São Sisto II e companheiros mártires
Domingo, 07 de agosto de 2011
Os anos que se seguiram de 250 até 260 foram uns dos mais terríveis e ao mesmo tempos gloriosos do Cristianismo; terríveis devido à fúria dos imperadores Décio e Valeriano, e gloriosos por conta da têmpera dos inúmeros mártires, que foram os que mais glorificaram a Deus.
O Santo Papa Sisto II, a quem celebramos neste dia, foi um destes homens que soube transformar o terrível em glória, a partir do seu testemunho de fé, amor e esperança em Cristo Jesus. Pertence à lista de cinco consecutivos Papas mártires, São Sisto II governou a Igreja durante um ano (257 - 258) e neste tempo semeou a paz e a unidade no seio da Igreja de Cristo.
Foi Sisto decapitado pela polícia durante uma cerimônia clandestina que ele celebrava num cemitério da via Ápia. Foram ao mesmo tempo executados seis dos sete diáconos que o rodeavam. Só pouparam algum tempo o diácono Lourenço, seu tesoureiro, a quem deixaram quatro dias para entregar os bens da Igreja. Assim se procedia desde que o imperador Valeriano (+260) estabelecera a pena de morte "sem julgamento, só com verificação de identidade", contra os Bispos, padres e diáconos da religião cristã.
Desta forma, São Sisto II e seus companheiros mártires entregaram suas vidas em sinal de fidelidade a Cristo e foram recompensados com o tesouro da eternidade no Céu.
São Sisto II e companheiros mártires, rogai por nós!
Leituras
Primeira Leitura (1Rs 19,9a.11-13a)
Naqueles dias, ao chegar a Horeb, o monte de Deus, o profeta Elias entrou numa gruta, onde passou a noite. E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos: “Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar”. Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos. Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta.
Salmo 84(85) (HL3, p. 142 - Fx 26)
Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade * e a vossa salvação nos concedei!
Quero ouvir o que o Senhor irá falar: * é a paz que ele vai anunciar.Está perto a salvação dos que o temem * e a glória habitará em nossa terra.
A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão. Da terra brotará a fidelidade e a justiça olhará dos altos céus.
O Senhor nos dará tudo que é bom e nossa terra nos dará suas colheitas. A justiça andará na sua frente e a salvação há de seguir os passos seus.
Segunda Leitura (Rm 9,1-5)
Não estou mentindo, mas, em Cristo, digo a verdade, apoiado no testemunho do Espírito Santo e da minha consciência. Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua, a ponto de desejar ser eu mesmo segregado por Cristo em favor de meus irmãos, os de minha raça. Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o qual está acima de todos, Deus bendito para sempre!
Evangelho
Depois da multiplicação dos pães, Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho. A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”
Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”. E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!”
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
*1. "Fé e Ação tem que estar em sintonia, senão..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
O apóstolo São Pedro sempre falava em nome do grupo, às vezes dava testemunhos belíssimos, outras vezes enfiava os pés pelas mãos. Nesse evangelho, mais uma vez Pedro é censurado por Jesus, pela sua pouca Fé.
Lembrei-me da minha infância, quando certa vez brincávamos de circo e eu cismei de equilibrar-me em uma corda grossa, atravessando de uma árvore a outra, claro que levei um tombaço e passei alguns dias com dor intensa em uma das pernas, mas por causa do medo, preferi nada dizer a meus pais.
Mas alguém da nossa turma tinha essa habilidade, e depois ele nos disse que aprendera com um artista de circo de verdade, “O Segredo é você olhar à frente e não para baixo onde está o perigo”. Pedro não se equilibrava sobre uma corda, mas andava sobre as águas, o que é humanamente impossível...
Enquanto Pedro olhava á frente, onde estava Jesus, caminhava, mas quando prestou mais atenção na ventania, daí começou a afundar. Eu acho que Pedro, sendo pescador, sabia nadar, mas o pavor era tanto que estava paralisado e não conseguia reagir.
Na vida em comunidade é exatamente assim: quando caminhamos olhando o Ressuscitado que vai á nossa frente, orientando-nos e incentivando “Vamos, caminha, não desanime, você vai conseguir, eu estou com você...” caminhamos porque cremos Nele, caminhamos porque Ele está á nossa frente, ensinando a rota, apontando-nos a meta, corrigindo-nos quando saímos fora do percurso, vejam bem que os ventos contrários não param de soprar, as Forças do Mal nunca deixarão de investir sobre a comunidade, mas com os olhos fixos em Jesus a gente vai caminhando.
Quando porém, por alguma razão desviamos nossa atenção de Jesus e perdemos o foco do nosso cristianismo, imediatamente sentimos a força do mal tentando nos destruir e virar o barco da nossa comunidade.
Isso ocorre quando achamos que certas situações que enfrentamos hoje, não têm mais jeito de se mudar, tem gente que não acredita que a Família tem jeito, tem gente achando que a juventude não têm mais jeito, tem gente achando que nem a Igreja tem mais jeito, e assim vai a esteira de pessimismo e lamentação: Vida conjugal, casamento, política, economia, está tudo irremediavelmente perdido, o Domínio da Força do Mal é uma triste realidade, não vamos conseguir reverter esse “jogo”, mas vamos continuar combatendo, só para cumprir tabela, mas o mundo não tem mais jeito não... Nossos vícios e fraquezas, aqueles pecados que vira e mexe cometemos, achamos que é mais forte que nós!
