São Martinho de Dume
Quarta-feira, 05 de dezembro de 2012
Oriundo da Panônia, atual Hungria, dirigiu-se ainda jovem para ao Oriente, onde professou vida regular: estudou o grego e outras ciências eclesiásticas em que muito cedo se distinguiu, até ser classificado, pelo eminente Doutor Santo Isidoro, como ilustre na fé e na ciência. Também Gregório de Tours o considerou entre os homens insuperáveis do seu tempo. Regressando do Oriente, dirigiu-se depois a Roma e França, onde travou conhecimento com as personagens por então mais insignes em saber e santidade. Sobretudo, quis visitar o túmulo do seu homônimo e compatriota, S. Martinho de Tours, que desde então ficará considerando como seu patrono e modelo. Foi também por essa altura que Martinho se encontrou com o rei dos Suevos, Charrarico, ao qual acompanhou para o noroeste da Península Ibérica, em 550, onde, com restos do gentilismo e bastante ignorância religiosa, se espalhara o Arianismo.
Para acorrer a tantos males, não tardou Martinho em planejar e colocar em andamento seu vigoroso apostolado. Num mosteiro, edificado pelo mesmo rei, em Dume, ao lado de Braga, assenta o grande apóstolo dos suevos suas instalações como escola de monaquismo e base de irradiação catequética e missionária. A igreja do mosteiro é dedicada a S. Martinho de Tours, e foi sagrada em 558. O seu abade foi elevado ao episcopado pelo Bispo de Braga já em 556, em atenção ao seu exímio saber e extraordinário zelo e santidade. Com a subida ao trono do rei Teodomiro (em 559), consumava-se o regresso dos Suevos ao Catolicismo, deixando o Arianismo. Ilustre por tão preclaras prerrogativas, passa Martinho para a Sé de Braga, em 569, quando o Catolicismo nesta região gozava já de alto esplendor, o que tornou possível o 1° Concílio de Braga, em 561, no pontificado de João III. Em 572, foi Martinho a alma do 2° Concílio de Braga. Nesta altura escreveu ele: "Com a ajuda da graça de Deus, nenhuma dúvida há sobre a unidade e retidão da fé nesta província".
S. Martinho de Dume não esqueceu da importância e eficácia do apostolado da pena. Deixou assim várias obras sobre as virtudes monásticas, bem como matérias teológicas e canônicas, pelas quais foi depois reputado e celebrado como Doutor. Faleceu a 20 de março de 579 e foi sepultado na catedral de Dume; mas desde 1606 estão depositadas as suas relíquias na Sé de Braga. Compusera para si, em latim, o seguinte epitáfio sepulcral, em que mostra a veneração que dedicava ao santo Bispo de Tours: "Nascido na Panônia, atravessando vastos mares, impelido por sinais divinos para o seio da Galiza, sagrado Bispo nesta tua igreja, ó Martinho confessor, nela instituí o culto e a celebração da Missa. Tendo-te seguido, ó Patrono, eu, o teu servo Martinho, igual em nome que não em mérito, repouso agora aqui na paz de Cristo".
São Martinho de Dume, rogai por nós!
I SEMANA DO ADVENTO
Leitura (Isaías 25,6-10)
Leitura do livro do profeta Isaías
25 6 O Senhor dos exércitos preparou para todos os povos, nesse monte, um banquete de carnes gordas, um festim de vinhos velhos, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos purificados.
7 Nesse monte tirará o véu que vela todos os povos, a cortina que recobre todas as nações,
8 e fará desaparecer a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e tirará de toda a terra o opróbrio que pesa sobre o seu povo, porque o Senhor o disse.
9 Naquele dia dirão: "Eis nosso Deus do qual esperamos nossa libertação. Congratulemo-nos, rejubilemo-nos por seu socorro",
10 porque a mão do Senhor repousa neste monte, enquanto que Moab é pisada no seu lugar como pisada é a palha no monturo.
Salmo 22/23
Na casa do Senhor habitarei pelos tempos infinitos.
O Senhor é o pastor que me conduz;
Não me falta coisa alguma.
Pelos prados e campinas verdejantes
Ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha
E restaura as minhas forças.
Ele me guia no caminho mais seguro
Pela honra do seu nome.
Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,
Nenhum mal eu temerei.
Estais comigo com bastão e com cajado,
Eles me dão a segurança!
Preparais à minha frente uma mesa,
Bem à vista do inimigo
Com óleo vós ungis minha cabeça,
e o meu cálice transborda.
Felicidade e todo bem hão de seguir-me
Por toda a minha vida;
E, na casa do Senhor,
Habitarei pelos tempos infinitos.
Evangelho (Mateus 15,29-37)
15 29 Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galiléia. Subiu a uma colina e sentou-se ali.
