Solenidade de todos os Santos
Terça-feira, 01 de novembro de 2011
Hoje, a Igreja não celebra a santidade de um cristão que se encontra no Céu, mas sim, de todos. Isto, para mostrar concretamente, a vocação universal de todos para a felicidade eterna.
"Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Todos são chamados à santidade: 'Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito' "(Mt 5,48) (CIC 2013).
Sendo assim, nós passamos a compreender o início do sermão do Abade São Bernardo: "Para que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras terrenas? A eles que, segundo a promessa do Filho, o Pai celeste glorifica? Os santos não precisam de nossas homenagens. Não há dúvida alguma, se veneramos os santos, o interesse é nosso, não deles".
Sabemos que desde os primeiros séculos os cristãos praticam o culto dos santos, a começar pelos mártires, por isto hoje vivemos esta Tradição, na qual nossa Mãe Igreja convida-nos a contemplarmos os nossos "heróis" da fé, esperança e caridade. Na verdade é um convite a olharmos para o Alto, pois neste mundo escurecido pelo pecado, brilham no Céu com a luz do triunfo e esperança daqueles que viveram e morreram em Cristo, por Cristo e com Cristo, formando uma "constelação", já que São João viu: "Era uma imensa multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas" (Ap 7,9).
Todos estes combatentes de Deus, merecem nossa imitação, pois foram adolescentes, jovens, homens casados, mães de família, operários, empregados, patrões, sacerdotes, pobres mendigos, profissionais, militares ou religiosos que se tornaram um sinal do que o Espírito Santo pode fazer num ser humano que se decide a viver o Evangelho que atua na Igreja e na sociedade. Portanto, a vida destes acabaram virando proposta para nós, uma vez que passaram fome, apelos carnais, perseguições, alegrias, situações de pecado, profundos arrependimentos, sede, doenças, sofrimentos por calúnia, ódio, falta de amor e injustiças; tudo isto, e mais o que constituem o cotidiano dos seguidores de Cristo que enfrentam os embates da vida sem perderem o entusiasmo pela Pátria definitiva, pois "não sois mais estrangeiros, nem migrantes; sois concidadãos dos santos, sois da Família de Deus" (Ef 2,19).
Neste dia a Mãe Igreja faz este apelo a todos nós, seus filhos: "O apelo à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade se dirige a todos os fiéis cristãos." "A perfeição cristã só tem um limite: ser ilimitada" (CIC 2028).
Todos os santos de Deus, rogai por nós!
Hoje: Dia de Todos os Santos
Leituras
Primeira Leitura (Romanos 12,5-16)
Leitura da carta de são Paulo aos Romanos.
Irmãos, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro.
Temos dons diferentes, conforme a graça que nos foi conferida. Aquele que tem o dom da profecia, exerça-o conforme a fé. Aquele que é chamado ao ministério, dedique-se ao ministério. Se tem o dom de ensinar, que ensine; o dom de exortar, que exorte; aquele que distribui as esmolas, faça-o com simplicidade; aquele que preside, presida com zelo; aquele que exerce a misericórdia, que o faça com afabilidade.
Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem.
Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros.
Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração.
Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade. Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis.
Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram.
Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisa modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos.
Salmo 130 /131
Guardai-me, em paz, junto a vós, ó Senhor!
Senhor, meu coração não é orgulhoso,
nem se eleva arrogante o meu olhar;
não ando à procura de grandezas,
nem tenho pretensões ambiciosas!
Fiz calar e sossegar a minha alma;
ela está em grande paz dentro de mim,
como a criança bem tranqüila, amamentada*
no regaço acolhedor de sua mãe.
Confia no Senhor, ó Israel, ó Israel,
desde agora e por toda a eternidade!
Evangelho (Lucas 14,15-24)
Naquele tempo, um dos convidados disse a Jesus: "Feliz daquele que se sentar à mesa no Reino de Deus!" Respondeu-lhe Jesus: "Um homem deu uma grande ceia e convidou muitas pessoas.
E à hora da ceia, enviou seu servo para dizer aos convidados: ´Vinde, tudo já está preparado´.
Mas todos, um a um, começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: ´Comprei um terreno e preciso sair para vê-lo; rogo-te me dês por escusado´. Disse outro: ´Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te me dês por escusado´.
Disse também um outro: ´Casei-me e por isso não posso ir´. Voltou o servo e referiu isto a seu senhor. Então, irado, o pai de família disse a seu servo: ´Sai, sem demora, pelas praças e pelas ruas da cidade e introduz aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos´. Disse o servo: ´Senhor, está feito como ordenaste e ainda há lugar´. O senhor ordenou: ´Sai pelos caminhos e atalhos e obriga todos a entrar, para que se encha a minha casa.
