Solenidade do Nascimento de João Batista

Domingo, 24 de junho de 2012


Com muita alegria, a Igreja, solenemente, celebra o nascimento de São João Batista. Santo que, juntamente com a Santíssima Virgem Maria, é o único a ter o aniversário natalício recordado pela liturgia.

São João Batista nasceu seis meses antes de Jesus Cristo, seu primo, e foi um anjo quem revelou o seu nome ao seu pai, Zacarias, que há muitos anos rezava com sua esposa para terem um filho.

Estudiosos mostram que possivelmente depois de idade adequada, João teria participado da vida monástica de uma comunidade rigorista, na qual, à beira do Rio Jordão ou Mar Morto, vivia em profunda penitência e oração. Pode-se chegar a essa conclusão a partir do texto de Mateus: "João usava um traje de pêlo de camelo, com um cinto de couro à volta dos rins; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre".

O que o tornou tão importante para a história do Cristianismo é que, além de ser o último profeta a anunciar o Messias, foi ele quem preparou o caminho do Senhor com pregações conclamando os fiéis à mudança de vida e ao batismo de penitência (por isso “Batista”). Como nos ensinam as Sagradas Escirturas: "Eu vos batizo na água, em vista da conversão; mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu: eu não sou digno de tirar-lhe as sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo" (Mateus 3,11).

Os Evangelhos nos revelam a inauguração da missão salvífica de Jesus a partir do batismo recebido pelas mãos do precursor João e da manifestação da Trindade Santa.

São João, ao reconhecer e apresentar Jesus como o Cristo, continuou sua missão em sentido descendente, a fim de que somente o Messias aparecesse. Grande anunciador do Reino e denunciador dos pecados, ele foi preso por não concordar com as atitudes pecaminosas de Herodes, acabando decapitado devido ao ódio de Herodíades, que fora esposa do irmão deste [Herodes], com a qual este vivia pecaminosamente.

O grande santo morreu na santidade e reconhecido pelo próprio Cristo: "Em verdade eu vos digo, dentre os que nasceram de mulher, não surgiu ninguém maior que João , o Batista" (Mateus 11,11).

São João Batista, rogai por nós!


Hoje:

Dia das Empresas Gráficas, Dia de São João e Dia Internacional do Leite


Leituras

Primeira leitura (Isaías 49,1-6)
Leitura do Livro do Profeta Isaías:

1Nações marinhas, ouvi-me, povos distantes, prestai atenção: o Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome; 2fez de minha palavra uma espada afiada, protegeu-me à sombra de sua mão e fez de mim uma flecha aguçada, escondida em sua aljava, 3e disse-me: “Tu és o meu Servo, Israel, em quem serei glorificado”.
4E eu disse: “Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me fará justiça e o meu Deus dará recompensa”. 5E agora diz-me o Senhor – ele que me preparou desde o nascimento para ser seu servo – que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha glória.
6Disse ele: “Não basta seres meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra”.


Salmo (Salmos 138)

— Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes!

— Senhor, vós me sondais e conheceis, sabeis quando me sento ou me levanto; de longe penetrais meus pensamentos; percebeis quando me deito e quando eu ando, os meus caminhos vos são todos conhecidos.

— Fostes vós que me formastes as entranhas, e no seio de minha mãe vós me tecestes. Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes!

— Até o mais íntimo, Senhor, me conheceis; nenhuma sequer de minhas fibras ignoráveis, quando eu era modelado ocultamente, era formado nas entranhas subterrâneas.


Evangelho (Lucas 1,57-66.80)
Natividade de São João Batista

57Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho. 58Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela. 59No oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60A mãe, porém, disse: “Não! Ele vai chamar-se João”.
61Os outros disseram: “Não existe nenhum parente teu com esse nome!” 62Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse. 63Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: “João é o seu nome”. E todos ficaram admirados. 64No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a região montanhosa da Judeia. 66E todos os que ouviam a notícia ficavam pensando: “O que virá a ser este menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele. 80E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel.


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO

1. “COMPLETOU-SE O TEMPO...”

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz - Diácono da Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP

Nossa vida de fé é marcada por muitas promessas, a primeira delas no Batismo, quando pais e padrinhos, falando por nós prometem e se comprometem em professar uma fé viva, capaz de um testemunho autêntico diante do filho ou do afilhado, e na unção crismal prometemos acolher em nossa vida o dom do Espírito Santo e deixarmo-nos conduzir por ele.