30 Então numerosa multidão aproximou-se dele, trazendo consigo mudos, cegos, coxos, aleijados e muitos outros enfermos. Puseram-nos aos seus pés e ele os curou,
31 de sorte que o povo estava admirado ante o espetáculo dos mudos que falavam, daqueles aleijados curados, de coxos que andavam, dos cegos que viam; e glorificavam ao Deus de Israel.
32 Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: "Tenho piedade esta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho".
33 Disseram-lhe os discípulos: "De que maneira procuraremos neste lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão?'
34 Pergunta-lhes Jesus: "Quantos pães tendes?" "Sete, e alguns peixinhos", responderam eles.
35 Mandou, então, a multidão assentar-se no chão,
36 tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão.
37 Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que restaram, encheram sete cestos.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Quando o “pouco” vira um banquete
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Para a gente pobre de Israel, que tomavam apenas uma refeição principal ao dia, falar de um banquete era estimular o seu imaginário, é como aquele Pai de família que tem um salário bem modesto, filhos pequenos e que faz malabarismos para passar o mês. Quando tem diante de si alguma festa onde há fartura de alimentos, ele e toda a família se alegra.
Na concepção judaica, Salvação era prosperidade de bens materiais e alimentação farta para todos. Alguns profetas, entre eles Isaias, primeira leitura de hoje, vivem aguçando o imaginário do povo, com a ideias de um Deus que dará um grande banquete no alto de um montanha, onde todos serão convidados.Mas não é só isso, Deus vai acabar com a morte e a tristeza daquele povo, acabando também com a sua desonra. No exílio tornaram-se um povo desamparado, causa de vergonha e humilhação que passavam. “Confiou no seu Deus, que ele venha salvá-lo” , essas palavras sobre o povo, foram também ditas aos pés da cruz, referindo-se a Jesus Crucificado.
Mateus neste evangelho mostra exatamente que em Jesus o tempo Novo chegou o tempo de um Deus que se compadece e cura todos os males, de um Deus que sacia a fome do seu povo.
É no alto de uma montanha que Jesus assenta-se e em seguida cura as multidões que o procuram, formada por coxos, aleijados, cegos, mudos e outros doentes. Em seguida Jesus manifesta compaixão pela fome do seu povo e de sete pães e alguns peixinhos, faz um verdadeiro banquete. É o sonho do profeta Isaias se realizando.
Na prática a liturgia nos mostra que a Salvação não é algo que só vai chegar no pós morte, pois nosso Deus presente em Jesus está agindo continuamente no meio do seu povo. A Vida Nova vem do Amor e o Amor de Deus nunca é pouca coisa, mas fartura, exagero, sacia a todos e ainda sobras 12 cestos. Por isso ninguém se iluda achando que Vida Nova que traz alegria sem fim, provém do “muito” que o materialismo pode nos oferecer.
No Dom da Fé, do nosso “pouco” Deus faz muito, como neste evangelho.
2. Jesus entre os gentios
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Jesus, desde o início de seu ministério, dirige-se a judeus e a gentios, fazendo discípulos entre eles. Neste texto de Mateus temos, de início, um resumo das atividades de Jesus entre os gentios. Jesus mantém-se em contato com as multidões, o que seria uma impureza do ponto de vista do judaísmo. As diversas curas de Jesus são sinais de sua ação libertadora da opressão e da exclusão. Já ocorrera uma partilha dos pães na área de influência do judaísmo, onde Jesus "abençoa" (uso hebraico) os pães (Mt 14,19).
Agora a partilha dos pães se dá no próprio território gentílico, e Jesus "dá graças" (uso grego) ao partir o pão. Comendo com os gentios, Jesus revela que o banquete do Reino é para todos.
3. OS POBRES BUSCAM O SENHOR
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
Foram os pobres os primeiros a contar com Jesus. Reconheceram seu poder de restaurar a vida e de curar toda sorte de doença e enfermidade. Coxos, aleijados, cegos, mudos e tantos outros aproximavam-se de Jesus, na esperança de serem curados, porque tinham a certeza de que um poder divino atuava por intermédio dele. E, por isso, davam glória ao Deus de Israel.
A pobreza e a marginalização levavam-nos a esperar a intervenção de Deus na História, por meio do Messias anunciado pelos profetas, o qual iria restituir a fala aos mudos, curar os aleijados, fazer os coxos andarem e os cegos enxergarem. Tudo isto eles viam acontecer na ação de Jesus, a quem reconheciam como o Messias.
Não se notava nos ricos a mesma sensibilidade dos pobres. Aqueles não precisavam de Jesus, nem de Deus, pois se bastavam a si mesmos. Depositavam sua confiança nos bens que possuíam. Não tinham tempo para perceber a ação amorosa de Deus, em benefício da humanidade. Sendo assim, a pessoa de Jesus e sua ação taumatúrgica nada representavam para eles. Quiçá o tomassem por um milagreiro qualquer. Enquanto os pobres buscavam, encontravam e reconheciam o Senhor, os ricos, em sua insensatez, ficavam à margem da ação de Deus na história humana.