Pois vos digo: nenhum daqueles homens, que foram convidados, provará a minha ceia´".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Estou ocupado, tente mais tarde..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP)
Comprei um terreno... comprei cinco juntas de bois... comprar, consumir, TER... Até parece que os dois primeiros convidados especiais para a grande ceia, eram da pós modernidade, que não tem tempo para mais nada, trabalhar, negociar, produzir, comprar, adquirir, até parece que o sentido da vida está apenas nessas coisas... Agenda repleta, seminários, cursos, palestras, reuniões, encontros, planejamentos, e ninguém para se pergunta o por que de tudo isso, qual o sentido de se viver, de estar vivo e se relacionar com as pessoas?
Deus faz um convite a cada homem, para uma ceia porque tem algo especial para lhe falar, tem algo a lhe oferecer, que está acima de todas essas coisas, quer mostrar-lhe o sentido da vida, a razão do existir, quer que o homem o conheça de perto e experimente seu amor e sua graça... mas, o homem está muito ocupado e vai prorrogando a sua experiência com Deus presente em Jesus Cristo, sente algo dentro de si, parece que Deus insiste em lhe dizer algo, mas vai empurrando com a barriga, não quer parar para pensar, e nem pode, precisa produzir e consumir... para ser feliz.
Esses convidados chegaram até a pedir desculpas, tentando justificar a recusa ao convite. É o homem da pós modernidade, adepto do neo-ateísmo, em seu diálogo com esse Ser Transcendente, que ele ainda não conhece "Olha, Desculpa Senhor, eu sei que o Senhor existe, mas na minha vida não há espaço para o Senhor, tenho que estudar, trabalhar, produzir, consumir, eu sou muito especial e importante, para gastar o meu precioso tempo com religião, Igreja, comunidade... imagine eu, perder meu domingão para ir no banquete da sua Palavra e da Eucaristia..."
Já os pobres, aleijados, cegos e coxos, que faziam pontos nas esquinas e becos, nas quebradas da vida, uma gentalha desqualificada, considerada impura, que nem no templo podiam entrar e estavam longe do Deus de Israel e da sua Salvação, justamente por não serem importantes, estavam com a "Agenda Livre", e como nunca tinham sido convidados para nada, pela condição inferior, moralmente e socialmente falando, ficaram surpresos mas aceitaram o convite e como eram numerosos, encheram a casa do Homem que estava oferecendo o banquete...
Essa casa é precisamente o coração de Deus, que em Jesus escancarou-se ao homem, para nele entrar e tornar-se íntimo de Deus, em uma vida de comunhão e amor, que começa nesta vida e que se eternizará um dia....Os muito importantes, e eternamente ocupados, inclusive em nossas comunidades, sempre correm o risco de recusar o convite, porque tão ocupados estão em seus trabalhos, que não têm tempo de curtirem Deus na sua intimidade que ele nos oferece em Jesus, em um amor que nos forma, nos modela e nos transforma na relação com o próximo.
2. Pão do Reino de Deus para todos os povos
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)
Encerrando o ensino de Jesus, durante a refeição com os fariseus, Lucas apresenta esta parábola que remete ao banquete do Reino de Deus. A parábola está também no evangelho de Mateus (Mt 22,1-14), porém mais extensa, com alguns detalhes excludentes e violentos não condizentes com a índole de Jesus. O tema é, ainda, a eleição dos excluídos, porém com a característica mais particular que, aqui, os excluídos são os gentios, que passam a participar do banquete do Reino. Os que "foram convidados" são os chefes religiosos judeus, que se julgavam eleitos, e agora rejeitam o banquete por seu apego às suas tradições particulares. O pão do Reino de Deus é oferecido a todos os povos, sem limites de fronteira ou raça.
3. ESTÁ TUDO PRONTO!
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
A participação na salvação oferecida à humanidade é iniciativa de Deus, que convida e motiva cada ser humano. Entretanto, nada se resolve sem a livre decisão de quem é convidado e se empenha em dizer "sim".
Na parábola, muitos convidados recusam-se a acolher o convite do Pai. Apesar da deferência: o banquete é para eles; da gentileza: o senhor manda convidá-los pessoalmente; e da expectativa de que venham, eles se recusam a comparecer. Eram todos ricos: proprietários de terras, pecuaristas, gente de condição social. Cada qual apresentou sua justificativa. Não estavam interessados em participar do banquete. Por isso, se auto-excluíram.
Diante da recusa dos ricos, as atenções voltaram-se para os pobres, aleijados, cegos e coxos. A sala do banquete ficou repleta deles. Foi uma reviravolta formidável!
Quem está demasiadamente preocupado com seus afazeres e propriedades, falta-lhe tempo para as exigências do Reino, mas também pode ver-se definitivamente excluído dele. É impossível salvá-lo contra sua própria vontade. Só quem se torna pobre, tendo o coração desapegado dos bens materiais e sempre disponível para Deus, terá a alegria da salvação. A riqueza polariza de tal modo o coração humano, a ponto de torná-lo surdo aos apelos divinos. Já a pobreza predispõe-no a estar sempre atento, e assim poder atender, sem demora, o convite do Senhor.