Celular volta a poder causar câncer, diz OMS
Pesquisa da OMS com a IARC afirma que celulares são "possivelmente cancerígenos". Há um ano, outra pesquisa da OMS afirmava o contrário
Da Época
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC) afirmaram nesta terça-feira (31) que o uso de celulares pode trazer um "possível" risco de câncer cerebral em seres humanos. De acordo com as organizações anunciaram, os campos eletromagnéticos gerados pelas radiofrequências desse tipo de dispositivos são considerados "possivelmente cancerígenos para os humanos". Embora não tenham quantificado o risco, o grupo de trabalho disse que o estudo, com dados até 2004, detectou aumento de 40% no risco de gliomas, um tipo maligno de câncer cerebral, entre os usuários que utilizam celulares em média 30 minutos por dia em um período de dez anos.
Por conta de evidências obtidas sobre o impacto desses campos eletromagnéticos na origem dos gliomas, a OMS e a IARC decidiram classificar os celulares na categoria “2B”. O grupo "2B" inclui os agentes com "evidência limitada de carcinogênese em humanos" e o "2A" aqueles que são "provavelmente cancerígenos" para os humanos. Estas categorias são algumas das que a IARC utiliza para identificar fatores ambientais que podem aumentar o risco de câncer em seres humanos, como substâncias químicas e agentes físicos e biológicos, entre outros. No primeiro grupo, o "1", a IARC inclui agentes com "evidências suficientes" que são cancerígenos.
A OMS e a IARC afirmaram, no entanto, que as evidências do risco de câncer são "limitadas" para os usuários de celulares, o que significa que há uma "associação positiva" crível entre a exposição ao agente e o câncer, mas que não é possível excluir outros fatores. "Poderia haver algum risco e, portanto, temos de vigiar de perto o vínculo entre os celulares e o risco de câncer", disse Jonathan Samet, da University of Southern Califórnia, responsável pelo grupo de trabalho formado pela OMS e a IARC. Christopher Wild, diretor da IARC, acrescentou que, "dadas às potenciais consequências destes resultados e desta classificação para a saúde pública, é importante que se investigue mais a longo prazo o uso intensivo de celulares".
A ligação entre câncer no cérebro e celulares é uma discussão que já dura anos. Em março de 2010, um estudo da própria OMS afirmou que não há provas de que o uso do celular por até 10 anos cause câncer. Na época, Wild, da IARC, afirmou que os dados colhidos pelo estudo não indicavam relação entre o aumento do risco de câncer de cérebro e o uso do celular, mas que os estudos deviam continuar, principalmente por conta das mudanças nos padrões do uso do aparelho entre os jovens. Em agosto de 2010, a epidemiologista Devra Davis afirmou a ÉPOCA que “há muitas formas de cozinhar os dados de uma pesquisa e invalidá-los”. De acordo com a americana, ninguém sabe, por exemplo, o efeito do celular no cérebro infantil.