O “amém” ao receber a Eucaristia não deixa de ser também uma promessa, de viver sempre em comunhão com Jesus, e nos sacramentos da ordem ou do Matrimônio, prometemos viver um amor total de entrega e doação à Santa Igreja, ou um ao outro, na vida conjugal. Fazemos muitas promessas diante de Deus, antes de receber o sinal sacramental e sabemos muito bem, que por causa dos nossos pecados, muitas vezes quebramos promessas sagradas, quando acontecem as separações, o abandono da comunidade ou de uma vocação religiosa.

Não é de hoje que o homem não cumpre suas promessas diante de Deus, à Bíblia está repleta de relatos onde as pessoas, e próprio povo descumpriu algo prometido diante de Deus. Entretanto, não encontramos uma só palavra ou frase, no antigo ou no novo testamento, onde afirme que Deus deixou de cumprir alguma de suas promessas, feitas para o homem.

A natividade de João Batista, único santo que no calendário da Igreja, tem comemorado o seu nascimento, se reveste de fundamental importância na história da salvação, justamente por ser um elemento divisor entre o tempo chamado das promessas, e o tempo do cumprimento das mesmas.

Há na religiosidade do povo brasileiro uma prática que a modernidade não conseguiu matar: a de fazer promessas! Todas as promessas são feitas para Deus, mas com a intercessão dos santos. A história da Salvação teve início com uma promessa, feita pelo próprio Deus. Ele prometeu através de líderes como Moisés, dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, dos profetas e demais homens e mulheres de Deus.

“Terminou para Isabel o tempo da gravidez e ela deu a luz um filho...”. Este não é um nascimento qualquer de um israelita, Lucas faz questão de salientar que se completou o tempo de gestação, o tempo de espera, e o útero de Isabel, antes estéril e incapaz de gerar vida, tocado por Deus torna-se fértil, simbolizando de repente o coração de todo um povo, cansado de sofrer, de andar por caminhos errados, por atalhos que só levavam à morte, guiados por falsos líderes, toda a esperança que este povo guardava no coração nas promessas de Deus, irrompe agora como um lençol d’água que fura a rocha e flui à flor da terra, para saciar os sedentos de esperança e de vida nova.

João Batista é a resposta de Deus aos anseios do povo, após um silêncio de quase três séculos! Inspirados por Deus, todos os profetas haviam falado deste tempo novo, para consolar e fortalecer um povo desiludido, desmotivado, esmorecido e sem esperança, certamente esses profetas foram tidos como loucos, sonhadores, fantasiosos, mas muitos guardaram no coração essas promessas, e souberam transmiti-las de geração em geração, sem deixar morrer a esperança, o próprio Zacarias, sacerdote do templo e pai de João Batista, faz parte deste povo que espera, seu nome significa “Deus se recordou”.

A sua súbita mudez, longe de ser um castigo, é prenúncio do tempo feliz que com ele irá se iniciar, e ao apresentar a criança no templo, para ser circuncidado como era costume, ele confirma o nome de “João” que significa “Aquele que anuncia” e recuperando a voz, glorifica a Deus que visitou o seu povo.

Que significado tem, para nós cristãos, a celebração do nascimento de João Batista neste 24 de Junho? Se ficarmos apenas na popularidade e nos festejos joaninos típicos desta data, iremos nos divertir muito, mas certamente não iremos aprender nenhuma lição.

O nosso povo, tanto quanto aquele povo de Israel, em meio aos sofrimentos físicos e morais, também têm guardado no coração essa esperança, de que um dia o bem supremo irá triunfar sobre as forças do mal, é verdade que conforme os dias vão passando, as vezes o desânimo vai tomando conta do coração de muitos que perderam a crença em Deus, no amor e na própria vida, são certas promessas mirabolantes que nunca se realizam, são líderes charlatães que iludem, enganam, roubam. São lideranças religiosas que não cumprem e nem honram seu papel de ministros de Deus, criando uma religião fantasiosa, que explora e cria tantas ilusões.

João vislumbra algo que ninguém tinha ainda vislumbrado: que o reino já estava no meio dos homens, na pessoa e na missão de Jesus de Nazaré. Anuncia a necessidade de uma mudança de mentalidade e de coração, para acolher este reino novo, que não se fundamenta em mentiras e fantasias, mas na Verdade que é Jesus Cristo, o Cordeiro que tira o pecado do mundo.

