São Pedro e São Paulo Apóstolos

Domingo, 03 de julho de 2011


Hoje a Igreja do mundo inteiro celebra a santidade de vida de São Pedro e São Paulo apóstolos. Estes santos são considerados "os cabeças dos apóstolos" por terem sido os principais líderes da Igreja Cristã Primitiva, tanto por sua fé e pregação, como pelo ardor e zelo missionários.

Pedro, que tinha como primeiro nome Simão, era natural de Betsaida, irmão do Apóstolo André. Pescador, foi chamado pelo próprio Jesus e, deixando tudo, seguiu ao Mestre, estando presente nos momentos mais importantes da vida do Senhor, que lhe deu o nome de Pedro. Em princípio, fraco na fé, chegou a negar Jesus durante o processo que culminaria em Sua morte por crucifixão. O próprio Senhor o confirmou na fé após Sua ressurreição (da qual o apóstolo foi testemunha), tornando-o intrépido pregador do Evangelho através da descida do Espírito Santo de Deus, no Dia de Pentecostes, o que o tornou líder da primeira comunidade. Pregou no Dia de Pentecostes e selou seu apostolado com o próprio sangue, pois foi martirizado em uma das perseguições aos cristãos, sendo crucificado de cabeça para baixo a seu próprio pedido, por não se julgar digno de morrer como seu Senhor, Jesus Cristo.

Escreveu duas Epístolas e, provavelmente, foi a fonte de informações para que São Marcos escrevesse seu Evangelho.

Paulo, cujo nome antes da conversão era Saulo ou Saul, era natural de Tarso. Recebeu educação esmerada "aos pés de Gamaliel", um dos grandes mestres da Lei na época. Tornou-se fariseu zeloso, a ponto de perseguir e aprisionar os cristãos, sendo responsável pela morte de muitos deles.

Converteu-se à fé cristã no caminho de Damasco, quando o próprio Senhor Ressuscitado lhe apareceu e o chamou para o apostolado. Recebeu o batismo do Espírito Santo e preparou-se para o ministério. Tornou-se um grande missionário e doutrinador, fundando muitas comunidades. De perseguidor passou a perseguido, sofreu muito pela fé e foi coroado com o martírio, sofrendo morte por decapitação.

Escreveu treze Epístolas e ficou conhecido como o "Apóstolo dos gentios".

São Pedro e São Paulo, rogai por nós!


Hoje: Dia do Papa

Celebramos hoje a Solenidade dos Apóstolos são Pedro e são Paulo, as duas colunas da fé católica. Pedro toma a dianteira da profissão de fé apostólica e recebe a cátedra da unidade da Igreja; Paulo leva a fé aos confins do mundo e estende a Igreja a todos os povos. Estas duas missões se condensam no ministério do Papa, cujo dia hoje celebramos. Por isso, rezamos de modo especial pelo Santo Padre o Papa Bento XVI, que se assenta na “cátedra” de Pedro, mas também percorre, com espírito paulino, o mundo, visitando seus irmãos e confirmando-os na fé. Que o óbolo de São Pedro seja nossa contribuição, por meio das coletas de hoje, para a missão da Igreja no mundo inteiro.


Leituras

Primeira Leitura (At 12, 1-11)

Naqueles dias, o rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isso agradava aos judeus, mandou também prender a Pedro. Eram os dias dos pães ázimos. Depois de prender Pedro, Herodes colocou-o na prisão, guardado por quatro grupos de soldados, com quatro soldados cada um. Herodes tinha a intenção de apresentá-lo ao povo, depois da festa da Páscoa. Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele. Herodes estava para apresentá-lo. Naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas correntes; e os guardas vigiavam a porta da prisão. Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela. O anjo tocou o ombro de Pedro, acor­­­dou-o e disse: “Levanta-te depressa!” As correntes caíram-lhe das mãos. O anjo continuou: “Coloca o cinto e calça tuas sandálias!” Pedro obedeceu e o anjo lhe disse: “Põe tua capa e vem comigo!” Pedro acompanhou-o, e não sabia que era realidade o que estava acontecendo por meio do anjo, pois pensava que aquilo era uma visão. Depois de passarem pela primeira e segunda guarda, chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. O portão abriu-se sozinho. Eles saíram, caminharam por uma rua e logo depois o anjo o deixou. Então Pedro caiu em si e disse: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!”

Salmos Sl 33(34) (Fx 17)

De todos os temores me livrou o Senhor Deus.

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!
Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome! Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, e de todos os temores me livrou.
Contemplai a sua face e alegrai-vos, e vosso rosto não se cubra de vergonha! Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda angústia.
O anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que o temem, e os salva. Provai e vede quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!

Segunda Leitura (2Tm 4, 6-8.17-18)

Caríssimo: Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.

