São Narciso

Sábado, 29 de outubro de 2011


O santo de hoje, São Narciso, foi Bispo de Jerusalém e, quando se deu tal fato, devia ter quase cem anos de idade. Narciso não era judeu e teria nascido no ano 96. Homem austero, penitente, humilde, simples e puro, sabe-se que presidiu com Teófilo de Cesareia a um concílio onde foi aprovada a determinação de se celebrar sempre a Páscoa num Domingo.

Eusébio narra que em certo dia de festa, em que faltou o óleo necessário para as unções litúrgicas, Narciso mandou vir água de um poço vizinho, e com sua bênção a transformou em óleo. Conta também as circunstâncias que levaram Narciso a demitir-se das suas funções.

Para se justificarem de um crime, três homens acusaram o Bispo Narciso de certo ato infame. "Que me queimem vivo - disse o primeiro - se eu minto". "E a mim, que me devore a lepra", disse o segundo. "E que eu fique cego", acrescentou o terceiro. O desgosto de ser assim caluniado despertou em Narciso o seu antigo desejo pelo recolhimento e, por isso, sem dizer para onde ia, perdoou os caluniadores e saiu de Jerusalém em direção ao deserto. Considerando-o definitivamente desaparecido, deram-lhe por sucessor a Dio, ao qual por sua vez sucederam Germânio e Górdio. Todavia, os três caluniadores não tardaram a sofrer os castigos que em má hora tinham invocado, pois o primeiro pereceu num incêndio com todos os seus, o segundo morreu de lepra e o terceiro cegou à força de tanto chorar o seu pecado.

Alguns anos depois, Narciso reapareceu na cidade episcopal. Nunca tinha sido posta em dúvida a santidade do seu procedimento.; por isso, foi com imensa alegria que Jerusalém recebeu seu antigo pastor. Segundo diz Eusébio, continuou Narciso a governar a diocese até a idade de 119 anos, auxiliado por um coadjutor chamado Alexandre. Faleceu cerca do ano de 212.

São Narciso, rogai por nós!


Hoje: Dia Nacional do Livro


Leituras

Primeira Leitura (Romanos 11,1-2.11-12.25-29)
Leitura da carta de são Paulo aos Romanos.

Pergunto, então: Acaso rejeitou Deus o seu povo? De maneira alguma. Pois eu mesmo sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não repeliu o seu povo, que ele de antemão distinguiu! Desconheceis o que narra a Escritura, no episódio de Elias, quando este se queixava de Israel a Deus: Pergunto ainda: Tropeçaram acaso para cair? De modo algum. Mas sua queda, tornando a salvação acessível aos pagãos, incitou-os à emulação. Ora, se o seu pecado ocasionou a riqueza do mundo, e a sua decadência a riqueza dos pagãos, que não fará a sua conversão em massa?!

Não quero, irmãos, que ignoreis este mistério, para que não vos gabeis de vossa sabedoria: esta cegueira de uma parte de Israel só durará até que haja entrado a totalidade dos pagãos.

Então Israel em peso será salvo, como está escrito: Virá de Sião o libertador, apartará de Jacó a impiedade. E esta será a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados (Is 59,20s; Is 27,9).

Se, quanto ao Evangelho, eles são inimigos de Deus, para proveito vosso, quanto à eleição eles são muito queridos por causa de seus pais. Pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis.


Salmo responsorial 93/94

O Senhor não rejeita o seu povo!

É feliz, ó Senhor, quem formais
e educais nos caminhos da lei
para dar-lhe um alívio na angústia.

O Senhor não rejeita o seu povo
e não pode esquecer sua herança:
voltarão a juízo as sentenças;
quem é reto andará na justiça.

Se o Senhor não me desse uma ajuda,
no silencia da morte estaria!
Quando eu penso: "Estou quase caindo!"
vosso amor me sustenta, Senhor!


Evangelho (Lucas 14,1.7-11)

Jesus entrou num sábado em casa de um fariseu notável, para uma refeição; eles o observavam.

Observando também como os convivas escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes a seguinte parábola: "Quando fores convidado às bodas, não te sentes no primeiro lugar, pois pode ser que seja convidada outra pessoa de mais consideração do que tu, e vindo o que te convidou, te diga: ´Cede o lugar a este´. Terias então a confusão de dever ocupar o último lugar.

Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, passa mais para cima. Então serás honrado na presença de todos os convivas. Porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado".


