Juventude perde o rumo e vai da Série A à D em três anos
Equipe gaúcha, que passou 13 anos na elite e fez história no Gaúchão e na Copa do Brasil, vai disputar a quarta divisão em 2011
Do globoesporte.com
A queda foi vertiginosa. Após penar para se manter na elite no estadual gaúcho, o Juventude fecha 2010 como um ano para ser definitivamente esquecido. Rebaixado à Série D do Campeonato Brasileiro ao empatar com o Criciúma neste domingo, o Ju, escreve o capítulo mais triste de sua história. E, por dias melhores na próxima temporada, o presidente Milton Luiz Scola promete ‘cortar a própria carne’.
A principal preocupação para a próxima temporada é o balanço financeiro. Scola afirma que o clube já estava preparado para a possibilidade de uma nova queda do futebol, e que será preciso fazer cortes drásticos.
- O problema é levar mais um ano para chegar na B e ficar com o calendário prejudicado. Quando entramos nesta competição, nos preparamos para subir, mas sabíamos que poderíamos ficar e também cair. Sempre analisamos as três possibilidades. Cada uma tinha seu orçamento. E vamos adaptar o nosso àquela que nos coube. Vamos ter de cortar na carne. O enxugamento que houve este ano foi moderado perto do que teremos de fazer.
Para manter as contas em dia, o presidente cogita mexer no modelo de gestão das categorias de base. Formador de joias como o jovem Zezinho, meia da Seleção Brasileira sub-20 e atual atleta do Santos, o Juventude pode perder alguns talentos para o mercado. E com aval da diretoria.
- O Juventude é um clube formador. Talvez tenhamos que trocar o modelo, não as pessoas. Mas categoria de base tem que dar receita, não títulos – disse, referindo-se à boa campanha do clube na Copinha e ao título do Campeonato Gaúcho de Juniores, conquistado nesse ano em cima do rival Caxias.
Candidato à reeleição, Scola quer uma oportunidade para recuperar o prestígio do clube. O dirigente assumiu a responsabilidade pelo terceiro rebaixamento em quatro anos, mas fez uma avaliação positiva de seu mandato.
- Acho que fizemos um trabalho na montagem do grupo, de cuja qualidade ninguém duvida. Como os resultados iniciais não vieram, este grupo jogou sempre pressionado. Todos os presidentes anteriores tiveram chance de se recuperar, então também quero a minha.
Tempos de glórias
Nos tempos áureos, em meados da década de 90, o clube de Caxias se tornou figurinha carimbada na elite do futebol brasileiro. Após assinar contrato de patrocínio com uma multinacional, a mesma que levou o Palmeiras a grandes conquistas no mesmo período, o Juventude cresceu e apareceu no cenário nacional após conquistar a Série B em 1994. No ano seguinte, chegou à primeira divisão, de onde só saiu 13 anos depois, ao ser rebaixada em 2007.
Durante este período, o Ju conquistou seus principais títulos. Em 1998, acabou com um jejum de 59 anos sem títulos do interior e sagrou-se campeão gaúcho, ao empatar com o Internacional, em pleno Beira-Rio. O treinador daquele time era Lori Sandri, que não se cansa de elogiar os campeões gaúchos daquele ano e revela que tentou levar o goleiro Marcos, do Palmeiras, para o clube.
Quando assumi em janeiro, fomos a São Paulo tentar alguns jogadores com a nossa parceira. Pedimos três jovens do Palmeiras, que não eram aproveitados. Entre eles o goleiro Marcos - revelou o treinador. A resposta, porém, foi negativa. Segundo Lori, a princípio, a ideia não era montar uma equipe forte.
Me falaram que se a gente não caísse estava bom.
No Gaúchão, no entanto, a equipe surpreendeu.
Tínhamos um conjunto muito forte. Na volta a Caxias, fomos recebidos por toda a cidade e os jogadores desfilaram em um carro do Corpo de Bombeiros. Tudo parou. Foi maravilhoso.
No ano seguinte, a maior glória: no dia 27 de junho de 1999, um 0 a 0 com o Botafogo, diante de mais de 100 mil pessoas no Maracanã, deu ao clube gaúcho o inédito título da Copa do Brasil (veja os gols das vitória alviverde no jogo de ida, por 2 a 1, no Alfredo Jaconi, no vídeo ao lado). Treinador na época, Valmir Louruz relembra com carinho dos momentos em que passou no clube.
Foi um grupo especial. Tínhamos vários jogadores rodados, mas todos entenderam o projeto. Conquistar aquele título no Maracanã foi muito emocionante. Enfrentamos várias adversidades e a torcida do Botafogo pressionou até o fim. – disse o treinador, que considera o título da Copa do Brasil como auge da sua carreira. – Após participar das Olimpíadas (comandou a seleção do Kuwait em Barcelona), achei que não viveria algo maior no futebol. Mas aquela conquista foi algo muito forte. – declarou Valmir, que iniciou a carreira de técnico no Juventude, em 1980.
A conquista deu o direito de disputar a Libertadores no ano seguinte. Entretanto, a participação não foi boa, e o clube foi eliminado na primeira fase, em um grupo que ainda contava com Palmeiras, El Nacional do Equador e do The Strongest da Bolívia.
O último ano de destaque no cenário nacional aconteceu em 2002. Sob o comando de Ricardo Gomes, o clube liderou boa parte do Campeonato Brasileiro, terminando a primeira fase na quarta colocação. Nas quartas de final, no entanto, foi eliminado pelo Grêmio. A boa campanha na competição levou o treinador a assumir a seleção olímpica em 2003.
Rebaixamentos e fundo do poço
Nos anos seguintes, o Juventude foi perdendo destaque na Série A e acabou rebaixado em 2007. Em 2008, ainda chegou à decisão do Campeonato Gaúcho. Porém, após derrotar o Internacional por 1 a 0 no Alfredo Jaconi, sofreu uma goleada história por 8 a 1 no jogo de volta e ficou com o vice-campeonato. No ano passado, após péssima campanha na Série B, caiu para C, de onde saiu neste domingo, rumo à quarta divisão do futebol nacional.
Seja o primeiro a comentar!