Evangelho (Mt 16,13-19)

Naquele tempo, Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. Festa de São Pedro e São Paulo

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)

A Festa de São Pedro e São Paulo, celebrada nesse domingo, confirma a autenticidade da Igreja instituída por Jesus. Todos se orgulham e ficam felizes quando falamos de uma Igreja Santa, mas as fisionomias mudam quando a referência é a instituição, essa parte institucional, que representa o lado humano da Igreja, sempre duramente criticada, não só pelos que não comungam da sua doutrina, como infelizmente até por alguns de seus membros. Jesus não edificou a sua igreja sobre homens especiais, dotados de super-poderes, mas sobre Pedro, pescador da Galiléia, que representa bem os homens de todos os tempos da história da Igreja, pela sua fragilidade, pelos seus enganos, pelas decisões erradas, o apóstolo Pedro, com suas palavras e gestos, consegue arrebatar o leitor da Sagrada Escritura, nele tem-se em um determinado momento um testemunho belíssimo, e em outro, uma incoerência total , como quando Jesus anuncia-lhes a paixão e a morte, e o apóstolo quer convence-lo do contrário, sendo chamado de Satanás.

Provavelmente muita gente pensa que após pentecostes o nosso apóstolo criou juízo e transformou-se em modelo de santidade e perfeição, mas basta ver o seu relacionamento conturbado com o apóstolo São Paulo, por causa de divergências e desentendimentos, pensamentos contrários em relação à doutrina. A ação da graça de Deus e do Espírito Santo em nossa vida, não anula aquilo que é humano, assim é também com a Igreja, não existem duas igrejas, uma humana e outra divina, que competem entre si para ver quem é mais poderosa, mas uma só igreja, edificada sobre homens como Pedro, a quem o Senhor promete dar as chaves do céu, palavras que mostram a confiança que Jesus deposita no apóstolo.

Certamente não entregamos a chave da nossa casa para qualquer pessoa, mas tem de ser alguém de nossa plena confiança. O amor verdadeiro sempre confia e ajuda o outro a crescer, assim é Deus em relação ao homem, desde os primórdios da história da Salvação, na aliança com homens como Abraão, apenas ele promete e do homem apenas exige uma coisa: a fé! Como nos afirma a carta aos Hebreus, Jesus é o autor e o consumidor da nossa fé.

Os atributos humanos de Jesus sempre foram e serão exaltados pelos homens de todos os tempos, até mesmo pelos não crentes. Ele é apontado como excelência em liderança, comunicação, educação, psicologia, terapeuta, pedagogia. A sua inteligência e raciocínio, o seu modo de agir e de ensinar, demonstrando uma sabedoria insuperável, encanta e fascina aos homens de todos os tempos, ao longo da História.

João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas, eram celebridades entre o povo de Israel, ao confundir Jesus com esses personagens, o povo estava manifestando na verdade o inegável reconhecimento do seu poder e da sua sabedoria, porém, Pedro, iluminado pela fé, vê muito além de todos esses atributos humanos, para ele Jesus é o Filho de Deus! Pedro não havia chegado a essa conclusão por causa das promessas ou de alguma evidência histórica, mas sim pela sua experiência com Cristo. Da mesma forma a Vida de Paulo é toda transformada pela Força Operante da Graça de Deus, diferente de Pedro, Paulo tem cultura e formação e uma profunda convicção religiosa, que o coloca como um Zeloso Fariseu, além disso, tem poder e influência entre os Romanos sendo um cidadão do Império, com um título comprado pelo Pai, conhece a cultura grega. Enfim, já estava com a sua vida traçada, e esse projeto de Vida não incluía a “Virada” que aconteceu em sua vida a partir da experiência com Jesus.É este apóstolo, abortivo, como ele mesmo se define, o primeiro a atender o mandato missionário deixado por Jesus, “Evangelizai a todas as nações....”

Professar a fé em Jesus Cristo não é apenas ser seu admirador ou fã, mas sim aceitar o discipulado que o seu chamado nos traz, aprendendo de Jesus, todos e cada um dos seus ensinamentos, moldando-nos e configurando-nos a ele, transformando a própria vida em um evangelho vivo. A Fé reconhece em Jesus nosso Deus e Senhor e isso não é fruto do esforço humano, mas dom do próprio Deus que se revela, assim é com Pedro, assim é com o apóstolo Paulo, e assim é também com todos nós...

A Fé não é ponto de chegada, mas sim de partida, ela nos faz vislumbrar um caminho novo a ser percorrido, exatamente nas pegadas de Jesus, colocando-nos disponíveis e perseverantes, aceitando todos os riscos que a mesma nos implica. E por fim, podemos dizer que a fé também não é comodismo, tranqüilidade, solução mágica para problemas humanos, ou conquistas impossíveis.