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. "A acirrada disputa dos primeiros lugares"

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

Quantas disputas acirradas e concorrências na vida da comunidade! Disputas de cargos, de funções litúrgicas nas celebrações, de posições importantes nas reuniões de conselhos, onde o confronto das idéias acaba virando uma verdadeira guerra entre as pessoas e os grupos. Desculpe-me, não estou falando da sua comunidade, mas de uma lá de um lugar bem longe daqui...

A comunidade apenas reflete a sociedade onde a disputa e a concorrência é cruel, no mundo do trabalho, no mundo da política, nos partidos que acabam virando um verdadeiro balaio de gato, na vida profissional, o homem busca o poder a qualquer preço, e alguns até vendem a alma ao diabo...

As pessoas não procuram valer pelo que são, mas pelo que têm, pelo status, posição de destaque e importância, diante dos outros. E esse clima tão hostil e totalmente contrário ao Reino de Deus, acaba infestando as pastorais, os movimentos, associações religiosas e as nossas comunidades. Já, presenciei verdadeiras "guerras" dentro da igreja, nos bastidores de alguns movimentos e pastorais, e o espaço celebrativo é o lugar mais disputado, olhares de desprezo e indiferença, chispas de ódio, trocadas ali, diante do altar onde o Senhor se imola e se oferece em oblação, laicato e clero, infelizmente todos nós temos esse pecado.

Nos banquetes nas casas dos notáveis, havia também, esse desfile de vaidades, todos queriam os primeiros lugares, bem perto do anfitrião ilustre, lá está Jesus, que até se diverte ao ver os que se acotovelam para chegarem á frente. Ele desmonta esse quadro totalmente contrário ao Reino de Deus e aos valores do evangelho e coloca a humildade como virtude primordial ao discípulo. Uma humildade que não consiste em não ter nenhum carisma, em ser um pobre coitado que nada tem a oferecer, em andar de cabeça baixa, pedindo desculpa por existir... Não, isso não é humildade...

O humilde é aquele ornado de um carisma especial que o faz brilhar diante dos homens, carisma usado para servir e alimentar os irmãos e irmãs, carisma que o humilde não nega que tem, mas que no fundo sabe que não é dele, e que o Senhor lhe concedeu para servir, somente para servir, e nunca para ser servido. Carisma que não o torna a pessoa mais importante da comunidade, mas que o torna sim, o servidor de todos, exatamente como o Senhor Jesus, que sendo mestre se fez escravo, para servir...

2. A parábola exprime a prática do Reino

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Dentre os quatro evangelistas, Lucas é o único que, por três vezes (Lc 7,36; 11,37; 14,1) menciona refeições de Jesus em casa de fariseus. Esta refeição é ocasião de ensinamentos de Jesus.

Na parábola dirigida aos demais convidados, aquele que ocupou o primeiro lugar teve que cedê-lo a um amigo mais importante do dono da casa e aquele que ocupou o último lugar foi convidado para um lugar melhor. Em conclusão a sentença chave: quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado.

É um tema precioso para Lucas, já presente no Cântico de Nossa Senhora (Lc 1,51-52). O não precipitar-se em ocupar os primeiros lugares em momentos solenes era regra comum de boas maneiras nas várias culturas contemporâneas do primeiro século.

A parábola exprime a prática do Reino: a renúncia ao sucesso na injusta sociedade competitiva pelo status e poder, e a adesão à nova sociedade do Reino, fundada na humildade, na fraternidade e no serviço.

3. NADA DE VAIDADE!

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

O Evangelho de Lucas muitas vezes apresenta Jesus fazendo refeições, momento em que encontra motivos para ensinar a seus discípulos. Em geral, qualquer ação incorreta do anfitrião ou dos comensais serve-lhe de pretexto.

Até mesmo de uma questão de etiqueta e boas maneiras (que lugar se deve ocupar numa mesa de banquete?) ele tirou conclusões práticas para a vida do discípulo do Reino: a vaidade se vence pela prática da humildade.

A sociedade está repleta de pessoas inescrupulosas, obstinadas em impôr-se às demais, a qualquer custo, pessoas contaminadas pela vaidade, que se autocolocam nas alturas. Esta gente vive numa ávida competição, sem perder oportunidade de se colocar em evidência para garantir uma posição de destaque diante dos demais.

Humanamente falando, esta obsessão pode ser perigosa, e faz a pessoa passar por uma humilhação indesejada. Em termos de salvação, a vaidade faz a pessoa chocar-se com o projeto de Deus. Em outras palavras, tendo buscado a exaltação humana, experimentará a humilhação divina. O Pai não aceita nem a vaidade nem o orgulho.

Por conseguinte, eis a lição que os discípulos devem tirar de tudo isto: o Pai só exalta a quem busca o caminho da simplicidade e da humilhação.