Quando esse pensamento nos domina, então começamos afundar, como Pedro, e quando achamos que a Vaca já vai indo realmente para o Brejo, clamamos por Jesus, sua mão forte, generosa, cheia de ternura, nos segura firmemente e nos arranca das Forças do Mal, quando damos por nós, estamos novamente a caminho, buscando a Santidade, lutando prá valer, combatendo o bom combate. Onde arranjamos força? No Cristo Jesus, na Eucaristia que nos abastece, na Palavra que nos liberta e nos encoraja.
Comunidade é o lugar do desafio, mas também é o lugar onde, na travessia dessa Vida, temos o Senhor junto a nós, e de joelhos dobrados o adoramos, Ele é o nosso Senhor, nosso Deus, aquele que nos conduzirá ao Porto Seguro da Vida Eterna, e os ventos contrários terão de se dobrar diante Dele... Afinal, o Mal não tem nenhuma chance contra a Igreja de Cristo, e se alguém estiver em dúvida, devemos lembrar que a Igreja de Cristo, Una, Santa Católica, já está no Terceiro Milênio de sua História. Cadê os Reinos e Impérios que investiram contra ela? Não vejo ninguém...
José da Cruz é diácono permanente da
Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim/SP
e-mail: [email protected]
*2. Presença transformadora de Jesus
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Com a expressão introdutória, "logo em seguida", Mateus articula esta narrativa da travessia do mar atormentado pelas ondas com vento contrário, com a narrativa da partilha dos pães entre Jesus, os discípulos, e a multidão.
Esta multidão empolga-se com o anúncio de Jesus e com a sua prática a favor delas. Inclinam-se a interpretá-lo como o messias prometido, segundo a tradição do judaísmo.
Este messias esperado seria um libertador nacionalista para restabelecer a glória do antigo Israel, conforme suas antigas tradições, o qual elevaria o povo judeu a um reino de poder e domínio sobre as demais nações. O evangelho de João, na narrativa paralela a esta, esclarece que a multidão queria fazer Jesus de rei.
Nem os discípulos nem a multidão percebem a dimensão libertadora e transformadora de Jesus com seu testemunho de uma nova prática de fraternidade, serviço, solidariedade, partilha, amor e misericórdia, com acolhimento a todos, descartando a reivindicação de "povo eleito". Jesus procura libertar o povo da opressão interna do próprio judaísmo, onde as elites religiosas humilham, oprimem, e exploram o povo, o que o descaracteriza como um messias no sentido tradicional.
Jesus prefere despedir as multidões sozinho e manda aos discípulos que tomem um barco em retorno ao outro lado do mar, isto é, a região de Genesaré, onde se situava Cafarnaúm. Despedida as multidões, Jesus retira-se para orar.
O evangelho de Mateus só narra dois momentos de oração de Jesus: este momento, após a partilha dos pães, e a oração de Jesus no monte das oliveiras, antes de sua prisão. Contudo Lucas, em seu evangelho, registra vários momentos de oração de Jesus. O mar é o imprevisível que ameaça a missão. Os discípulos se atemorizam diante das dificuldades do mar agitado e sentem-se só, com medo.
Embora Jesus se aproxime, eles não o compreendem logo. Em vez de sua presença real, a presença de Jesus fica mais como um ato de imaginação. Jesus andando sobre as águas se associa ao Espírito de Deus que pairava sobre as águas na criação.
Esta narrativa tem um estilo de teofania, que se caracteriza por manifestações divinas excepcionais, articuladas com manifestações milagrosas da natureza (o vento e o mar acalmados) e tem certa semelhança com a teofania da passagem de Deus diante de Elias no monte Sinai.
O temor dos discípulos e o confundir Jesus com um fantasma, indicam a incompreensão da proposta de Jesus. A fala de Jesus: "...sou eu..." lembra a revelação do nome de Deus a Moisés: Deus é o que é, o que existe e o que está presente em nossas vidas.
A vacilação de Pedro ao andar sobre as águas, entre a fé e a dúvida, induz as comunidades a compreenderem a importância de uma fé firme e decidida. Contudo, não há nada a temer. Jesus sobe na barca e o próprio vento cessa.
A narrativa encerra-se com a confissão de fé a partir da palavra e presença transformadora de Jesus.
3. EM MEIO ÀS TEMPESTADES
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
A cena evangélica desenrola-se em meio aos ventos, tempestades e ondas encapeladas, que põem em risco a vida dos discípulos, enquanto atravessam o mar da Galiléia. Além disso, é noite! A natureza toda parece ter-se colocado contra o pequeno grupo. O quê fazer neste contexto desesperador, quando todos já haviam sido tomados pelo medo?
A salvação aparece com a chegada de Jesus. Embora a tempestade continue, ele lhes recomenda a não temer, mas confiar. Quando o Mestre está com eles, podem estar seguros de que não perecerão.
A ousadia de Pedro, querendo por à prova o Mestre, acabou em fracasso. Amedrontado pelo vento furioso, começou a afundar. Sua falta de fé levou-o a duvidar da presença do Senhor. Donde o risco de quase ter sido tragado pelas ondas. Só se salvou porque recorreu a Jesus.
Este fato ilustra a vida da comunidade cristã, atribulada por perseguições, verdadeiras tempestades que devem enfrentar. Quando tudo parece concorrer para fazer a comunidade sucumbir, é preciso reconhecer a presença salvadora do Mestre. Até mesmo as lideranças, representadas por Pedro, correm o risco de perder a fé. Atitude arriscada, que pode levar a todos de roldão. Só é possível salvar-se, recorrendo a Jesus: "Senhor, salva-nos!"