É na fé que percebemos a ação de Deus em nossa vida como Pedro, no relato da primeira leitura, que foi liberto de maneira prodigiosa da prisão por um anjo do Senhor.

A primeira leitura traz uma rica reflexão a partir de um fato histórico, alguém libertou Pedro da prisão, e o fez sob o poder e a proteção divina, quantas vezes estamos em uma situação complicada e aparece alguém que nos ajuda. Um anjo andou á frente do povo de Deus conduzindo-o para longe da escravidão do Egito, esse anjo enviado por Deus era Moisés e Deus agiu na escuridão da noite mostrando-nos que quando por causa da nossa fragilidade, não conseguimos enxergar o que vem pela frente, o próprio Deus toma á nossa frente, conduzindo-nos à libertação.

A verdadeira fé nos leva a esse reconhecimento “agora sei que Deus enviou-me o seu anjo que me libertou dos meus inimigos”, também Paulo, no final da sua jornada reconhece que o Senhor nunca o abandonou, mas esteve ao seu lado em todos os momentos, mesmo nos mais difíceis. A fidelidade da fé nos dá sempre essa certeza, de que o Senhor caminha conosco, vem daí a afirmação de Jesus de que “as portas do inferno não prevalecerão sobre a igreja”.

2. Confissão de Pedro

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Esta narrativa da "confissão de Pedro" se completa e encontra seu sentido pleno com a narrativa seguinte sobre o primeiro "anúncio da paixão", com o diálogo conflitivo entre Jesus e Pedro. Estas narrativas são encontradas nos três evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus, e Lucas, porém com destaques próprios em cada um destes evangelistas. Marcos, que é o primeiro dos evangelhos canônicos a ser escrito, situa a passagem narrada no momento em que Jesus encerra seu ministério entre os gentios da Galiléia e das regiões vizinhas, iniciando o caminho para Jerusalém, em ambiente de exclusividade judaica, onde se dará o confronto final com os chefes de Israel.

Marcos se preocupa em mostrar que Jesus rejeita o título messiânico, indicativo de ambição e poder, afirmando-se como o simples e humilde humano, cheio do amor de Deus e comunicador deste amor que dura para sempre. Um sinal de seu despojamento é a sua vulnerabilidade à morte programada pelos chefes do Templo e das sinagogas. Lucas, por sua vez, despreocupa-se com a situação temporal e geográfica do episódio narrado, colocando-o em um momento de oração de Jesus, e conclui sua narrativa, como Marcos, registrando a rejeição sumária de Jesus ao título messiânico.

No texto de Mateus, acima, encontramos duas de suas características dominantes. Mateus acentua a dimensão messiânica de Jesus e já apresenta sinais da instituição eclesial nascente. Mateus escreve na década de 80, quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas que até então freqüentavam. Mateus pretende convencer estes discípulos de que em Jesus se realizavam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel. Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por Mateus.

Os cristãos, afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma instituição religiosa própria, na qual a figura de referência é Pedro, já martirizado em Roma. Embora no Segundo Testamento se perceba conflitos entre Pedro e Paulo (cf. Gl 2,11-14), a liturgia os reúne em uma só festa. Pedro é lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da perseguição e Paulo, por seu empenho missionário em territórios da diáspora judaica.

3. FÉ E MISSÃO

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

A missão de liderança confiada a Pedro exigiu dele uma explicitação de sua fé. Antes de assumir o papel de guia da comunidade, foi preciso deixar claro seu pensamento a respeito de Jesus, de forma a prevenir futuros desvios.

Se tivesse Jesus na conta de um messias puramente humano, correria o risco de transformar a comunidade numa espécie de grupo guerrilheiro, disposto a impor o Reino de Deus a ferro e fogo. A violência seria o caminho escolhido para fazer o Reino acontecer.

Se o considerasse um dos antigos profetas reencarnados, transformaria a Boa-Nova do Reino numa proclamação apocalíptica do fim do mundo, impondo medo e terror. De fato, pensava-se que, no final dos tempos, muitos profetas do passado haveriam de reaparecer.

Se a fé de Pedro fosse imprecisa, não sabendo bem a quem havia confiado a sua vida, correria o risco de proclamar uma mensagem insossa, e levar a comunidade a ser como um sal que perdeu seu sabor, ou uma luz posta no lugar indevido.

Só depois que Pedro professou sua fé em Jesus, como o “Messias, o Filho do Deus vivo”, foi-lhe confiada a tarefa de ser “pedra” sobre a qual seria construída a comunidade dos discípulos: a sua Igreja.

Entre muitos percalços, esse apóstolo deu provas de sua adesão a Jesus, selando o seu testemunho com a própria vida, demonstração suprema de sua fé. Portanto, sua missão foi levada até o fim.