Olhando para a origem de João, seu nascimento e a missão de precursor do Messias, que Deus lhe confiou, podemos refletir sobre tais acontecimentos à luz do evangelho, e mais do que refletir, já está na hora de vivermos esse evangelho, que fala de um tempo novo, de um reino que já está entre nós e que consegue restituir ao coração humano toda essa Esperança que é Jesus de Nazaré, pois como João Batista, todos nós nascemos para ser os portadores e anunciadores dessa Boa Nova, ao homem descrente deste terceiro milênio.

2. Missão profética de João e de Jesus

(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva - e disponibilizado no Portal Paulinas)

Os evangelhos, na medida em que procuram resgatar e interpretar memórias da vida de Jesus, apresentam semelhanças com as antigas biografias de profetas e de filósofos. O evangelho de Marcos, o mais antigo dentre os canônicos, apresenta a história de Jesus começando com o batismo de João e terminando, após a crucifixão de Jesus, com o encontro do túmulo vazio pelas mulheres. Um anexo tardio apresentará narrativas de aparições, extraídas dos outros evangelhos. O evangelho de Mateus, escrito cerca de uma década depois de Marcos, amplia a história de Jesus, apresentando, de início, narrativas relativas à concepção, nascimento e infância de Jesus, bem como, na parte final, narrativas de aparições do Ressuscitado, após o encontro do túmulo vazio. Este esquema é também adotado por Lucas.

Contudo, Lucas, de maneira original, começa seu evangelho com os anúncios das concepções de João, feitos a Zacarias, esposo de Isabel, e de Jesus, feito a Maria, apresentando, em seguida, as narrativas do nascimento dos dois. Com esta aproximação dos dois meninos, desde suas origens, Lucas procura acentuar, de maneira convincente, a íntima relação entre as missões proféticas de João e de Jesus. Esta relação é reafirmada pelos quatro evangelistas, no encontro de Jesus com João Batista, com a recepção de seu batismo, seguindo-se o início do ministério de Jesus, cujo anúncio da chegada do Reino e apelo à conversão assemelham-se aos do Batista. No Segundo Testamento, depois do nome de Pedro, o nome de João Batista é o que mais aparece nos textos, ultrapassando muito as demais ocorrências dos nomes dos próprios apóstolos.

Zacarias era sacerdote do Templo de Jerusalém. João, filho único, deveria receber o nome do pai, bem como manter a sua linhagem sacerdotal hereditária. Contudo, conforme o anúncio do anjo, o nome que lhe dão é João. Um nome diferente que já prenuncia a ruptura com o sacerdócio e com o Templo de Jerusalém. João atuará como profeta, nas regiões desérticas da Judeia, longe de Jerusalém.

Chamado desde o seio materno para sua missão profética, João foi associado ao servo do livro de Isaías (primeira leitura). Ele abre os horizontes para a missão universal de Jesus, sem fronteiras nacionalistas ou raciais. João se caracteriza pelo seu batismo de conversão (segunda leitura). É a conversão à justiça, pelo que o pecado é superado. Jesus, assumindo em si todos os valores humanos, proclama a conversão à justiça como o caminho para ingresso no Reino de Deus, já presente entre nós. É o mundo novo, revestido de imortalidade e eternidade, no amor e na misericórdia.

3. SOB A PROTEÇÃO DO SENHOR

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).

O texto evangélico sublinha a intensa manifestação divina nos fatos ligados ao nascimento de João Batista, a quem seria confiada a tarefa de preparar os caminhos do Messias Jesus. E isto, a tal ponto que, por toda a redondeza, espalhou-se um temor divino, levando o povo a se perguntar: "O que será que esse menino vai ser?".

A mudez inexplicada de seu pai Zacarias foi um evidente indício de que algo maravilhoso estava acontecendo. Ele só voltou a falar quando cumpriu a ordem divina de dar ao filho o nome de João, que significa "Deus é favorável", embora sua parentela julgasse que o mais normal seria chamá-lo de Zacarias, como o pai.

O parto de Isabel também foi interpretado como "demonstração de uma grande misericórdia do Senhor" para com ela. De fato, sem a ajuda divina jamais poderia conceber e dar à luz, dado a sua idade avançada e sua esterilidade.

A proteção divina dispensada a João Batista enquadrava-se no projeto de Deus de confiar-lhe a tarefa de preparar o povo para acolher o Messias, predispondo-o à conversão. A gravidade desta tarefa exigia que fosse "robustecido" pelo próprio Espírito, de modo a capacitar-se para o cumprimento do desígnio divino.

João Batista soube corresponder à ação do Espírito. Sua vida haveria de ser um testemunho fulgurante de temor a Deus, de cujos caminhos jamais se desviou, mesmo devendo padecer o martírio.