Alimentação infantil: Vilões em pele de Heróis

Pesquisa do - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - Idec verifica que personagens infantis estampam as embalagens de alimentos ricos em gorduras e sódio
Idec
Não há dúvida de que tal recurso chama a atenção dos pequenos Não há dúvida de que tal recurso chama a atenção dos pequenos

Quer saber quais são os personagens que estão fazendo sucesso entre a criançada? Para isso não é preciso ligar a TV no horário da programação infantil ou num canal pago voltado para esse público, tampouco procurar pelos últimos filmes de animação no cinema. Basta ir ao supermercado mais próximo: os super- heróis e protagonistas dos desenhos animados do momento estão todos lá, estampando as embalagens de uma série de alimentos.

Não há dúvida de que tal recurso chama a atenção dos pequenos. O problema é que ele é usado indiscriminadamente em biscoitos, bolinhos, salgadinhos, pós para o preparo de sobremesas (como gelatinas) e macarrões instantâneos - produtos repletos de sódio (sal), gordura saturada e, em alguns casos, gorduras trans. Foi o que verificou recente pesquisa do Idec que avaliou a qualidade nutricional de alimentos industrializados com algum apelo ao público infantil na embalagem, como personagens e jogos. O levantamento foi feito com 44 produtos, de 27 marcas (veja quais são eles no quadro abaixo).

O consumo desses alimentos, aliado ao sedentarismo, está associado ao aumento do número de casos de sobrepeso e obesidade, cada vez mais frequentes na população brasileira, e que, por sua vez, estão ligados a enfermidades crônicas como hipertensão, diabetes, doenças coronarianas e hepáticas. E quem pensa que os pequenos estão livres desse quadro, que já é considerado epidêmico pelas autoridades de saúde, infelizmente, está enganado. A última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), cujos resultados foram divulgados em agosto deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em 2009 uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estava acima do peso recomendado para a sua faixa etária pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Apesar desse quadro preocupante, muitos pais não sabem que os alimentos que chamam a atenção de seus filhos são tão prejudiciais à saúde. Isso porque as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a rotulagem nutricional dos produtos não facilitam a compreensão da maioria dos consumidores, inclusive por adotar como referência a dieta de um adulto, mesmo em produtos cujo público-alvo, evidentemente, é a criança - como os pesquisados.

PESQUISA

Assim, o levantamento do Idec aponta para a necessidade de os pais redobrarem os cuidados com o consumo desses produtos pelos pequenos e também de a Anvisa revisar a legislação de rotulagem para garantir informação clara sobre o valor nutritivo dos alimentos, levando em conta que a embalagem é o primeiro instrumento de marketing dos produtos, e como tal, deve sofrer restrições quando oferecer risco à saúde dos consumidores - principalmente das crianças. O pior de tudo é que mesmo a recente resolução da Anvisa (RDC no 24/2010), que tratava da publicidade de alimentos - e que foi suspensa pela Justiça no fim de setembro -, sequer mencionava a questão da rotulagem.

A fim de verificar a qualidade nutricional dos alimentos industrializados voltados ao público infantil, foram pesquisados 44 produtos com embalagens que trazem personagens do universo infantil, que servem de apelo para atrair as crianças. A avaliação foi feita com base nas informações disponíveis no rótulo dos produtos a partir dos parâmetros que constam do semáforo nutricional proposto pela agência reguladora de alimentos do Reino Unido. Também foi feita avaliação de acordo com os parâmetros da RDC no 24/2010 da Anvisa para definir as quantidades de açúcar, sódio, gorduras saturada e trans consideradas excessivas nos alimentos. A RDC, no entanto, tem por objetivo regular a publicidade dos alimentos e não trata da rotulagem nutricional. Dessa forma, os parâmetros não são uma "norma" a ser seguida pelas empresas, mas apenas uma referência do que é saudável e do que não é.

Os itens avaliados pertencem a 20 empresas, sendo que sete delas são membros da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) e assumiram compromisso público de autorregulamentação da publicidade dirigida ao público infantil. São elas: Adria (marca Nikito), Arcor (marcas Triunfo e Danix), Bauducco (marca Visconti), Kellogg (marca Kellogg's), Kraft Foods (marcas Trakinas e Royal), Nestlé (marcas Passatempo, Tostines, Estrelitas, Nescau e Snow Flakes) e Pepsico (Elma Chips). As demais empresas cujos produtos foram avaliados são: Apti (Apti), Bimbo (Ana Maria), Casa Suíça (Casa Suíça), Doceria Campos do Jordão (Santa Edwiges), Dr. Oetker (Dr. Oetker), Ducoco (Frutop), Gelberg (Da Barra), Glico (Ebicen), J. Macêdo (Dona Benta), Marilan (Turmix), Nissin-Ajinomoto (Nissin e Nissin-Lámen), Pastifício Selmi S/A (Renata) e Yoki (Yoki).


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