Dilma e Serra trocam acusações e focam privatização em debate


reuters
Os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) Os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB)

Os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) trocaram duras acusações sobre privatização e denúncias de corrupção durante debate promovido pela TV Record, encerrado na madrugada desta terça-feira, que contou também com acenos na área ambiental e para a região Nordeste.

Serra, acusado sistematicamente por Dilma de promover, se eleito, desestatizações, partiu para o ataque ao apontar que Dilma "privatizou" blocos de exploração de petróleo por conta dos leilões de concessão realizados durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ela ocupava a presidência do conselho de administração da Petrobras. A petista rebateu e voltou a afirmar que, se eleito, o tucano privatizará a Petrobras e o petróleo da camada pré-sal.

"Eles estão querendo privatizar o filé mignon", acusou Dilma ao se referir ao pré-sal, que também classificou como "bilhete premiado" e "passaporte para o futuro." Serra, que tem reiterado em sua propaganda na TV que não pretende privatizar a estatal, chamou a adversária de profissional da arte da mentira.

"Na verdade, ela inventa, fabula. Porque, como não tem como me atingir, pela minha ação administrativa, pela retidão da minha vida pública durante 40 anos, então ela vem e fica criando fantasias, fazendo espuma, fazendo mitos", acusou o tucano, que ouviu da petista a acusação de que estaria tentando "enrolar" o eleitor com seu "trololó", expressão repetida pelo tucano durante a atual campanha.

A ética apareceu logo no primeiro bloco do debate quando o tucano lembrou que a ex-ministra-chefe da Casa Civil e ex-assessora de Dilma, Erenice Guerra, prestou depoimento à Polícia Federal na segunda-feira, horas antes do embate televisivo, sobre a investigação de tráfico de influência que teria sido cometido por ela e familiares.

A petista rebateu ao citar o caso do ex-diretor da Dersa, estatal paulista responsável pelas estradas, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, que é acusado de desviar contribuição supostamente de caixa dois da campanha de Serra.

"De fato a ex-ministra Erenice depôs na Polícia Federal. O que dizer do Paulo Preto, que só não depõe, mas quando te ameaça, vocês recuam, encobrem e escondem?", afirmou a petista.

Ela se referia ao episódio em que Serra disse desconhecer o ex-diretor da Dersa e, no dia seguinte, após o ex-dirigente da Dersa fazer declarações em tom ameaçador, reconheceu que conhecia o ex-funcionário. Posteriormente, Serra justificou dizendo que foi perguntado se conhecia Paulo Preto, apelido que ele disse desconhecer e que considerou "preconceituoso e racista".

"Isso é um assunto fantasioso," reagiu Serra, que acusou Dilma de tentar "mostrar que é todo mundo igual na política." "Mas não é não", disse o tucano, que repetiu a estratégia de sua campanha de buscar vincular Dilma com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cassado em 2005 e acusado de chefiar o esquema do mensalão.

DESMATAMENTO ZERO

De olho em parte dos quase 20 milhões de votos obtidos pela ex-presidenciável do PV Marina Silva, Serra e Dilma procuraram fazer apelos na área ambiental e o tucano chegou a se comprometer com desmatamento zero da Amazônia.

Recentemente, durante evento de campanha, Dilma foi pressionada por integrantes do Greenpeace a assinar um compromisso de zerar a devastação da floresta. A petista, no entanto, se recusou, e sinalizou que seria uma promessa impossível de ser cumprida.

O tucano, por sua vez, não só se comprometeu com a meta, como também mencionou o PV e a própria Marina ao citar que o Estado de São Paulo entrou com uma ação contra a Petrobras pela qualidade do diesel comercializado pela estatal e que concordou com Marina ao defender que o Brasil participasse de um fundo para ajudar a combater as mudanças climáticas.

O tucano e a petista também fizeram acenos para a região Nordeste, onde Dilma venceu em todos os Estados no primeiro turno da eleição presidencial e permanece na frente nas pesquisas de segundo turno.

Serra acusou a adversária de tratar a região "com um certo desdém" e ouviu dela a acusação de que não conhece suficientemente bem o Nordeste.

"Nunca mais o Nordeste, ao menos no meu governo, se Deus quiser, nunca mais será tratado como região de segunda classe", revidou Dilma.

Ela foi pressionada pelo tucano sobre sua relação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que Serra classificou de "movimento político que usa a reforma agrária como pretexto".

A petista se defendeu ao afirmar que "o MST é uma coisa e nós somos outra" e que não trataria os movimentos sociais com violência.

Dilma também pressionou o tucano ao perguntar duas vezes sobre a diferença na geração de empregos nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula, 15 milhões contra 5 milhões, segundo a petista.

Serra só respondeu na segunda vez e atribuiu o crescimento de vagas ao aumento da fiscalização realizada após a união da Receita Federal e o órgão que arrecadava para a Previdência Social.

"Ela confunde formalização com criação de empregos", disse, resposta que não satisfez a petista.

O debate na Rede Record foi o penúltimo entre os presidenciáveis neste segundo turno. Serra e Dilma voltam a se enfrentar na próxima sexta-feira em debate promovido pela Rede Globo, o último antes da eleição do próximo domingo.


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