscita interrogações sobre o modo como vivemos neste mundo. Queremos ter segurança em nossa vida correndo atrás dos projetos de enriquecimento e sucesso, colocando-nos a serviço dos poderosos deste mundo? Ou queremos abandonar os sucessos deste mundo e entregar nossa vida nas mãos de Deus, em comunhão com seu amor e confiantes em sua providência, fieis ao cumprimento de sua vontade aqui na terra?
Seguir a Jesus é servir, como ele nos serviu. O amor de Jesus nos liberta, transformando nossas vidas e nos movendo ao serviço aos mais carentes e necessitados, em comunhão de amor e vida com Jesus e o Pai.
3. SEMENTE QUE DÁ FRUTOS
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
Após sua entrada em Jerusalém, com a acolhida entusiástica da multidão de peregrinos que também vinham à cidade, Jesus anuncia que é chegada a hora de sua glorificação pelo seu cumprimento fiel da vontade do Pai, até o fim, sem temor das ameaças de morte que sobre ele pairavam.
Os Evangelhos sinóticos narram a parábola da semente que cai na terra, germina e dá frutos. João usa a mesma imagem. O grão que não morre fica só. É o individualismo e o terror da solidão. O grão, para multiplicar-se em novos frutos, tem que cair na terra e morrer. É a comunicação, a fraternidade e o serviço à vida.
A morte não é o último ato isolado da existência, mas é o termo de uma vida devotada ao amor. Apegar-se à vida é querer afirmá-la em conformidade com os critérios da ideologia de sucesso deste mundo sob controle dos poderosos, agentes da morte lenta ou violenta. Guardar a vida na vida eterna supõe o desprezo desta ideologia de sucesso e poder, que impõe a submissão pelo temor.
Quem não teme a própria morte está livre para colocar-se totalmente a serviço da vida. O seguimento de Jesus se faz com o dom total de si mesmo, a favor da vida. Assim se estará onde Jesus estiver, junto ao Pai, na união do eterno Amor.